Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Dave Grohl, feliz da vida

Líder do Foo Fighters há 13 anos, pai de família realizado, Dave Grohl está pronto para lançar "o disco que sempre quis fazer"

Simon Wooldridge Publicado em 13/09/2007, às 16h42 - Atualizado em 15/10/2007, às 16h30

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Site oficial
Site oficial

"Uma semana antes do Live Earth, vi o Concerto para Diana no estádio de Wembley pela TV", diz Dave Grohl, citando o show que se tornou o maior de sua carreira, considerando a audiência da TV e os participantes. "Aquele estádio era tão grande que meu estômago deu um nó. Fiquei com vontade de vomitar. Pensei: 'Caralho! A gente não vai conseguir fazer isso. É uma loucura!'" Para o Foo Fighters, o fato de ser a segunda atração mais importante do show de 7 de julho - abaixo apenas de Madonna e acima de nomes como Metallica, Red Hot Chili Peppers, Beastie Boys e Genesis - já se encaixou na lista de grandes momentos da história da banda. Grohl lembra com orgulho que a banda já tem 13 anos de carreira e continua crescendo. In Your Honor (2005) os tornou ainda mais populares e trouxe uma nova amplitude musical ao som do grupo, graças ao seu formato duplo. Um dos discos é baseado na fórmula "guitarras, baixo e bateria e rock de arena" pela qual a banda é conhecida; o segundo apresenta algo diferente - acústico e mais tradicional, com convidados como Norah Jones e Josh Homme do Queens of the Stone Age. Quando terminaram a turnê "normal", eles tocaram shows acústicos em palcos menores, mostrando velhos sucessos em versões para violão (os quais renderam o CD/DVD ao vivo Skin and Bones). Nesse meio-tempo, Grohl virou pai (ele e sua segunda esposa, Jordyn Blum, tiveram uma menina chamada Violet Maye em 15 de abril de 2006) e começou a pensar no próximo disco, Echoes, Silence, Patience and Grace - com lançamento previsto para 25 de setembro. Com tudo isso, é compreensível que Dave Grohl esteja animado.

Notei que não existem silêncios constrangedores com Dave Grohl, mas o pior é que não há pausas para respirar. Após um dia corrido fazendo a promoção do último disco, ele está pronto para conversar. É uma característica de sua natureza o fato de seus pensamentos serem tão rápidos ao ponto de ele quase não conseguir organizá-los: cada um flui em direção a uma nova distração ou tangente, seguindo ou voltando para o início, no que pode ser melhor chamado de "Torrente de Daveísmos". É claro que é difícil ficar com a cabeça no lugar, mesmo quando Está lembrando um momento tão enorme quanto o Live Earth. Como lidar com um show como aquele, especialmente quando a banda está há um ano longe dos palcos?

"Tocamos como se fosse o nosso último show", diz Grohl. "Eu estava um pouco bêbado e ficava fazendo uns barulhos no sistema de PA, como o Prince da época do Purple Rain, jogando a guitarra longe, coisas assim", lembra Grohl. "Pouco antes de subir no palco do estádio, estávamos parados nos bastidores e pensei: 'Ok. Tudo bem, vai ser ótimo'. Não estava nem pensando nos 2 bilhões de pessoas que iam ver pela TV. Percebi que tínhamos que fazer um ótimo show. E, pouco antes de subir no palco, pensei comigo mesmo: 'É só tocar como sempre'. E entramos e tocamos como sempre. Saímos do palco sentindo que tínhamos feito o necessário. Quando somos nós quatro no estúdio no porão do Taylor [Hawkins, baterista do FF], sentimos a mesma coisa que quando estamos na frente de muitas pessoas. Tocamos por um motivo: 'Estou feliz de estar aqui e adoro pra caralho esses três caras aqui e... ouçam isso!'. Então, foi muito bom."

