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Diário de viagem: Aldo, the Band narra as aventuras da banda na Europa

Carteiras perdidas, falta de cueca limpa, amigdalite: a viagem teve de tudo

Aldo, the Band Publicado em 13/06/2016, às 18h33 - Atualizado às 19h00

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André Faria no Primavera Sound - Cristina Streciwik
André Faria no Primavera Sound - Cristina Streciwik

O grupo paulistano Aldo, the Band passou o fim de maio e começo de junho viajando pela Europa, tendo inclusive participado do line-up do cobiçado Primavera Sound, em Barcelona, Espanha. Eles registraram toda a aventura e, abaixo, relataram como foram esses dias intensos.

São Paulo-Portugal – 23/05

Começou tudo bem, tirando o fato de o André [Faria] ter para o aeroporto direto do pronto-socorro. O ritmo dos shows anteriores, incluindo uma abertura bombástica para o Planet Hemp no Festival Bananada, apenas três dias antes da viagem, fez a resistência dele cair. Resultado: amigdalite brava. Literalmente saímos do Hospital Samaritano com um coquetel de remédios debaixo do braço, rumo diretamente ao Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Lisboa – 24-28/05

Que puta cidade legal! Como nosso baterista Erico [Theobaldo] já morou lá, sabíamos exatamente aonde ir, o que comer e beber (menos o André, que ainda estava nos antibióticos). No primeiro dia demos uma volta pelo bairro alto, comemos na Casa das Índias, um restaurante local que vale a dica: serve almoço o dia inteiro e ainda faz o melhor polvo e a melhor alheira da cidade, tudo com um preço perfeito para quem sai em turnê. Terminamos o dia (assim como todos os outros) no Pavilhão Chinês, um bar-casa-de-chá-e-sinuca de um colecionista, onde rolava muito Nirvana, Guided by Voices, Massive Attack e Modest Mouse em meio a bonequinhos, capacetes e bandeiras da Segunda Guerra Mundial.

No dia seguinte fomos conhecer o pessoal do festival e o local do show, onde fizemos uma sessão de fotos. Foi tudo uma parceria entre os festivais Do Sol (Natal), Bananada (Goiânia) e a casa Musicbox, um dos lugares mais maneiros da Europa. O pico fica embaixo de uma ponte no bairro do Chiado, com um sistema de som impecável. A maior surpresa foi conhecer o Hélio Morais, baterista da PAUS, uma das bandas independentes mais criativas de Portugal. A afinidade foi tanta que resolvemos convidá-lo para uma participação especial no show do dia seguinte. Uma grande sorte que demos foi que nosso hotel ficava na mesma quadra da Musicbox. Foi o melhor dos mundos: acordar, encher a pança de pastel de Belém (Snake, nosso baixista, comeu 5) e ir passar o som.

Chegou o dia do show. Tudo certo, com exceção do Hélio, nosso super convidado, que não chegava. Ficou todo mundo aflito. Nós, os organizadores, o Legendary Tiger Man, que também ia tocar. Até que, de repente, aparece o Hélio todo ensanguentado e ralado. Tinha acabado de ser atropelado de bicicleta. “Nada muito sério”, disse ele, que foi passar o som segurando a roda da bike completamente amassada. O show foi fodástico, casa lotada, amigos que moram em Lisboa, desconhecidos, jornalistas. O André já havia recuperado a voz. E o melhor: na sequência ainda tinha O Terno com um puta show e nossos brothers do Water Rats tinham acabado de chegar para uma boa bebedeira. No dia seguinte vimos os shows dos nossos amigos do Inky e do Water Rats e terminamos a noite no clube A Capela, escutando minimal e já planejando a ida para Liverpool.

Liverpool – 28-30/05

Acordamos, pegamos um avião até Manchester e depois um trem até Liverpool. Chegamos no hotel e já fomos direto para o credenciamento. Demos uma andada pelo festival, que já havia começado, e que surpresa! Era simplesmente incrível. Ao chegar por lá, em 5 minutos vimos um inglês bagunceiro ser preso por desacato, uma menina mostrar os seios na plateia e descobrimos que nessa mesma noite teria uma apresentação de uma das bandas preferidas do Mura, o Leftfield. O único impasse era a cerveja artesanal de 5 libras, fora do backstage. A diária de alimentação virou diária de “bebeção”.

