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Prisioneiro de Luxo

Wentworth Miller, o protagonista da série Prison Break, deixou ser um dedicado estudante de literatura para se tornar o réu mais desejado da televisão. Mas apesar do sucesso atrás das grades, ele não quer ficar preso a um único papel

Por Benjamín Salcedo Publicado em 10/11/2008, às 12h14

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O estúdio onde o primeiro episódio da quarta temporada de Prison Break é gravado se localiza em um canto de Los Angeles, Califórnia. Em Century City, para ser exato. Com certeza, muito perto do famoso edifício que Bruce Willis destroçou em Duro de Matar (no filme, batizado de Nakatomi Plaza) e que, hoje, abriga os escritórios corporativos da Fox TV. Depois de atravessar vários portões, entramos em um dos tantos estúdios do local. Aí, nos deparamos com um grupo de pessoas em frente a uns monitores. Uma delas levanta a voz a um volume invejável: trata-se do 12º diretor na história da franquia, em quatro temporadas: "Vamos de novo". Imediatamente, cinco das estrelas que compartilham a cena recriam, de maneira automática, o diálogo em questão. É até surreal presenciar tantos heróis e vilões juntos conversando pacificamente - os irmãos Michael (Wentworth Miller) e Lincoln (Dominic Purcell) se reencontravam com o amigo Sucre (Amaury Nolasco), com o ex-guarda - e traidor - Bellick (Wade Williams) e o bipolar e pouco confiável ex-policial Alex Mahone (William Fishtner).

A última vez que soubemos deles, no encerramento da terceira temporada (com lançamento em DVD previsto para janeiro no Brasil), Bellick e Sucre se encontravam ainda presos em Soma - inóspita prisão supostamente no Panamá, mas que, na realidade, foi filmada no Texas. De repente, estavam todos em um escritório governamental, agradecendo a ajuda de Michael. A cena se repetiu muitas vezes, de vários ângulos, até que outro estrondoso grito a deu por aprovada. Saíram do set todos os mencionados, que, para minha surpresa, pareciam mais uma equipe de basquete do que um grupo de atores de seriado.

Com 36 anos e quase 1,90 m, Wentworth Earl Miller III tem personalidade impactante, não muito diferente do personagem que interpreta. Aliás, as semelhanças do ator com o herói são evidentes: o cenho franzido, a análise detalhada de cada comentário, a habilidade para escapar de perguntas que lhe pareçam incômodas. "Sempre quis ser ator, desde criança", ele começa, já acomodado no restaurante do estúdio, "mas, com o passar do tempo, isso me parecia cada vez menos realista. Meus pais são professores universitários, sempre enfatizaram bastante a educação e sabia que primeiro eu deveria obter um diploma, para depois me dedicar ao que quisesse. Fui para a Universidade de Princeton [Nova Jersey], e atuar parecia mais um hobby do que uma carreira, mas sempre me atraiu a idéia de trabalhar com televisão ou cinema".

Ele continua seu monólogo, quase sem respirar. "Coloquei minhas coisas no meu velho Toyota e dirigi da Pensilvânia até Los Angeles, em 1995. Lá me esperava um emprego, um amigo do meu pai tinha uma produtora que fazia filmes para televisão. Fiz de tudo, de ajudante sem salário, passando por chefe de escritório, assistente de direção, levava o cachorro para passear, comprava comida e tirava xerox, durante um ano e meio. Mas percebi, inconscientemente, que estava lá para me converter em ator. Precisava me arriscar ou sempre me perguntaria: 'O que teria acontecido se tivesse tentado?' O pior que poderia ter acontecido era que eu retomasse minha carreira ou trabalhasse em produtoras, estúdios ou outro emprego na indústria. Foi o que fiz durante seis anos, percorrendo a cidade e as oportunidades que apareciam. Conheci a indústria de uma perspectiva diferente da maioria dos atores. Valorizo o trabalho que está por trás de um filme ou de uma série."

Nascido em Oxfordshire (Inglaterra), Wentworth se mudou para os Estados Unidos com a família quando tinha 1 ano de idade. Hoje, conscientemente, ele tem a delicadeza de sempre avisar-lhes quando algo terrível vai acontecer com Michael na série para que não fiquem muito impactados. Aliás, é possível imaginar que um ator que interpreta um personagem com tamanha complexidade psicológica e física teria tido tempo para se preparar ou fazer laboratório com presidiários. Não foi bem assim para Miller, já que foi escolhido poucos dias depois de sua audição e começou a filmar imediatamente. De fato, ele foi o último ator que se integrou à equipe, em 2005.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 26, novembro/2008