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Felipe Antunes, do Vitrola Sintética, lança Lâmina, “disco-livro” baseado em memórias

O músico apresenta as canções do álbum de estreia solo nesta terça, 27, no Sesc Pompeia, em show gratuito

Gabriel Nunes Publicado em 27/09/2016, às 18h10 - Atualizado às 18h41

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Felipe Antunes - Ana Claudia Silva
Felipe Antunes - Ana Claudia Silva

Por Gabriel Nunes

Rimbaud, Maiakóvski, Drummond e Hilda Hilst. Quatro grandes poetas de origens e estilos diferentes, mas que se encontram nas entrelinhas de Lâmina, primeiro trabalho de Felipe Antunes fora do Vitrola Sintética (banda de origem dele). Não é à toa que o músico cite os medalhões da literatura universal como influência direta para o trabalho, que foi lançado no formato disco-livro e cuja estreia nos palcos paulistanos acontece gratuitamente nesta terça, 27, no Sesc Pompeia.

Embora tenha saído no primeiro semestre de 2016, o debute do músico de 33 anos começou a ser pensado durante as gravações de Sintético (2015), mais recente disco do Vitrola Sintética. Para Antunes, a centelha inicial de Lâmina pode ser percebida em “Inconsciente Inconsistente”, faixa que encerra o terceiro álbum do quarteto.

“A banda representa a soma das forças criativas de cada integrante. Mas, ao mesmo tempo, cada um tem sua individualidade”, declara Antunes. “Durante as gravações de Sintético, eu estava passando por um fluxo de composição muito grande, mas não sabia se rendia um disco solo. Uma das coisas que me fez pensar em lançar meu disco foi a música ‘Inconsciente Inconsistente’, que tem uma pegada muito pessoal e que tem bastante a ver com o que eu fiz nesse trabalho solo.”

Gravado no estúdio do baixista do Vitrola Sintética, Otávio Carvalho, Lâmina traz as colaborações de Juliana Perdigão, Hélio Flanders (Vanguart), Bocato e da veterana Ná Ozzetti. “Foi natural e bastante orgânico. Apesar de ser um disco solo, a criação dele veio de quem estava em volta”. Outra participação notável é a da avó do músico, Natalia Alzira, que empresta a voz à faixa “Abertura”. “A memória da minha avó é muito boa”, diz o intérprete. “Sobretudo para as coisas mais antigas, então ela se lembrou dessa música que aprendeu na escola quando era pequenininha.”

A veia familiar ecoa também nas faixas “Descansar” e “Telepatizar”. Em ambas as canções, Thomas Rohrer toca uma rabeca talhada à mão pelo avô de Antunes. “Minha avó conta que ele foi morar com a família no interior e que sempre quis tocar rabeca, mas que por falta de dinheiro nunca conseguiu comprar uma”, diz o músico. “Então ele foi no meio do mato, pegou madeira e com um canivete ele fez o instrumento à mão quando tinha uns 15 anos. Mas ele nunca aprendeu a tocar, e a rabeca acabou ficando na família até agora.”

Com canções de alto teor confessional, como “Pretensão” – em que Antunes reconhece, com autoconsciência assustadora um sofrimento silencioso que nasce da incapacidade de se comunicar abertamente –, e a participação da avó e da rabeca herdada do avô, fica difícil desassociar-se da ideia de que Lâmina é um trabalho autobiográfico. No entanto, para o intérprete, a obra transcende esse prisma de interpretação. De acordo com ele, o álbum deve ser enxergado como algo heterogêneo. Como uma ode ao tempo e às várias memórias que nos permeiam.

“Ele é mais do que isso, ele é um trabalho sobre a memória”, declara. “Talvez ele possa soar autobiográfico justamente porque algumas das canções enveredam para esse caminho do confessional, mas ele é também um trabalho sobre a memória de toda uma geração e das gerações que vieram antes.”

Para Antunes, as cargas poética e histórica da obra contribuíram para que ela fosse lançada no formato álbum-livro. Lâmina segue os passos de trabalhos como Lemonade (Beyoncé), Skeleton Tree (Nick Cave) e Atlas (Baleia), que ganharam versões estendidas do próprio disco, seja na forma audiovisual ou então no mesmo formato do debute de Antunes, como é o caso do grupo carioca.

“Eu não sei, foi meio natural a escolha do livro”, reflete o cantor e compositor. “É uma sobreposição de linguagem. Não acho que isso esteja acontecendo por causa da desvalorização da música, mas é uma forma de transformar a própria música em um objeto de arte palpável. Esse livro representa o processo para se chegar no disco, da mesma forma que o disco representa o processo para se chegar no livro. Ambos se complementam.”

Felipe Antunes no Prata da Casa

27 de setembro, às 21h

Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93 – Pompeia, São Paulo

Grátis