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Radicalismo Multimídia

Fundador do Devo, Mark Mothersbaugh tem uma visão peculiar do mundo: sem óculos, é considerado cego pela legislação norte-americana...

Thiane Loureiro Publicado em 08/11/2007, às 19h36 - Atualizado às 19h46

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Mark Mothersbaugh: visão singular do mundo - Divulgação
Mark Mothersbaugh: visão singular do mundo - Divulgação

...mas o que ele enxerga através das lentes pode ser contemplado nos quadros que pinta, nos tapetes que desenha ou nas dezenas de trilhas que compõe. Seu projeto mais recente é a música do longa Nothing But Truth, produzido pela Nike e dirigido por Koen Mortier e Joe Vanhoutteghem. Mais do que um documentário sobre skate, é uma interminável seqüência de manobras, belas paisagens e alguns "quase acidentes", nas palavras do músico.

Como foi a experiência de produzir Nothing But Truth?

Foi bem diferente do que eu já produzi, porque tem toda essa cultura do skate envolvida em situações e pessoas reais e não em algo imaginado, em falsas realidades, como na maioria dos outros filmes que faço. Foi um desafio maior até do que fazer Os Reis de Dogtown.

O que caracteriza a trilha sonora desta vez?

Fizemos uma coisa divertida. Cada um dos skatistas tem uma música que retrata sua rotina. E eu os chamei para compor comigo no estúdio, opinar, criar. Cada um deles pôde colocar um pouco da sua personalidade na música. [O skatista] Stefan Janoski tocou banjo. Tinha um banjo de seis cordas no estúdio e de repente ele começou a dedilhar. Ficou excelente.

De onde vem a inspiração para criar tanta arte?

Das minhas filhas. Adotamos duas meninas chinesas há dois anos e que são hoje a minha razão de viver. Uma delas tem glaucoma infantil e possui apenas 10% de visão. Cuidar dela me traz uma emoção maravilhosa. Quando eu era criança, me achavam um esquisito porque ninguém sabia que eu não enxergava. Até que fui considerado legalmente cego, mas tive o privilégio de usar um par de óculos que me proporcionaram a chance de ver. Você não imagina o que foi para mim quando pude ver as cores, enxergar claramente. Fiquei tão emocionado. Foi daí que comecei a fazer artes visuais. Eu precisava registrar o que estava enxergando.

Além de shows, o que o Devo anda fazendo?

Estamos preparando um novo álbum. Temos várias músicas já prontas, como a que está no YouTube, no comercial do computador Dell. E decidimos usar muita guitarra e baixo e menos computador. A idéia foi criar um disco que possa ser tocado ao vivo, para que as pessoas falem: "Nossa, eles sabem tocar!". Temos excursionado, mas as nossas turnês não podem durar mais do que duas ou três semanas, porque temos outros compromissos.

Muitos dizem que vocês foram influenciados por Kraftwerk. É isso mesmo?

O Kraftwerk foi influenciado por nós. Em 1977, estávamos na Alemanha e o Kraftwerk nos pediu para abrir seus shows com um de nossos vídeos. Kraftwerk é incrível. Eles são para a música eletrônica o que o Ramones é para o punk e o AC/DC é para o heavy metal.

Devo significa "desevolução". Mas você acha que o mundo evoluiu desde que você começou a banda?

A web é a única exceção. Politicamente e moralmente, estamos cada vez piores. Basta ver o que aconteceu nas duas últimas eleições nos Estados Unidos para ver o quanto pioramos. Acho que as coisas vão ainda ficar muito mais feias até que o mundo encontre um equilíbrio. Acho que haverá uma mudança radical, mas vamos sofrer para isso acontecer.