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A Menina do Lado

Sasha Grey, a maior estrela do pornô mundial, lê Nietzsche, gosta de sexo violento e diz que luta pela liberação das mulheres – entre uma orgia e outra

Por Vanessa Grigoriadis Publicado em 10/07/2009, às 17h57 - Atualizado em 13/09/2013, às 13h54

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Sasha Grey é hoje a atriz mais popular da indústria pornô norte-americana - FOTO THEO WENNER
Sasha Grey é hoje a atriz mais popular da indústria pornô norte-americana - FOTO THEO WENNER

Em um domingo encoberto em Los Angeles, Sasha Grey chega ao set do filme The Fuck Junkie exatamente às 9h. Esse não é o nome verdadeiro dela, apesar de ser uma alcunha bem sutil para uma estrela pornô - mistura Sascha Konietzko, um dos fundadores da banda alemã de rock industrial KMFDM, e a escala Kinsey de sexualidade, que identifica a orientação sexual com tons de cinza ("gray", em inglês). A locação da filmagem também é inesperada: um armazém de tijolinhos no centro de Los Angeles, longe do epicentro pornô em San Fernando Valley. Em seu camarim, a atriz desfaz uma mala cheia de maquiagem, lingerie e dúzias de fivelas; depois, aplica uma camada grossa de delineador nos olhos, na frente de um espelho. "Ninguém no pornô sabe fazer maquiagem direito", ela diz, enquanto passa o pincel pela pálpebra. "A única coisa que sabem fazer é deixar o meu rosto laranja. Prefiro fazer sozinha. Prefiro que a culpa seja minha."

Sasha, que é conhecida por explorar os limites extremos da pornografia, hoje vai gravar uma cena solo. É a primeira empreitada da Grey Art, a nova produtora que ela abriu com o diretor Oren Cohen, 31 anos, fornecedor de produtos pornográficos de terceira geração. "Esta empresa é minha, é um novo capítulo, um passo positivo para mim", ela diz. "Eu queria que ela começasse direito." Aliás, tomar atitudes deliberadas e simbólicas é a característica que a define. Aos 21 anos, ela já conseguiu dar seu pulo do gato: é a princesa reinante da indústria do entretenimento adulto, premiada como Atriz do Ano de 2008 pela revista Adult Video News; é musa de estrelas do rock, apareceu em clipes do Smashing Pumpkins e do The Roots; e, o mais impressionante, ela pode vir a causar sensação em outro ramo - estreou no cinema como a protagonista de The Girlfriend Experience, filme de Steven Soderbergh em cartaz nos Estados Unidos.

"Na indústria do entretenimento adulto, a gente é forçada a crescer e a trabalhar por conta própria. Senão, outra pessoa vai trabalhar e você já era", ela diz, antes de tirar o vestido de algodão. "Talvez só existam quatro pessoas nessa área com quem ando, porque são interessantes e não cheiram pó. Não telefono para ninguém para dizer: 'Oi, vamos à manicure?'. Eu faço as minhas próprias unhas."

Com 1,70 metro, 50 quilos e cabelo preto liso que chega até a região lombar, o corpo nu de Sasha é um primor, natural; sua pele lisa não tem marcas nem tatuagens (seu físico se parece com o da atriz Kate Beckinsale, e seu jeito é uma mistura de languidez e arrogância brutal). "Até onde eu sei, meninas do tipo 'suicide girls', com cabelo preto e tatuagens, são as novas loiras com peitão de silicone", ela fala. "Aquelas mulheres são todas iguais, idiotas." Ela pega uma calcinha de babados da mala, depois reconsidera a escolha e opta por um fio-dental preto. O tema pornô do dia é "gravatas". Ela examina uma gravata verde antes de escolher uma preta e mostra para Cohen.

"Você acha que vai ser com essa?", ele pergunta.

"Pode ser que sim", Sasha responde e concorda com a cabeça. "Estou sentindo que sim."

