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Conexão Amazônia

Los Porongas sai do Acre para conquistar o mundo

Alex Antunes Publicado em 17/08/2007, às 15h08 - Atualizado em 31/08/2007, às 18h01

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João Eduardo, Anzol, Diogo e Magrão (da esq. para a dir.): personalidade amazônica - Daigo Oliva
João Eduardo, Anzol, Diogo e Magrão (da esq. para a dir.): personalidade amazônica - Daigo Oliva

Há uma piada recorrente que diz que o Acre não existe. Sem entrar em grandes méritos políticos e indigenistas (mas apenas anotando que em nenhum outro lugar do Brasil, nem em Recife, o poder público, os movimentos jovens e as tradições estão tão saudavelmente conectados), dá pra afirmar com todas as letras: a Amazônia é pop, e o Acre é um dos lugares mais interessantes do Brasil. E o Los Porongas têm tudo a ver com isso.

Um pouco conseqüência e um pouco causa, eles surgiram em um momento em que ainda predominavam as bandas cover, com um tipo de música que nos anos 80 soaria natural, mas que hoje anda meio ausente. Melódicos, climáticos, com letras bem escritas (de temáticas éticas e sentimentais) e cheios de convicção, eles pertencem à mesma linhagem que U2 e Legião Urbana. Talvez soasse ingênuo se fosse banda "do eixo Rio-SP", mas, vindo do Acre, onde o Brasil está sendo reinventado, parece fazer todo sentido.

Diogo Soares (voz), João Eduardo (guitarra), Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria) mudaram há alguns meses para São Paulo. Onde fizeram shows, inclusive com direito a gravação de DVD. Uma semana antes, fizeram um show consagrador de volta a Rio Branco, com a participação de Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana) na guitarra, dando continuidade à parceria criada um projeto em São Paulo.

A cada show, composições pegajosas como "Nada Além", "Tudo ao Contrário", "Suspeito de Si", "Lego de Palavras", "Enquanto Uns Dormem" e "Ao Cruzeiro" soam como hits potenciais - e, nos bastidores de cada uma dessas apresentações, o quarteto mostra uma segurança crescente. Para a banda, a conexão oitentista não é tão clara - sem pensar muito, eles citam Beatles, Stone Roses, Sonic Youth e Radiohead como influências. Mas tudo macerado no caldeirão intuitivo em que a banda compõe e arranja, sem assumir "amarras estéticas", como diz João Eduardo.

A própria formação da banda traduz diversidade. A primeira banda punk em que Magrão e Anzol tocaram juntos, os Degenerados, surgiu há 20 anos. Já Diogo e João Eduardo são da nova geração - montaram o Los Porongas em 2003, e chamaram os "veteranos" quando viram que precisavam de uma cozinha inabalável para dar corpo às suas idéias de composição. A química foi perfeita - precisos e talentosos, cada um deles joga para o time, e ninguém paga de líder. "Esse isolamento amazônico fez com que a banda desenvolvesse uma personalidade - eu não sei definir bem que personalidade é essa, mas sei que ela existe", diz Diogo. É possível ouvi-la no som da banda: tem algo de regional e muito de cosmopolita, algo de inocência e muito de eficiência, algo de visceral e muito de encantamento: "Sapo que é philomedusa/ bicolor em Hollywood". A Amazônia, sim, é pop.