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Maxwell Nascimento, o protagonista de Querô

Adriana Alves Publicado em 22/09/2008, às 18h58

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Marcos Vilas Boas
Marcos Vilas Boas

"A gente apoiou porque se não fosse esse trabalho chegar nessa época de adolescência - que é muito perigosa - vai saber, né? Se Deus quiser, daqui para a frente, só coisa boa", comenta Francisco Assis do Nascimento, pai de Maxwell, que ficou impressionado quando viu o filho em cena. "A gente não acha que é ele. Ali [no filme] é outra pessoa que não é nem da família." Tudo isso porque o personagem do livro Querô - Uma Reportagem Maldita (1976), do escritor e dramaturgo Plínio Marcos, e que agora ganha segunda versão em tela grande, tem uma biografia desgraçada do início ao fim.

A frase que abre o romance e também utilizada na primeira cena do longa (filmado em 2005, quando Max tinha 16 anos) resume a linha que a vida do menino Querô seguiria: "Ou a gente nasce de bunda virada pra Lua ou nasce cagado de arara. Não tem por onde. Assim é que é. Uns têm tudo logo de saída. Os outros só se estrepam". A obra mostra o cotidiano de um garoto que vive na zona portuária de Santos (SP) e que convive com tragédias desde o nascimento. O apelido Querô surgiu logo depois que a mãe do personagem, prostituta e suicida (interpretada por Maria Luisa Mendonça), morre depois de beber querosene. Maxwell, o ator, também não ganhou um nome ao acaso. "Ele se chama assim por causa daquele Agente 86, eu e a mãe dele gostávamos muito do seriado. E depois, não é que a gente sempre achou que ele seria alguma coisa? Ou seria jogador de futebol ou ia aparecer na televisão", previu o pai.

É sábado de manhã e sigo para a baixada santista. Tenho um encontro marcado com Maxwell, sua família e a zona portuária da cidade - ambiente descrito no romance, locação do filme e também região onde mora o ator. Santos ocupa o 5º lugar no país no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). São Paulo está na 68ª posição. Coincidências numéricas à parte, essas duas realidades são separadas por 68 quilômetros. De carro, o trajeto leva apenas 50 minutos. E esse é o caminho que Maxwell faz todo dia desde que conseguiu um emprego na Gullane Filmes, a produtora do longa-metragem. Mas ele leva um pouco mais de duas horas para chegar ao trabalho: rodoviária, ônibus, caminhada.

Às 11 horas da manhã eu já estava à porta da casa do ator, na Vila Nova, um dos bairros periféricos próximos ao Porto de Santos (atualmente, o maior da América Latina). Centenas de caminhões e milhares de contêineres (que abrigam, na sua maioria, açúcar, café e soja), uns em cima dos outros, formam a paisagem. Perto dali, uma favela e uma quadra de futebol onde o ator passava parte de suas tardes. A casa dele é um sobrado bem arrumado, recém-reformado e com fachada antiga, um pouco maltratada. Não se pode mexer na parte externa de algumas das construções do bairro, são patrimônio histórico. Toco a campainha e o som que ecoa do lado de fora é de Chitãozinho e Xororó, gosto da mãe Maria Nilza Teixeira Batista, mineira da cidade de Ouro Verde. Dentro, já na sala, o que pegava mesmo era um DVD de forró, ritmo que o pai do ator não abandonou quando deixou sua cidade natal, Juazeiro do Norte (Ceará). "Esta casa aqui, o carro lá embaixo, é tudo nosso. Compramos com muito trabalho", comenta Maria Nilza, que tira seu sustento há mais de 20 anos da venda de pastéis. A receita da massa é do pai. "Já cheguei a fazer 2 mil pastéis em um único dia."

Você lê a matéria na íntegra na edição 11 da RS (agosto/2007), com Caetano Veloso na capa.

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