Por mais clichê que seja citar o olhar perdido e árido das pessoas que trabalham na indústria do sexo, há alguma coisa em Grey que é difícil captar, como se você estivesse falando com uma mulher atrás de um vidro. Quando ela se empoleira em uma cadeira no meio do armazém, joga os olhos para um holofote por cima dela e começa a se masturbar, o vidro se despedaça. A equipe observa em silêncio. Estamos a 6 metros dela, mas poderiam ser 60 centímetros. Ela se toca de maneira mecânica, transferindo os dedos para a boca mais ou menos a cada 30 segundos, até o momento em que se enforca com a gravata e irrompe em um orgasmo de minutos, com os olhos fechados - e isso faz com que todo mundo solte a respiração e bata palmas. Em seu êxtase, ela é a visão de uma deusa apavorante, alimentada por sua própria energia de prazer, que avança sem perdão para destruir os tímidos e seguros hábitos sexuais de nosso mundo. As performances dela são calibradas para desestabilizar, e atingem seu objetivo. Se Sasha estivesse masturbando outra pessoa daquele jeito, seria um ato de violência; mas, como está fazendo aquilo consigo mesma, tudo bem.

Como as mudanças culturais, a recessão e a era digital transformaram completamente as empresas de entretenimento, talvez só haja uma maneira de os artistas sobreviverem: ficar muito mais espertos, tornar suas visões exclusivas e buscar diversas fontes de rendimento. No passado distante, o pornô era o paraíso dos trouxas, em que fitas em VHS e brinquedos sexuais de borracha eram artigos de luxo; depois da internet, uma compilação de cinco horas de pornô em DVD sai por poucos centavos se for comprada no atacado, e ninguém acredita na estimativa de que essa indústria esteja avaliada em US$ 13 bilhões. Hoje, o acesso à pornografia está mais fácil do que nunca. Sasha Grey é a primeira atriz que apareceu nos últimos tempos com uma chance de se sobrepujar ao sistema falido - e de recuperar uma parte do estigma de seu setor de atuação.

Sasha se mudou para Studio City (região de Los Angeles) aos 18 anos, depois de economizar US$ 7 mil e escrever de próprio punho uma carta de intenção: "A maioria dos filmes adultos que vejo é um tédio, e nenhum me excita do ponto físico nem visual", dizia o documento. "Estou determinada e pronta para me transformar em objeto que atenda às fantasias de todos." No entanto, passar um tempo com ela é menos parecido com estar na companhia de uma executiva do que com uma anarquista de idade avançada ou de uma pessoa cuja vida se define por se destacar do mainstream (apesar de o lado prático dela aparecer em sua abstinência de drogas e bebidas, assim como sua escolha de carro, um sedã Saab cinza). Ela se recusa a bater papo furado, desdenha de delicadezas como sorrir ao entrar em algum lugar e desconfia profundamente da imprensa, citando o famoso ditado de Godard: "Toda edição é uma mentira".

Sasha não divulga seu cachê, mas a certa altura, na minha presença, ela considera se vai aceitar fazer uma cena de homem-mulher por US$ 5 mil. Ela fez cursos de atuação na adolescência e sabe lidar bem com críticas. Ela tem um jeito só seu de destruir convenções com sua conversa: diz que deseja ir ao programa do comediante Howard Stern com a bandeira da Palestina em volta dos peitos, porque acredita que ele é um racista enrustido; acha que a apresentadora Oprah Winfrey não dá dinheiro suficiente para a caridade, afinal, por mais que ela dê, sempre terá milhões sobrando. "Adoro o fato de Sasha ser intimidadora, poderosa e introspectiva", diz o guitarrista Dave Navarro, ex-Red Hot Chili Peppers e Jane's Addiction, que dirigiu Sasha no pornô Broken e hoje é o coempresário dela. "Quando se está perto, você não sabe o que ela está pensando, mas fica morrendo de vontade de saber."

No futuro, pode ser que Sasha venha a travar muitas batalhas contra a sociedade, mas, hoje, só está atrás de uma: a liberação da sexualidade feminina. "Quero dizer às garotas que sexo é legal", ela diz. "Tudo bem ser vagabunda. Não precisa ter vergonha. As pessoas acham que as mulheres não conseguem entender o sexo, que haverá consequências pelas nossas ações, mas nós somos capazes de ser tão analíticas quanto qualquer um."

