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Encontro Marcado

Jann S. Wenner Publicado em 11/02/2008, às 12h42 - Atualizado em 15/02/2008, às 19h58

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Dizem que Bob Dylan é a pessoa mais reservada de toda a subestrutura do rock'n'roll. Mas depois desta experiência com ele, acredito que seria mais adequado afirmar que Dylan, assim como o caubói John Wesley Harding, "jamais foi conhecido por dar um passo em falso".

Os preparativos para este encontro ilustram bem esta teoria. Há 18 meses, comecei a escrever cartas a Bob pedindo uma entrevista, sugerindo as condições, perguntas e razões para a mesma. Então, há mais ou menos um ano, uma noite antes de deixar Nova York, uma mensagem chegou da recepção do hotel - um certo "Mr. Dylan" havia ligado.

Encontrei-o pela primeira vez dois meses depois em outro hotel nova-iorquino: ele veio caminhando relaxado, usando um conjunto de pele de ovelha e botas de couro. Estava muito bem vestido, mas sem ser esnobe. Eram 10 da manhã e eu rolei da cama, nu - é o jeito que durmo - e nós conversamos por meia hora sobre o que realmente falaríamos. O músico queria ter certeza de que seria legal. Esse "embate" inicial aconteceu no fim do inverno de 1968. Mas levou oito meses - até o fim de junho de 1969 - para que ele finalmente ocorresse, em uma tarde de quinta-feira, em Nova York, no meu hotel, na esquina da rua onde (a atriz) Judy Garland estava sendo velada por 10 mil pessoas em filas que dobravam quarteirões. De algum modo parecia apropriado que o funeral de Garland coincidisse com a entrevista com Dylan.

Bob foi muito cuidadoso em suas respostas e fazia longas pausas. Precisava ter certeza de que formularia a frase correta para dizer exatamente o que queria. Quando não me satisfazia com suas deixas, reformulava as questões. Mas ele é esperto. Pedi que transcrevessem as fitas com todos os desvios e as risadas. E a conversa tem seu início da seguinte forma...

Quando você deve sair em turnê?

Novembro... Provavelmente dezembro.

Que tipos de show pensa em fazer? Em estádios ou em lugares pequenos?

Em casas de tamanho médio. E vamos manter tudo bem simples: bateria, baixo, duas guitarras, órgão, piano. Talvez alguns metais. Backing vocals...

Você já tem músicos em mente?

Queria saber um pouco mais sobre o que vou fazer... Gostaria de ter a melhor banda possível...

Pensa em trazer mais artistas?

Vira e mexe a gente pensa nisso [risos]. Com certeza vamos trazer. Pensei em apresentar Marvin Rainwater ou Slim Whitman ao meu público.

Mantém contato com algum deles?

Não... não.

O que achou quando se viu no show de Johnny (Johnny Cash Show, da ABC, exibido em 1969)?

[Risos] Ah, nunca vou assistir àquilo. Não consigo me ver na televisão.

Gostou de participar?

Sim. É como no cinema - você fica lá sentado. E, quando finalmente faz algo, tem que repetir três ou quatro vezes. A essa altura o espírito da coisa já se foi.

Então você nem viu o programa?

[Risos] Sim... Mas só porque queria ver o Johnny.

Você teve alguma dificuldade em trabalhar com os profissionais da TV?

Eles são maravilhosos. Foi o programa mais divertido que já fiz. Só não faço TV porque é muito confuso.

Uma vez você disse que ia gravar um especial...

É exatamente disso que estou falando.

Em Hollywood?

Não, na CBS.

Em Nova York?

A gente ainda nem sabe. Eles deixaram tudo em aberto, por isso estamos tentando resolver.

O que você imagina?

Ah, só penso em algo meio livre, com muita música.

Bob, por que ficou tanto tempo sem trabalhar?

Bem... Eu trabalho.

Você lê "Encontro Marcado" na íntegra na edição 17 da Rolling Stone Brasil