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No Dia do Choro, vamos saudar Jacob do Bandolim, agora com obra completa editada, incluindo 15 composições inéditas

Redação Publicado em 23/04/2012, às 08h34 - Atualizado às 08h56

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Jacob do Bandolim - Reprodução
Jacob do Bandolim - Reprodução

Por Cláudia Boëchat

Todas as partituras das músicas compostas pelo mestre Jacob do Bandolim estão editadas e impressas nos dois volumes de Caderno de Composições – Obra completa do Jacob do Bandolim, lançado agora, quase cem anos depois de seu nascimento. Se estivesse vivo, Jacob teria 94 anos. Morreu cedo, aos 51, para tristeza de todos nós. Esse Caderno é fruto de uma pesquisa de cinco anos feita por especialistas (pesquisadores e músicos) em acervos do artista, em outros particulares e públicos. Há partituras retiradas de transcrições de gravações e manuscritos de Jacob. Foi lançado pelo Instituto Jacob do Bandolim em parceria com o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (vinculado à Secretaria de Estado de Cultura), e com a Editora Irmãos Vitale.

“O Vôo da Mosca”:

Neste 23 de abril, no Dia Nacional do Choro, vamos festejar esse lançamento e falar um pouco de Jacob Pick Bittencourt, que nasceu em de fevereiro de 1918, no Rio de Janeiro, viveu na Lapa e seu primeiro instrumento não foi um bandolim ou um violão. Foi um violino que aprendeu tocar ouvindo, ainda criança, um vizinho francês. Ganhou o instrumento da mãe, aos 12 anos, mas insistia em deixar o arco de lado e usar grampos de cabelo para tocá-lo. A família logo percebeu que não era o instrumento adequado para o garoto e deu a ele um bandolim. Aí, sim, o talento floresceu. Tocar bandolim passou a ser a coisa mais importante de sua vida.

“Noites Cariocas”:

Fez carreira no rádio – principal veículo de comunicação da época –, acompanhou muita gente bamba, mas só foi gravar seu primeiro disco como solista em 1947, pela gravadora Continental. Era um 78 rpm que, além da valsa “Glória” de Bonfiglio de Oliveira, um grande sucesso, já tinha um choro de sua autoria, “Treme Treme”, feito em homenagem ao manjar – acredite! De acordo com a discografia dele, registrada no Instituto Jacob do Bandolim, teve 51 discos de 78 rpm, 5 de 45 rpm, 1 compacto simples (33 rpm) e 38 LPs. Após sua morte, outros 16 Lps foram lançados. Somam-se a todos esse mais 26 CDs. Nessa lista estão incluídos alguns discos de outros artistas nos quais Jacob tocou como solista. Fantástico, né? No Caderno de Composições – Obra completa do Jacob do Bandolim há 130 partituras de músicas suas, incluindo as 15 inéditas.

“Treme Treme”:

A mulher que escolheu para viver por toda a vida foi Adylia Freitas, com quem se casou em 1940 e teve 2 filhos: Sergio e Elena Freitas Bittencourt, ambos falecidos. Elena foi quem fundou o Instituto Jacob do Bandolim e, entre as composições inéditas do pai está uma com o seu nome.

“Assanhado”:

Além de cuidar da família, Adylia assumiu uma outra tarefa bastante especial. Era ela que ajudava o marido a organizar o seu gigantesco acervo musical que hoje está no MIS (Museu da Imagem e do Som) do Rio de Janeiro. Ele possuía mais de mil discos, mais de mil livros e revistas, 5.458 partituras, 34 cadernos manuscritos de choro, 122 fitas de rolo, microfilmes, centenas de fotos, instrumentos e até fichas de registro de imóveis. Está tudo no MIS.

“Tatibitate”:

A primeira música composta por Jacob foi “Si Alguém Soffreu” (sic), um samba gravado por Araci de Almeida no auge da carreira, em 1939. Jacob tinha apenas 21 anos. O MIS tem um áudio dessa canção e supõe-se que é Jacob quem toca o bandolim (ouça ao final do texto).

Foi nos braços de Adylia que Jacob faleceu, no dia 13 de agosto de 1969, aos 51 anos, depois de fazer uma visita a Pixinguinha. Já chegou em casa mal e morreu na varanda, nos braços da mulher. Seu coração já havia dado sinais de fraqueza. O primeiro infarto teve no palco, quando se apresentava no Teatro Casa Grande, no Rio, para uma plateia jovem. Jacob se surpreendeu e se empolgou ao receber aplausos da juventude. Até demais. O coração falhou quando começava a tocar “Murmurando (Fon Fon)”. Contudo, todos dizem ter sido uma apresentação antológica do mestre chorão.

“Murmurando (Fon Fon)”:

Quando completaria 60 anos de idade, Sérgio, seu filho jornalista, escreveu um texto emocionante sobre o pai. Recomendo a leitura. Está entre os depoimentos do site jacobdobandolim.com.br.

“Choro de Varanda”:

Composições inéditas

“Estímulo nº 1”: estudo para bandolim composto em homenagem ao Dr. Arnoldo Veloso, seu médico e bandolinista de Brasília;

“Elena”: valsa dedicada a sua filha Elena Bittencourt;

“Longe dos carinhos teus”: samba;

“Meu Viveiro”: choro;

“No jardim – Mazurca”: composta em 15 de março de 1968, em Brasília;

“Mimosa”: valsa;

“Mimoso”: choro encontrado no acervo de Pixinguinha no Instituto Moreira Salles;

“No Teatro d’Alma”: valsa composta em parceria com Pedro Caetano;

“Valsa”: composta em parceria com Waldo Abreu, em 23 de outubro de 1966, à 1h30min (conforme anotação do próprio Jacob);

“Mulher Vaidosa”: samba em parceria com Torres Homem;

“Para Encher Tempo”: choro;

“Pensando em Você”: único tango brasileiro composto por Jacob;

“Minha Saudade”: valsa;

“Chuva de Estrelas”: única parceria com o bandolinista paulista Amador Pinho (raridade!).

“Bonicrates de Muletas” (com Biliano de Oliveira):

“Mimosa”:

O Dia Nacional do Choro é comemorado em 23 de abril desde o ano de 2000, por iniciativa do também bandolinista Hamilton de Holanda. A data foi escolhida porque é o dia do nascimento de Pixinguinha (1897-1973). Para finalizar, vamos ouvir Jacob do Bandolim tocando Pixinguinha e um outro grande chorão, Waldir Azevedo:

“Lamento” (Pixinguinha):

“Brasileirinho” (Waldir Azevedo):

Para falar com Cláudia Boëchat, envie um e-mail para claudia.boechat@rollingstone.com.br