"Eu sou pervertida", ela diz, negando ter sofrido abuso sexual. "Se estou trabalhando alguma questão pessoal por meio da pornografia, é a raiva da sociedade por não ser aberta em relação ao sexo." Na frente da câmera, é vulgar e agressiva, berra com os atores, dizendo para irem "mais fundo" e fazerem "mais forte" (ela é famosa por ter pedido ao ator que contracenava com ela em sua cena de estreia que lhe desse um soco no estômago). Ela ridiculariza o pornô leve, dizendo que só serve para "donas-de-casa que tomam Valium". Ela é rápida em enumerar seus tabus: cenas de simulação de estupro, ejaculação dentro da vagina, dedos de atores homens, tapa nos peitos, brincadeiras com fezes, animais e crianças - e isso significa que todo o resto é bem aceitável. Ela afirma que tem orgasmos genuínos pelo menos três quartos do tempo quando está em cena. "Muitas mulheres que fazem pornô fingem, mas eu nunca peguei Sasha fazendo isso", diz o ator Randy Spears. "Quando ela diz coisas fortes na frente da câmera, ela fala sério, porque está tentando nos matar. Nessa hora, ela só vai desistir se isso acontecer."

Atualmente, Sasha mora em uma casa moderna em Hollywood com o noivo, Ian Cinnamon, um diretor mulato de 34 anos que diz ser "95% heterossexual" (e esse, aliás, é o nome verdadeiro dele). Uma coleção da revista de arquitetura Dwell está organizada no banheiro e um pôster de La Chinoise, filme de Jean-Luc Godard, um presente de Soderbergh, está pendurado na sala. Nas estantes, a coleção é tão rigorosamente esotérica que chega a ser ridícula, uma biblioteca monástica de universitário de Nietzsche e Brecht e, para uma leitura mais leve, a inescrutável A Filosofia de Andy Warhol. Uma amostra de discos de vinil e DVDs está organizada atrás de uma cortina, dividida entre caixas de produções artísticas e os pornôs de Sasha, com títulos como Blow Me #11, Apprentass #10 e Meet the Fuckers #7.

A julgar pela qualidade das pessoas que tomamos como parceiros, a presença de Cinnamon diz muito sobre Sasha: é um desconhecido diretor de filmes independentes (criado pela mãe dançarina), equilibrado, doce e simpático. Ele e Sasha começaram a namorar mais ou menos na época em que ela começou a fazer pornô, com 18 anos, em sua primeira "relação séria e profundamente emocional", como ela descreve. A relação é "aberta", apesar de eles não aproveitarem esse benefício com muita frequência (fora do set, ela já foi para a cama com seis homens; na frente da câmera, uns 60). "Aprendemos muito sobre nós mesmos enquanto casal, e você aprende muito sobre si mesmo enquanto homem", diz Cinnamon, ao comentar sobre a profissão de Grey. "Mesmo eu sendo um cara liberal, continuo sendo um homem. Você passa de uma relação sexual normal, que significa 'eu me excito, chego perto e transamos' para uma relação cheia de regras. Se ela fala 'Eu vou trabalhar amanhã' significa 'eu não posso ficar ralada'. De verdade, não fico com ciúme do sexo. Eu fico meio chateado porque demora muito."

Depois que Cinnamon prepara um jantar leve (salada verde e frango grelhado), Sasha ferve água para um chá enquanto mostra o protótipo de seu site novo, administrado por ela mesma. Vai clicando em fotos-fetiche, como uma em que ela usa uma cinta com um pênis de borracha acoplado e olha sarcástica para a câmera, e depois em uma série de ícones que levam a entrevistas com os artistas preferidos dela. Os links não funcionam, e o lado perfeccionista dela se irrita. Cinnamon me mostra o apartamento, apontando para uma imagem emoldurada que o fotógrafo Terry Richardson fez dos dois no banheiro do andar de baixo, mas Sasha entra de supetão. "Preciso fazer xixi, e não quero subir", ela explica, brusca.