E continua, sem parar de falar: "Queria que as pessoas celebrassem o motivo de estarmos aqui, celebrassem a causa e a música, se aproximassem uns dos outros. E, naqueles 20 minutos de apresentação, todas as pessoas estavam conectadas nessa sintonia. Foi muito forte e estou bastante orgulhoso". E na hora de festejar? "Saí do palco e minha filha estava ali com minha mulher. Peguei-a, fui até o camarim, coloquei uma camisa seca e fomos para o hotel, brincar."

Você voltou a fazer turnê com o Foo Fighters. A Europa é a sua prioridade?

Estávamos pensando em tirar um ano de férias, relaxar depois de toda a viagem para divulgar o In Your Honor, porque foi uma experiência completamente nova para a gente. O nível de popularidade da banda cresceu muito e, depois dos shows acústicos, nosso nível de musicalidade também cresceu. Esse crescimento gradual foi ótimo e rolou fácil nestes últimos 13 anos, sabe? A criação do grupo foi como uma fita demo acidental, um experimento que ninguém poderia imaginar que iria chegar ao que somos hoje, 13 anos depois. Se tivesse acontecido da noite para o dia, não acho que ainda estaríamos aqui, mas o fato de tudo ter acontecido de forma tão confortável e gradual fez toda a diferença. Depois de toda a história do In Your Honor, eu pensei: "Merda, acabamos de ir para a Austrália, tocamos nesses estádios; depois fomos para a Inglaterra e lotamos o Hyde Park". Você acaba pensando: "Deus, como fazer algo melhor que isso?" Agora é hora de tirar aquelas férias sobre as quais conversamos tanto. Toda vez que acabamos uma turnê, pensamos em dar uma parada por uns três anos, como fazem umas bandas, e depois retornar. Por várias razões, sempre tive medo de fazer isso. Uma: tinha medo de que as pessoas simplesmente nos esquecessem. E outra razão é que sempre tive medo de me separar da banda por tanto tempo. É difícil ficar longe de seus melhores amigos ou de pessoas que você considera sua família.

Mesmo assim, depois dessas turnês, vocês devem ficar exaustos.

Mas nunca paramos, não importava o nível de cansaço. Desta vez, por ter uma filha, a vida mudou muito e eu pensei: "Ok, bom, agora é o momento perfeito para fazer isso". Depois, percebi que era uma idéia terrível: já tinha umas músicas numa fita em casa e na minha cabeça, além das que acabara de compor no piano. Pensei: "Cara, temos que retomar imediatamente". Acho que foi o menor descanso que já tivemos entre uma turnê e um disco. Ficamos umas três semanas de férias antes de começar a gravar.

Então, quando você diz que sua vida mudou, é essa mudança de perspectiva ou mais uma mudança devido às questões práticas, tipo a falta de sono?

Os dois. Essa é a coisa engraçada de ter um filho. Quando comecei a contar aos meus amigos que ia ter um filho, todos disseram: "Cara, vou te contar uma coisa: você não vai dormir mais por uns dezesseis anos". E eu respondia: "Cara, eu já não durmo direito há uns 16 anos, que mal há em ficar mais 16 assim?". É uma das poucas coisas que não mudaram na minha vida. Em todo o resto, seu mundo muda completamente, você vira uma página e tem a perspectiva de que tudo está um pouco mais brilhante, profundo e um pouco mais romântico. A vida ganha uma dose de mortalidade e essa sensação de amor que nunca sentiu antes. É inevitável que esse tipo de coisa invada sua música, porque, enquanto ela for uma expressão real do que acontece em seu coração, tudo acaba se amplificando. Quando ouço o disco novo, penso que a razão para ele ter saído assim é porque a vida é maravilhosa para mim agora.

Mesmo assim, você não se referiu diretamente a sua nova vida familiar nas canções do novo disco, Echoes, Silence, Patience and Grace.

