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Por Ademir Correa Publicado em 07/05/2008, às 19h36 - Atualizado em 12/05/2008, às 16h59

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No disco Na Confraria das Sedutoras, do 3 na Massa, você exercitou seu lado intérprete. Como foi essa experiência?

O Pupillo [que encabeça o projeto com Dengue e Rica Amabis] tinha falado comigo sobre a idéia e me convidou para participar. E eu: "lógico". Aí rolou "Lágrimas Pretas", essa letra do Lirinha [Cordel do Fogo Encantado]. A música tinha muito a ver comigo, eles foram de uma sensibilidade foda. Cheguei no estúdio e era um clima de arte. Fui intuitivamente. Depois, na mixagem, colocaram uns efeitos, ficou maior climão. Foi um passeio por um lugar que não é necessariamente rock, mas tem a ver... Não senti que me diferenciei tanto em termos de postura e sonoridade.

Nesse projeto, você fez parte de um grupo de vozes femininas que inclui as atrizes Alice Braga, Leandra Leal, as cantoras Céu, Thalma de Freitas, Nina Becker, Geanine Marques...

Umas meninas de teatro, de cinema, moda... Eles pinçaram mulheres que tinham uma personalidade interessante independente do que elas fazem na vida. Fico feliz de estar ali no meio.

Não tem medo de fazer um trabalho com o qual seus fãs não se identifiquem?

Nunca pensei muito nisso. Sempre achei que tinha essa liberdade [de experimentar]. São duas coisas completamente interligadas - o fato de você fazer arte e ter liberdade. Se você faz uma arte cercada, é sob encomenda. Não é o meu caso, não foi o que quis da vida, não foi por isso que montei uma banda. Não tenho medo das coisas, não tenho nada a perder, a verdade é essa. Tô mega aberta para as situações que me dêem prazer.

Há exatos cinco anos saía seu primeiro disco solo [Admirável Chip Novo]. Mudou muita coisa desde então?

Essa resposta é mais curta do que você imagina. Mudou bastante coisa sim. Musicalmente outras influências foram se agregando. Como pessoa, mudou pra caralho. Você começa a enxergar esse lance de ter uma banda. Tem gente que acha que é aquele glamour, sexo, drogas e rock'n'roll. Até pode ser, mas existe a parte burocrática, o trampo. E você aprende a lidar com sentimentos alheios. Ao mesmo tempo, no meio de tudo isso, tem que ter cuidado com as armadilhas. Entrei nessa e já tinha algumas convicções do que queria ou não. Mas, à medida em que as coisas foram acontecendo, vi que precisava ter muito mais coragem para dizer não. Uma carreira não é feita só das coisas que você faz, mas das que não faz. Neguei propostas de ganhar dinheiro pra caralho. Essas tentações apareceram e eu pensei: "Não vou fazer isso". Nunca precisei abrir mão de ser quem sou e de dizer o que digo.

Você nunca precisou abrir mão de sua personalidade, mas é uma mulher em um meio predominantemente masculino. É difícil ser uma entre tantos?

Pra mim é mega na boa. Sou mulher pra caramba, sou bem mulher, mas meio mulher-macho. Quando você se relaciona dessa forma, não cria uma distinção muito grande e aí não existe esse abismo pelo fato de eu ser mulher, ter uma banda formada por homens e todas as bandas que encontro na estrada também serem formadas por homens.

De alguma forma, Rita Lee abriu caminho para você?

Não sei. O hiato que existe entre o surgimento de uma e outra é muito grande. Não sei se não aconteceu alguma coisa nova.

Mas ela abriu espaço para as mulheres-compositoras...

Sim. Só não sei se continuo isso.

Falando de espaço, como foi a repercussão de ter tocado em uma final de reality show [BBB 8]?

Foi ambígua pra caralho.

A parte boa?

A parte "ótima" foi pela qual aceitei fazer que é o fato de você ser visto por milhões e milhões de pessoas em todos os cantos desse país. Pessoas que, muitas vezes, não têm nem o acesso à música que você faz, principalmente porque estamos em um segmento específico que é o rock. Quem gosta de rock é aquela galera que vai ali, que lê aquela revista, que ouve aquela rádio, que vê aquele site. Sabia que seria a oportunidade de dar um start em uma galera que, de repente, nunca tinha sido tocada por um outro estilo musical.

E a ruim?

Levando em conta que a gente chegou lá e fez a nossa parada do jeito que ela é, não teve parte ruim. Mas sempre tem aqueles da síndrome do underground. Ah, não tenho mais paciência pra isso.

Ouça aqui a participação de Pitty no disco Na Confraria das Sedutoras

Veja Pitty no curta-metragem Charles Manson