No canto, vejo um saltério chinês (instrumento de corda de origem medieval): Sasha, que toca violão, formou uma banda chamada aTelecine (que lançou um EP de vinil e vendeu todas as 300 unidades prensadas). O casal, que também pretende comprar um teclado Moog, é fã de rock industrial; foram ao festival Coachella só para assistir ao show do obscuro grupo Throbbing Gristle.

De repente, ela irrompe do banheiro e dá a maior cortada em Cinnamon: "Você parece uma esposa!"

Com essa atitude de "quem manda aqui sou eu", às vezes é difícil encarar Sasha Grey. A certa altura, ela começa a falar sobre uma mensagem de texto que recebeu de uma celebridade que tinha acabado de assistir a um de seus vídeos: "Ele diz que está fissurado em mim e que está limpando porra da barriga!" Ela não acredita em Deus e não tem medo da morte. Parece ter relegado seu lado feminino em favor do masculino, que só dá valor à bravura, às conquistas e à pilhagem. Às vezes, ela parece tão calculista quanto qualquer atriz mainstream.

Nascida em North Highlands (em Sacramento, Califórnia), Sasha é a terceira de quatro filhos. O pai dela, um mecânico greco-americano, abandonou a família quando ela tinha 5 anos e eles não se falaram mais. "Há pouco tempo, ele pediu para a minha irmã me dizer que ele me amava, e que esperava que 'ela consiga fazer tudo que ela diz que é'", ela conta. "Basicamente, ele disse: 'Espero que ela não ferre com tudo'." A mãe trabalhava para sustentar a casa e se casou com um homem com quem Sasha não se dá bem ("A relação deles era a tradicional 'mamãe faz o jantar', e isso me dava nojo", ela diz). Menina com jeito de menino, um tanto reservada, nunca brincou de Barbie; preferia escutar Beatles e Rolling Stones, depois Black Sabbath e Led Zeppelin, seguidos por Skinny Puppy e Nine Inch Nails. "Teve uma menina que disse: 'Sempre tive medo de que você fosse me bater', e eu nunca tinha falado com ela", Sasha ri. "É engraçado como a gente passa uma impressão para alguém sem nunca ter dito nada."

Como Freud ensinou, as crianças têm fantasias sexuais, que suprimem mais tarde, mas Sasha diz se lembrar bem das dela. "Desde que eu tinha 4 ou 5 anos, imaginava muitas fantasias com bondage e sadomasoquismo", ela diz. "Eu me lembro bem de um sonho em que eu descia por um poço até uma sala preta enorme. Eu estava algemada lá, trepando com um cara." Ela contou isso para a melhor amiga, que contou para os pais dela. "Eles disseram que eu não podia sonhar aquelas coisas de adultos. Me senti muito culpada por não poder ter aqueles pensamentos." Ela também diz que ela e outra amiga fizeram sexo oral uma na outra por volta dessa idade. Mais tarde, ela tinha sonhos eróticos de sexo entre homens e gostava do prazer masoquista de ralar o joelho. "As crianças faziam piada com sexo anal, e eu ficava pensando como se fazia aquilo, não em tom de piada", ela conta. "Perguntei para a minha mãe se ela pensava naquilo, pelo menos com o dedo, e ela só dizia que era um nojo e dava risada."

Sasha teve o primeiro namorado na 8ª série, mas só perdeu a virgindade aos 16, com um velho amigo. "Nós ficamos na minha casa, assistimos uns filmes e ficamos bêbados, e eu fiquei, tipo, 'vamos transar'", ela lembra. "Eu que o ataquei. Minhas amigas diziam que a primeira vez não é legal, mas eu gostei muito." O irmão de Sasha disse para ela não acreditar que os homens que queriam sexo também estavam interessados em amor, de modo que ela resolveu não se envolver com ninguém. Ela detestava a escola, faltou ao baile de formatura e se recusou a fazer a prova para tentar uma faculdade. Não demorou para se envolver com uma pessoa interessante: um cozinheiro de 27 anos, funcionário de uma churrascaria. "Eu contei as minhas fantasias para ele, e ele disse que também queria explorá-las", ela conta. Começou a assistir a pornô na internet, daí aprendeu a técnica do estrangulamento e passou para o sexo anal. Tudo que ele fazia com ela, ela fazia questão de poder fazer com ele também.