Não, quando escrevo letras, tendo a me distanciar de coisas específicas porque não quero roubar idéias e interpretações próprias de cada um... Tenho meus motivos para escrever as músicas e espero que todo mundo tenha os seus para cantar junto. Ouço qualquer disco que fizemos e eles são autobiográficos, sempre representam o que estava acontecendo comigo naquele momento. É quase como ver uma pessoa crescer, passando de uma criança pequena e irritante até alguém que já está pronto para experimentar a vida sozinho. Todo mundo começa como uma criança irritante. Chega à adolescência, quando acha que entende o mundo, deixa o ninho, a confusão com a independência. Depois vem o disco romântico sobre se apaixonar. Até chegar ao álbum em que você está livre das inseguranças e sente que finalmente encontrou seu lugar no mundo. Todas essas coisas, nessa ordem, representam cada um dos CDs para mim quando olho para trás. Provavelmente, eu não teria percebido isso há um ano e meio. Agora é que tudo parece um pouco mais claro. Quando ouço as letras dos álbuns antigos, penso: "Deus, como eu era chato" [risos].

Você sempre disse que todo novo disco era a coisa mais impressionante que você tinha feito - e também é uma das poucas pessoas que iriam olhar para um disco e dizer: "Não, na verdade esse disco era uma porcaria". Dá para dizer que você está em um nível diferente agora?

É duro, porque nós mesmos nos criticamos por dizer isso. Toda vez que gravamos um disco, saímos do estúdio e pensamos: "Sabe o quê, conseguimos, finalmente fizemos nosso melhor disco". E a idéia por trás disso é real, quando dizemos essas coisas, é porque sentimos. Nós só saímos do estúdio quando realmente pensamos isso. Mas eu ainda não acho que fizemos o melhor disco de nossa vida. Se eu tivesse achado que o segundo ou o terceiro disco era o melhor que já havíamos feito, eu pararia de gravar. Mas ainda não acho que tenhamos gravado nosso melhor disco. Mas dessa vez, só quero dizer que realizamos algo que sempre quisemos fazer desde muito tempo.

Qual é a música de Echoes, Silence, Patience and Grace que representa isso para você?

Eu estava tentando fazer uma canção como "Home" desde que tinha 8 anos. Tenho mais orgulho daquela música do que de qualquer outra que já tenha composto. Finalmente consegui capturar aquela parte de mim ou um momento, uma emoção, um sentimento, e colocar numa canção que a representa de forma exata. E ela é tão pessoal que nem quero ouvi-la. Até me machuca saber que escrevi essa música, porque eu esperava conseguir compô-la há tanto tempo. Ela é uma conquista tão grande para mim que tudo irá viver em sua sombra. Todas as outras músicas que já gravamos são pequenas quando comparadas àquela. Acho que esperei a vida inteira para compor uma música dessas, ela será eterna. Tenho orgulho dela.

Quando ouvi essa música, lembro que anotei: "Esta a minha mulher vai gostar".

[Risos] Quando começamos a gravar o disco, fizemos muitas demos e testamos coisas durante a turnê acústica, porque toda a experiência me inspirou muito. Eu ainda estava compondo rock, mas comecei a explorar mais esse território acústico. Deixamos que a escolha fosse natural entre as músicas que fossem as melhores. Não importava se tivesse só violão e vocal ou 16 guitarras com uma orquestra e um órgão, como no meio de "Erase/Replace", que é, provavelmente, a coisa mais complexa que já fizemos. Só precisava ser tocante, real, forte e boa na estrutura, na letra e na melodia.

As coisas que tocam as pessoas, na maioria, são bastante básicas, quase vulneráveis, sabe? Algo como "Home", eu sabia... Sentei nessa salinha nos fundos do estúdio por uma semana e meia e escrevi todas as letras em um período muito curto. Depois, me sentei com um pedaço de papel em branco e uma caneta - e escrevi aquela música em uns dez minutos. Era tão simples e não precisei pensar muito, foi só como se estivesse derramando uma emoção realmente forte que estava dentro de mim.