No dia seguinte era o dia do show: estava todo mundo concentrado, dentro do que a ressaca permitia. Tão legal quanto os palcos principais nos grandes festivais são as tendas. Um lugar fechado e mais aconchegante. A nossa se chamava “Male Chimp”, um inferninho entre os dois palcos principais. A grande sorte foi que o festival tuitou a respeito nosso show 15 minutos antes, contando um pouco sobre como é nosso som. Assim, começou a aparecer gente. Foi, sem dúvida, um dos três shows mais legais da história da banda. Não cabia mais ninguém na tenda, tinham várias pessoas para fora, todos os fotógrafos estavam por lá. Para nossa surpresa, recebemos críticas muito legais e, não sabemos como, fomos eleitos um dos melhores shows do festival. Depois foi só curtir The Dandy Warhols, Peter Doherty, encher a cara de Fish & Chips, mais cerveja artesanal e tudo mais a que tínhamos direito depois de um bom show.

Madri – 30-02/05

Foi um dia inteiro de viagem. Toca para o trem, toca para o avião, atraso e mais atraso, toca para o táxi, um monte de trânsito... e chegamos em Madrid. A sorte dos hotéis ficou para trás. Em Madri, o quarto era um pulgueiro triste com um pequeno chuveirinho para quatro marmanjos, no quarto andar, sem elevador, em um prédio de 1953 sem reforma. Mas turnê é isso aí. Bora dar um rolê, tomar uma “cerveza” e curtir.

Lá não tínhamos nenhum show marcado, mas sim o maior desafio de todos da turnê: um acústico no maior programa de rádio e TV da Espanha, o Los 40 Principales de Vodafone, apresentado pelo Dani Mateo, uma celebridade do país. Para se ter ideia, a última celebridade a passar por lá havia sido o Justin Biebir. E nós éramos uma banda brasileira de indie-eletrônico fazendo um “acústico”. Nossa sorte foi que em Lisboa nós ensaiamos a música que tocaríamos por mais de três horas. Compramos um glockenspiel no caminho, ganhamos violões Gibson e lá fomos nós com nosso portunhol. Não importa o tamanho do palco nem do festival, um acústico ao vivo e a frieza de um estúdio vão sempre dar mais frio na barriga.

No outro dia, estava tudo certo para irmos para Barcelona. Opa, pera aí! O Mura perdeu a carteira. Ressaca, delegacia e mais corres por Madri. Achamos, finalmente! Um anjo vai mandar por correio para Barcelona. Então, toca para um dos maiores festivais do planeta: Primavera Sound!

Barcelona – 02-06/06

Tínhamos duas datas no Primavera. Uma no palco mais bonito em que já tocamos dentro do festival, de frente para o Mediterrâneo, e outro dentro do programa Primavera Pró, no qual fizemos um show de graça, no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. Que responsa!

Demos a sorte de tocar no sábado. Ou seja: ainda tínhamos quinta e sexta de festival para curtir, com Radiohead, Savages, Thee Oh Sees, Tortoise e mais um monte de bandas que curtimos. Mas o cansaço já estava batendo forte, e ainda tínhamos que organizar o vídeo que faríamos dos shows, dar algumas entrevistas e fazer uma sessão de fotos com o super fotógrafo Dean Avisar, que, não sabemos como, curtiu o Aldo e agendou uma session no Parc del Fòrum.

Dia do show: acordamos atrasados e descobrimos que o Mura estava sem cuecas limpas… saímos correndo para a H&M, engolimos um sushi e já estávamos na van rumo ao festival morrendo de rir. Essa era a vibe. Sabíamos a sorte que tínhamos de estar ali, queríamos muito estar ali. Quando o show terminou, a plateia parecia uma pistinha. Missão cumprida! Tuítes elogiando, pessoas tirando foto e, principalmente, nós mais felizes do que nunca com a apresentação. A sensação de dever cumprido só não foi melhor que o show do Sigur Rós depois. Não deu para empolagar tanto quanto gostaríamos apenas porque no dia seguinte também tinha show.

Domingo em Barcelona, na primavera ou verão, nunca é tranquilo, é sempre com todo mundo na rua e um milhão de coisas acontecendo. Nem precisa dizer que a casa estava abarrotada de gente. Ainda mais com as apresentações do Mudhoney e Black Lips. Mas era um clima família, diferente daquele do festival. Fizemos uma das primeiras apresentações do dia, com o sol começando a se por. Que vibe! Foi tão massa quanto no dia anterior. E, o mais legal, muita gente que havia nos visto no primeiro show estava lá novamente para prestigiar, trazendo mais amigos. Conseguimos vender todos os merchans, todos os discos, cartazes, adesivos, tudo. O que nos pagou um belo jantar de final de turnê no melhor restaurante vietnamita,

No outro dia, metade da banda já estava de volta a São Paulo. Mura teve uma reunião e André teve 2 dias de férias merecidas em Londres com a namorada. Afinal, no fim de semana seguinte já tinha Vento Festival em Ilhabela! Leia aqui como foi a apresentação no litoral paulista.”