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As vítimas voluntárias de Borat

Neil Strauss Publicado em 14/08/2007, às 12h14 - Atualizado em 28/08/2007, às 13h19

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Mike Psenicska, instrutor de auto-escola

"No final de maio de 2005, recebi um telefonema de um senhor dizendo que estava fazendo um documentário a respeito do modo de vida norte-americano para pessoas de países estrangeiros. Eles apareceram com uma equipe de produção completa, e o produtor chegou para mim e disse: 'Ah, estou com pressa'. Então, ele empurrou uns papéis para assinar e esfregou US$ 500 embaixo do meu nariz. O Borat só apareceu no último minuto. Ele entra no carro e começa com a piada do cinto de segurança. Enrola o cinto em volta do pescoço. Coloca na virilha. Isto não está no filme. Demorei cinco minutos para colocar o cinto no cara. A minha mulher até me perguntou como é que não percebi o que estava acontecendo. Respondi: 'Então, olha, estou em um carro em movimento, dirigindo. Não tenho tempo para analisar que diabos ele está dizendo'. Apesar de suscitar risadas, é cruel. Tenho 14 netos, e eles não podem ver uma coisa dessas. E certamente não aprecio o fato de que, daqui a 34 anos, meus bisnetos vão dizer: 'Sabe, em 2006, o nosso bisavô apareceu em um vídeo proibido para menores'."

Jim Sell, vendedor de carros

"Assinei um documento; jogaram na minha frente bem rapidinho e me deram US$ 150. Realmente não tive oportunidade de ler, porque logo começaram a filmar. Quando fui apertar a mão dele, ele me beijou nas bochechas. Ele me dá uma caneta e diz que é um presente do país dele para mim. E eu falei: 'Tudo bem'. Olhei para aquilo - tinha uma bandeira dos EUA de um lado e da KKK do outro. E o entrevistador começou a me fazer umas perguntas loucas. 'No meu país, para confiar em alguém, é preciso pegar no saco da pessoa.' E eu respondi: 'Senhor, não podemos fazer isto aqui; olhe só para o que aconteceu com o Michael Jackson'. E, de repente, ele começa a cantar uma música do Michael Jackson - e a dançar. Ele me ofereceu US$ 1.600 por um jipão militar Hummer novo, e eu falei: 'Não dá para comprar um veículo de US$ 70.000 por US$ 1.600'. Então ele ofereceu colocar algumas carnes secas no negócio. Eu disse que por US$ 1.600 eu só tinha um carro por atacado com alta quilometragem. É aí que eles passam para o caminhão de sorvete. Eu não vendi um caminhão de sorvete para eles. Passei muito tempo com esse cara, e agora o filme está rendendo um montão de dinheiro, e eu só recebi meus 150 paus'."

Linda Stein, artista, veterana entre as feministas norte-americanas

"Os produtores me disseram que era um documentário para ajudar mulheres do Terceiro Mundo. Por ser ativista, respondi 'sim'. Primeiro, fui entrevistada por uma tal de Chelsea Barnard, que apareceu no meu estúdio no dia anterior e fez algumas perguntas, inclusive se eu assisto à televisão. Antes da entrevista, jogaram um pedaço de papel na minha frente e me disseram que era um contrato bem padrão. A mulher que disse ser Chelsea pareceu tão inocente e amável - este é o primeiro trabalho dela e ela quer ser produtora de documentário - que eu nem li as letras pequenas. Borat entra vestindo um terno que parece estar sendo usado pela primeira vez. Começou a entrevista de maneira benigna. Olhou para a escultura e disse: 'Gostei deste trabalho. Estas são umas guerreiras ótimas'. Então, é claro, vem a afronta. Depois que ele disse que o cérebro das mulheres é menor do que o dos homens, eu respondi: 'Chega, saia daqui'. A produtora se aproximou: 'Linda, ele é de um país do Terceiro Mundo. Não sabe nada sobre isto. Por favor, dê mais uma chance'. Como Borat, ele fecha nas fragilidades e fraquezas dos entrevistados. Acho isso interessante. Acho que ele obtém mais sucesso com o anti-semitismo do que com a homofobia. Acho que não obteve sucesso com o sexismo. Achei partes do filme hilárias. Ele é um sujeito talentoso e eu lhe desejo tudo de bom. Mas devia pelo menos comprar uma escultura minha. Está me devendo uma."