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Cinema Para Poucos

Produção em alta e bilheterias em baixa marcam o cinema brasileiro

Adriana Alves Publicado em 12/12/2007, às 00h00 - Atualizado em 14/01/2008, às 19h02

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O ano de 2007 foi marcado por três grandes sucessos nacionais nas telas: Tropa de Elite, de José Padilha (2,10 milhões de espectadores oficiais), A Grande Família, de Maurício Farias (2,02 milhões) e Primo Basílio, de Daniel Filho (aproximadamente 800 mil). Apesar desses números - e com sucesso relativo se comparado com anos anteriores -, o público no total ainda é baixo e segue a tendência de 2006, que já foi 3% mais fraco que 2005 no quesito bilheterias.

Para Jorge Furtado, diretor do clássico Ilha das Flores (1989) e também de Saneamento Básico, lançado em julho, os números fracos têm mais a ver com uma mudança de hábito - as pessoas passaram a ficar mais tempo na internet e em frente à TV. "Acho que o cinema como conhecemos está definhando. Aquela sacralizacão, a solenidade de sair de casa para ir ver filme, esse ato está desaparecendo", conta Furtado. "Analiso por mim mesmo, tenho uma quantidade enorme de DVDs para assistir e o tempo em que estou vendo algum é o mesmo que teria para ir ao cinema", explica o cineasta, que esperava um público de 400 mil para Saneamento e teve aproximadamente 178 mil. Um sinal de que Furtado pode estar certo é que a bilheteria de longa-metragens estrangeiros no Brasil também não foi lá muito bem. "Era esperado um ano de grandes bilheterias, mas isso acabou não acontecendo, e vamos terminar com arrecadações mornas", conta Paulo Sérgio Almeida, diretor do site especializado Filme B.

Daniel Filho, diretor e produtor de diversos sucessos televisivos e cinematográficos, como o próprio Primo Basílio, acredita que há um caminho a trilhar para levar o público às salas. "Estamos pegando a confiança outra vez. Houve um volume grande de produções de todos os estilos e públicos. Diminuiu o acerto que tivemos em 2003/04/05. Sem dúvida, Tropa de Elite, mesmo não atingindo os números de Carandiru (de Hector Babenco) por razões diversas (pirataria, época) como também Primo Basílio tiveram aceitação, mas se fosse naquela época somariam mais espectadores", conta o diretor, dono da produtora Lereby.

Segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), até o dia 13 de novembro, 68 produções brasileiras estrearam em circuito comercial durante o ano. Até a mesma data, o número total de espectadores era de 7.729.794 e a arrecadação R$ 62.677.613. Manoel Rangel, diretor- presidente da Ancine, acredita que, além de manter uma produção diversificada, é preciso iniciativas práticas e pontuais para melhorar esse cenário. "É necessário reduzir o preço do ingresso e ampliar o parque de exibição nas cidades pequenas e médias que tiveram seus cinemas fechados nas últimas décadas", fala Rangel sobre a triste situação atual: somente 8% das cidades do país possuem sala de cinema. Em São Paulo é onde existe o maior número de salas, são 750, enquanto na outra ponta estão o Acre e Roraima, com apenas duas salas.

Maurício Farias, diretor de A Grande Família, comenta que além de patrimônio cultural, o cinema precisa ser pensado como atividade comercial. "Na atual situação do mercado cinematográfico mundial, o incentivo é fundamental para que ele sobreviva. Mas é uma alternativa a curto prazo. Para que o cinema cresça, ele precisa se libertar do Estado e se tornar viável através do seu mercado." Paulo Sérgio Almeida concorda: "Os filmes têm que ser realizados respeitando-se as leis do mercado, ou seja, sendo atraentes, com público-alvo definido, com um assunto de interesse geral. Não sei se é assim que pensa a maioria dos produtores e cineastas brasileiros que, muitas vezes, atinge o sucesso na intuição."