Cantei uma vez e chorei muito, eu estava tão... Não podia acreditar que estava falando isso para mim mesmo, muito menos para outra pessoa. E eu nunca mais quis ouvi-la depois de gravar [risos]! Muito foda!

E sua filha, Violet Maye, está gostando da vida nos palcos?

Ah, sim. Ela está um pouco adiantada. Nem aprendeu a engatinhar, já começou a correr. Ela não engatinhou nada mesmo - um dia começou a andar e, depois de três dias, já era difícil pegá-la.

Ela gosta dos shows?

Adora. É divertido, ela foi em um dos nossos primeiros shows acústicos com uns 4 meses de idade, era muito pequena, e acho que ficou completamente confusa. Tipo: "Que são essas coisas que ele está segurando? E por que as luzes são tão coloridas?" O primeiro show de verdade a que ela assistiu foi quando abrimos para o Police, em Los Angeles. Como era o palco do Police, eles não tinham um lugar para a Violet, então sentamos nas primeiras cadeiras. Ela usou um fones de ouvido e ficou olhando para os telões, dizendo "da-da-da" e dançando. Estava adorando mesmo. No Live Earth, nós a levamos para assistir à banda por uns minutos e depois voltamos para o camarim. E, quando a colocamos no chão, ela correu para o fone de ouvido, porque queria voltar para o palco. É uma safada.

Então, essa é a primeira experiência dela com o emprego do pai?

Ela precisa aprender sobre o que eu faço em algum momento. Pode até ser que ela já entenda alguma coisa. Quero dizer, ela sabe que a música é uma parte importante das nossas vidas - ouvimos todo dia, ela já tem umas músicas favoritas, uns discos preferidos. Sei que quando coloco o de Amy Winehouse, ela pode estar correndo pela sala, mas quando o disco começa a tocar, ela pára e fica dançando. Ou como o Odessey and Oracle, do The Zombies. Esse foi um disco que ouvimos todo santo dia, felizes da vida.

Se sua filha se rebelar contra você quando crescer, que tipo de música você acha que ela acabaria escutando só para te contrariar?

Oh, Deus. Meu gosto musical é tão amplo, que acho que provavelmente eu tentaria mantê-la distante de músicas que transformem garotinhas em... [risos] prostitutas. Acho que seria a única restrição. "Não ouça nada que a transforme em uma vadia, por favor, ok?"

Você tem essa coisa bem paternalista, tipo entender palavras e gestos indecifráveis?

Quando você é pai, inicia essa conexão com sua criança que vai além da linguagem. Quando ela chora, sei o motivo. Ela tem uns dez choros diferentes e conheço todos eles, só de ouvir. Tem uma linguagem própria. Ela é muito boa: aponta para as coisas e diz "amarelo" ou "avião". Ela consegue se comunicar, mas, mais do que isso, há uma linguagem entre pai e filha que acontece sem palavras. Algumas vezes, ela aponta para alguma coisa e eu fico todo orgulhoso porque ela disse banana ou garrafa, mas as outras pessoas vão dizer: "Que merda foi que ela disse?". Para eles, foram sons indecifráveis.

Tenho a impressão, baseado em seu estilo de vida e em como é o backstage dos shows, que o "espírito familiar" está arraigado em você.

Sempre fui assim, antes da própria música. Quando o Nirvana se tornou popular, minha família, meus amigos e a vida em casa eram as únicas coisas que evitaram um desmoronamento. Todas essas coisas eram minhas âncoras: eu voltava a elas quando tudo ficava muito caótico. E ainda é assim. Muitas pessoas que desmoronam são as que não possuem essa fundação para se apoiar. Por isso, mais do que só pessoas e lugares, minha idéia de família está relacionada com uma realidade que pode se tornar confusa quando você está metido em algo como o Nirvana ou o Foo Fighters. É fácil se perder, porque é tudo muito surreal e bizarro, não é real. Todo mundo precisa se lembrar e reconhecer que existe uma realidade. Fui capaz de encontrar isso em Virgínia [Estado onde Grohl foi criado pelos pais] e na minha família. Agora, também na minha filha e em casa. Então, você precisa levar essas coisas com você para agüentar toda essa merda.