"Era muito saudável", ela diz, mas logo faz uma pausa. "Quando tinha 18 anos, eu me dedicava tanto a explorar o lado mais bruto da minha sexualidade que pensava: 'Não quero saber de beijar alguém'", ela diz. "Ainda gosto disso, mas agora que já explorei a questão em sentido mais profundo, profissional e pessoal, é bom poder dar um passo atrás e dizer, 'bom, não gosto que batam na minha vagina, talvez um pouquinho, mas não do mesmo jeito que gosto que me batam na cara'." Pergunto a ela quais são os atos sexuais que ela ainda deseja desempenhar, e ela pensa. "Tem uma fantasia que ainda não realizei", diz. "Quero transar em cima de uma máquina de lavar. Mas, em todos os lugares que morei, a máquina de lavar e de secar ficam empilhadas, então não dá para sentar em cima. Fico louca com cheiro de roupa lavada."

E difícil exagerar a raiva das garotas norte-americanas de 21 anos com os padrões duplos da cultura do país: seja sensual, mas não muito; assertiva, mas não exigente; e todas as outras besteiras que permitem aos homens roubar o poder. É possível que parte do prazer que Sasha tira da própria vida seja um tipo de vingança contra este sistema, uma renúncia às relações distorcidas entre os sexos que têm o intuito de enfraquecer as mulheres. Para ela, o mundo do sexo "normal" não tem sofisticação, e ela com frequência conta histórias sobre ser maltratada por pessoas que se sentem culpadas por não terem adotado o mesmo caminho que ela. Mesmo com a chance no filme de Soderbergh, ela ainda não conseguiu contratar um bom agente em Hollywood, porque eles têm medo de que os outros clientes não vão gostar de estar na mesma lista de uma estrela pornô. "A [vodca] Grey Goose ia patrocinar a festa de lançamento do filme, e quando descobriram que Sasha fazia filmes adultos, eles desistiram", diz Soderbergh. "O pornô hoje vai além do mainstream, a ponto de todo mundo que aparece na TV parecer estar em um pornô. Mas continua imperando a ideia de que o pornô é errado."

Há algumas semanas, Sasha foi jantar no restaurante italiano Pace, no bairro Laurel Canyon. Ela estava cansada após um dia de filmagens de This Ain't Star Trek XXX, em que ela faz o papel de uma vulcana tarada pelo Capitão Kirk. Ela exibe uma marca no braço por ter tirado sangue para um exame de sífilis. Já pegou gonorreia duas vezes e clamídia uma vez - "É igual a pegar um resfriado", ela explica - e exige que os parceiros sejam examinados dias antes de uma cena. "Quando o seu corpo é o que você vende, pegar qualquer coisa faz você se sentir uma merda", ela diz. "A minha reputação é boa o suficiente para que eu possa exigir testes de quem contracena comigo."

A franqueza de Sasha é assustadora, e apesar de ter falado um pouco alto demais, ela consegue me convencer de que não é a vítima. Ela pode ser apenas mais uma aspirante a estrela cheia de determinação, que explora sua perversidade em busca da fama. E não ficou claro se as mulheres ditas "tradicionais" irão mesmo se beneficiar de sua busca incessante pela liberdade sexual. Nos últimos 40 anos, o enigma do pornô e o seu significado em relação à violência contra a mulher foram debatidos em círculos feministas, sem conclusão à vista. Por mais que seja de partir o coração a ideia de que muitas estudantes irão para a cama com rapazes que esperam delas atitudes iguais às de Sasha Grey, também seria muito triste pensar nela como uma secretária reprimida que precisasse viver suas fantasias em segredo, pela internet. Alguém irá sair perdendo aqui, e não será Sasha. "Estou defendendo o meu pedaço", ela diz.

Sasha musical

Além de atriz pornô multipremiada, Sasha Grey também se aventura pela música. Em janeiro de 2009, na época do lançamento do primeiro single do aTelecine, seu projeto de música eletrônica, a norte-americana falou com exclusividade ao site da Rolling Stone Brasil. Leia a entrevista aqui.