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Dias Graves

Em turnê solo no Brasil, ex-baixista do Fugazi procura ritmos perdidos

Edmundo Clairefont Publicado em 16/08/2007, às 15h43 - Atualizado em 31/08/2007, às 14h02

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O Fugazi, em 2002(da esquerda para a direita): Lally,Canty, Picciotto e MacKaye - Shawn Scallen/Divulgação
O Fugazi, em 2002(da esquerda para a direita): Lally,Canty, Picciotto e MacKaye - Shawn Scallen/Divulgação

"Olha, vou te confessar: não tenho a mais remota idéia de por que diacho estou no Brasil. Deve ter a ver com o Fugazi, não acha?"

A pergunta sai no jeito manso de alguém que não quer ouvir uma resposta. Joe Lally não precisa de respostas. Há mais de 20 anos, o baixista vem distribuindo uma porção delas. Todas ao lado dos amigos com quem criou o Fugazi, a maior banda independente da história: o baterista Brendan Canty e os guitarristas e vocalistas Guy Picciotto e Ian MacKaye. MacKaye, aliás, é um verbete à parte nessa enciclopédia. Voz de dois fantásticos grupos, Minor Threat (1980-83) e Embrace (1985-86), o rapaz inspirou uma porção de bocós que o viram berrar contra cigarro, bebidas e diversões de calibres mais grossos. Mas não vá dizer isso ao amigo com quem Ian fundou o Fugazi. "As letras do Minor Threat?", Lally suspira. "Elas foram boladas quando ele tinha 18 anos! Dá para imaginar as coisas que se escreve nessa idade?" Lally ri.

Está feliz no Brasil, pela terceira vez. Em 1994 e 1997, veio com o Fugazi. Agora solo, acaba de encerrar uma turnê ao lado do guitarrista Fernando Cappi e do baterista Maurício Takara, ambos do Hurtmold. Trouxe no boné as canções de There to Here, disco lançado pela Dischord Records. "Tinha de desovar as melodias que andavam pela minha cabeça desde a separação do Fugazi em 2002." Em 4 de novembro, completaramse quatro anos desde o último show, em Londres. "Parecia que tinham arrancado meus braços. Tentar imaginar quem eu seria fora do Fugazi foi horrível."

Lally tem dificuldades em entender o que ocorreu. "Cada um sentiu necessidade de direcionar a vida. Ian tem o The Evens. Brendan teve seu quarto filho. Minha filha nasceu... O Fugazi não respondia a ninguém, nem a gravadoras. Os empresários éramos nós. Isso consome tanto tempo e energia..."

À boca não tão miúda calcula-se que, de 13 Songs (1989) a The Argument (2001), os sete discos de estúdio do Fugazi venderam mais de um milhão de cópias. A concorrência saliva: manejar a própria carreira, não fazer clipes, sem merchandising e vendendo ingressos a US$ 10 no máximo? "Não sei se o Fugazi volta. Gostaria de poder te responder, mas realmente não consigo."

Lally consegue outras coisas. Toca baixo num estilo cheio de graves, desenhando melodias entre guitarras barulhentas. Um tostão de personalidade, um trocado de soul? "Vem daí mesmo. Otis Redding, James Brown e Funkadelic tiveram um impacto grande. Demorei até 'entrar' no punk." Seu groove pescou John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers, de quem ficou amigo: "Ele chamou o Josh [Klinghoffer], um instrumentista talentoso, e criamos o Ataxia. O disco Automatic Writing foi composto e gravado em oito dias. John está mixando as músicas que sobraram, deve sair no ano que vem", promete.

2007 pode ainda guardar outros presentes para Lally, que faz 43 anos em dezembro. Da turnê brasileira, não descarta juros. "Ficaria feliz se rolassem projetos. Adoro Mutantes, bossa nova, Noel Rosa, Tom Jobim... dia desses escutei 'Inútil Paisagem'. 'Useless Landscape'! Não parece título de música do Black Flag? Eu preciso ser mais educado no tema. Porque ritmo é essencial a um baixista. E o ritmo mora no Brasil", decreta.