Isso sempre foi importante para mim. A vida é mais do que o rock'n'roll. Adoro minha banda e tenho muito orgulho da música que fiz durante estes anos, mas isso não é a coisa mais importante do mundo. Nunca foi. A música nunca foi meu primeiro amor. É a minha família. A música é a segunda coisa mais importante. E eu vou até o extremo para viver essa paixão de estar na banda, mas não faria tudo por ela. Pela minha família, eu faria tudo. Os dois estão conectados, mas um é maior que o outro, com certeza.

Então, em algum ponto, você precisa construir uma ponte entre o estilo de vida rock'n'roll e a família, além da realidade de não ser mais jovem...

Normalmente, quando se é jovem e se tem uma banda, é só colocar uma mochila nas costas e cair na estrada. Dá para fazer isso por anos, já que sua banda domina sua vida. A vida se torna algo que está dentro da idéia musical. Uma hora, você percebe que é preciso mudar, que a vida fora da banda precisa ser equilibrada com a vida dentro da banda, é uma questão de sobrevivência. E isso aconteceu comigo depois de eu conhecer gente como o Neil Young.

E ele é um dos maiores roqueiros de todos os tempos.

Claro! E você vê Neil com sua família, em sua casa, a vida maravilhosa que ele tem. Se você olhar para a história dele, vai perceber por que ele ainda está aí: porque sempre fez as coisas como quis e imagino que controla esse equilíbrio. É o que acontece conosco: sempre controlamos o que fazemos na Roswell Records, que é a nossa gravadora, com nosso próprio estúdio, fazendo nossos vídeos, decidindo quando, como e com quem vamos sair em turnê, quais músicas gostamos e transformamos em singles. Nós controlamos tudo que fazemos. É a razão pela qual estamos aqui e imagino que Neil Young faz o mesmo há muito mais tempo. É importante medir e equilibrar tudo de forma controlada. É quando você começa a sentir que as coisas estão saindo do controle que a vida o arrasta até a beira da insanidade. Eu tinha a idéia de que a banda iria terminar algum dia e eu então poderia viver uma vida normal. Só aí eu poderia seguir com minha vida e experimentar todas as coisas que estava perdendo. Mas percebi que as duas coisas podem rolar ao mesmo tempo. Você só precisa fazer acontecer. Se isso significar dar um tempo na banda, que seja. Se significa fazer grandes turnês, que seja.

Você não é o tipo de celebridade que é perseguido por paparazzi, né?

Não. Sabe onde isso acontece? Na porra da Austrália! É realmente o único país onde somos seguidos. É um dos poucos lugares onde isso acontece. Quer dizer, é engraçado, porque a Austrália e o Reino Unido são os dois lugares onde a banda é famosa, mais do que em qualquer outro lugar. Havia um tempo em que eu pensava: "Cara, queria que fizéssemos o mesmo sucesso nos EUA! É nosso país! Gostaria de conseguir isso". Mas saio em turnê, sou perseguido pelas câmeras. Chego em casa, ninguém dá a mínima. E percebo: "É o melhor dos dois mundos!". Consigo sair de casa, ir até uma lavanderia de pijama e ninguém liga. Aí passo duas semanas na Austrália e sou tratado como um superstar.

Então, o plano é ser mais famoso na Europa, mas evitar o grande sucesso nos Estados Unidos?

É isso que estamos tentando fazer. E conseguindo já há um bom tempo [risos].

O ano de 2007 é o 20º aniversário de dois marcos no rock. Um é o aniversário de lançamento do disco Appetite for Destruction, do Guns n' Roses. Outro é a formação do Nirvana - antes de você entrar. Primeiro, o Nirvana sempre teve uma inimizade com o Guns n' Roses: como foi sua experiência com o Appetite for Destruction?

