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Grazi - A Mulher sem Pecado?

Ademir Correa Publicado em 22/09/2008, às 19h04

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"Vou até onde não me sinta usada, prostituída. Não faço 'tipo', como me disse uma jornalista dia desses. Se eu fizesse, também, seria uma grande atriz" - Maurício Nahas
"Vou até onde não me sinta usada, prostituída. Não faço 'tipo', como me disse uma jornalista dia desses. Se eu fizesse, também, seria uma grande atriz" - Maurício Nahas

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Grazielli era uma menina que se achava muito magrela. Tomou remédio para engordar durante dez anos seguidos e nada. Desde criança, sua mãe dizia que ela tinha uma "coisa". A filha era como uma estranha no ninho em Jacarezinho, uma cidade do interior do Paraná com apenas 40 mil habitantes. Descobriu que era diferente e se via pensando: "Será que realmente tenho essa 'coisa'?." Ela acabou se inscrevendo em concursos de miss porque a "coisa" não saía de sua cabeça. Vestia roupas que a mãe costurava e pedia muito para que seus pais a levassem aos desfiles. Tentou a faixa de moça mais bonita do Paraná e não conseguiu. Deve ter chorado um pouco nessa hora. Sua família passou por problemas e a filha precisou trabalhar em uma loja que vendia perfumes e cremes. Em segredo, juntava parte do dinheiro para comprar uma moto e nunca mais andar a pé. Pensou em desistir, estava triste, mas encontrou a ajuda de alguns "anjos" e acabou virando Miss Paraná anos depois. Ela, que só conhecia Curitiba, viajou para os Estados Unidos. Precisava de algumas aulas. Sem falar inglês, estudou para sua grande prova - e ficou radiante com a nota no Miss Brasil Beleza Internacional. Lá foi a primeira vez que viu um secador automático para as mãos, no banheiro do hotel. Não teve dúvidas: aproveitou e secou a franja. Mas a miss, que era uma simpatia só, viu uma chance de trabalhar na TV sendo ela mesma. Queria morar em um castelo - que parecia uma mansão. Para realizar seu desejo, tinha que ficar presa por lá. Ela não estaria sozinha, por mais que tivesse essa sensação. Seria vigiada por câmeras. Conseguiria tudo, mas tinha que se comportar como uma verdadeira princesa. Durante esse tempo, escondeu beijos com travesseiros, bebeu leite condensado atrás da cadeira e inventou um prato novo, a coxinha de galinha recheada com nuggets. Quando resolveu aprontar, ficou de castigo no paredão. O sonho virou realidade e Grazielli ganhou um apelido bem difícil de esquecer...

- "Grazi, posso tirar uma foto com você?"

- "Claro".

Enquadro o ídolo - que acaba de descer do avião - e seu fã - que acaba de chegar da rua - e imortalizo a cena. Esse pedido se repete mais vezes em apenas alguns minutos que esperamos no setor de desembarque [Aeroporto de Congonhas, São Paulo. A protagonista veste blusa preta, decotada, calça jeans justa e sapatos baixos, também pretos. Carrega duas bolsas, uma dourada e uma verde. Está ao telefone avisando que chegou bem. O clima é de surpresa ao encontrar rostos conhecidos. De cara lavada, demonstra fascínio. Continua ao celular conversado carinhosamente com alguém bem próximo]. Pelo visor da máquina fotográfica, reconheço Grazielli Massafera, o fenômeno assistido à exaustão por mais de 7 milhões de espectadores - 44 pontos de ibope. Descrever um encontro com essa paranaense é uma forma injusta de competir com a superexposição que já viveu - talvez por isso sua história comece na ficção, na reconstituição de fatos. "Já apareci me mostrando muito, o povo me via escovando o dente, chorando. Fiz de tudo", reconhece.

Grazi, 25, virou alcunha e profissão. Depois do Big Brother Brasil [festival de voyeurismo, bundalelê e lágrimas que aconteceu entre 11 de janeiro e 29 de março de 2005], em que ficou em segundo lugar, tudo o que estava à sua volta mudou para sempre. Ela é o resultado mais direto da trajetória de uma gata borralheira transformada em vida e depois em sonho, de novo. Abraçada por milhões de brasileiros que aprenderam a amá-la, sua aparição aponta para uma nova era em que a população toma para si o controle remoto do que quer ver. Nunca fomos tão descartáveis e tão acessíveis - um pouco da "indústria da diversão" apontada como a degradação da cultura pelos pensadores Max Horkheimer e Theodor Adorno em 1947.

Uma celebridade pós-moderna não precisa ter legado, basta uma boa biografia - melhor ainda se trágica. Carisma é outra característica essencial, um fator X que diferencia alguém em uma multidão (a "coisa" lá de cima). "Estou caindo na real só agora", explica a miss-atriz, "além de ter uma bunda virada para a Lua, tive uma grande sorte". E Grazi reina no quesito contos romantizados...

Você lê a matéria na íntegra em nossa edição 12, que chega às bancas em 11 de setembro