[Risos] Naquele momento, quando aquele disco saiu, não ouvíamos aquele tipo de música. Se escutávamos algum tipo de metal, era Celtic Frost e Slayer, death e trash metal underground. Era esse tipo de metal que escutávamos. Se ouvíamos rock, era [Led] Zeppelin, [Black] Sabbath e AC/DC. Ou punk rock mais direto, como Bad Brains e No Means No, merdas assim. Então, o disco estava bem fora de nosso radar. Depois, foi inevitável, por volta de 1989, começar a ouvir aquela merda no rádio. Não entendi na época, porque não sabia nada sobre eles; não entendi que eles eram diferentes das outras bandas daquele tempo. Só porque não fui atrás, não sabia o que estava acontecendo. Posso dizer honestamente que nunca comprei o disco, mas ouvi todas as músicas, porque é um álbum clássico que ganhou seu lugar na cultura popular. Quando ouço, agora, consigo apreciá-lo mais do que na época, porque fui um punk daqueles bem sujos por muito tempo. Depois, você começa a se abrir para outras coisas. Musicalmente, você pára de fechar portas, começa a procurar coisas novas, tipo: "Vamos dar uma olhada nisso. Ei, é legal...". A coisa entre o Nirvana e o Guns n' Roses foi engraçada porque tinha mais a ver com ideologia. O problema não foi que não gostávamos uns dos outros: era como se as coisas que representávamos se chocassem totalmente, assim sentíamos a responsabilidade de defender o que acreditávamos, como eles fizeram também. No final, cara, conheço um monte de bandas que não gostam da música de outras bandas, mas não conheço muitos músicos que não gostam de outros músicos. Conheço o Slash e o Duff agora; não os conhecia na época. Duff e eu somos amigos, cara - vivemos perto um do outro e saímos para jantar com as nossas esposas. Toda vez que me encontro com o Slash, é legal pra caralho, adoro aquele cara. Estávamos em um bar uma noite, bebendo - Slash, eu e minha mãe [risos]. São caras legais, sabe? E nunca falamos sobre aquela merda antiga, porque éramos uns moleques burros e fodidos.

E em relação ao Nirvana, o que você acha que eles estavam fazendo em 1987?

Estavam trabalhando em empregos de merda, vivendo em apartamentos de merda e tocando como uma forma de escape, como uma forma de cavar pequenas fronteiras ao redor deles. Não deve ter sido fácil viver no meio de um lugarzinho de merda como era Aberdeen, em Washington. Só estive lá poucas vezes, mas não é o lugar em que se imagina Kurt [Cobain] ou Krist [Novoselic], então provavelmente eles deveriam se sentir marginalizados, estrangeiros em sua própria cidade. E acho que quando ouvimos suas primeiras músicas,é uma boa representação disso. É foda. Para uma cidade caipira como Aberdeen, ter uma banda que faça canções como as que estão na primeira fita demo, Fecal Matter, ou nas primeiras coisas que eles gravaram com Dale [Crover, primeiro baterista do Nirvana]... Saber que vinham de um lugar estranho fazia com que fossem dez vezes mais estranhos. Não é como se vivessem em Nova York e estivessem rodeados por toda uma subcultura. Eles estavam criando tudo do zero. E é por isso que era tão real. Tenho certeza de que há 20 anos aqueles caras estavam só tentando se afastar de tudo que os rodeava.

Você acha estranho já terem se passado 20 anos dessa época?

Acho muito estranho a passagem do tempo. Há uma certa realidade suspensa quando se faz o que fazemos. Você se sente eternamente jovem. Meus tornozelos e joelhos podem estar fodidos depois de um show, mas eu ainda sorrio, como quando tinha 18 anos. E ainda adoro tudo isso. Então, o tempo é apenas uma ilusão.

Tradução: Marcelo Barbão