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Noite de Vaias

Uma Noite em 67 revela os detalhes do histórico festival de música promovido pela Record no fim dos anos 60

Por Cirilo Dias Publicado em 11/05/2010, às 06h17

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<b>SEM GUITARRA</b> Gilberto Gil, que diz já ter subido reprovado ao palco - Camilla Bjorvig
<b>SEM GUITARRA</b> Gilberto Gil, que diz já ter subido reprovado ao palco - Camilla Bjorvig

Ovos raspando os narizes do júri, artistas surtando, público enlouquecendo e o improviso da equipe técnica, que, na tentativa de transmitir tamanha energia concentrada em um auditório lotado, chegou a pendurar um microfone no teto. Em 1967, a final do III Festival da Música Popular (TV Record) reuniu Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo - alguns dos nomes que moldariam a música popular brasileira nos anos seguintes. É esse ponto tão importante da MPB que o documentário Uma Noite em 67 pretende esmiuçar. "A princípio, nós pensamos em usar esse festival como fio condutor para contar o que aconteceu antes e depois dos festivais. Mas, ao longo da montagem, percebemos que tínhamos de focar mais especificamente em seis músicas da final de 67: 'Ponteio' (Edu Lobo); 'Domingo no Parque' (Gil e Os Mutantes); 'Roda Viva' (Chico Buarque); 'Alegria, Alegria' (Caetano); 'Maria, Carnaval e Cinzas' (Roberto Carlos)", diz Ricardo Calil, que dirigiu o documentário ao lado de Renato Terra.

O filme deve estrear em abril, no festival É Tudo Verdade, em São Paulo, e leva o espectador a relembrar (ou descobrir) essa noite, que ainda contou com a "invasão da guitarra elétrica" na música brasileira. "Durante a faculdade tinha uma aula específica sobre música brasileira e fiquei apaixonado pela maneira como a professora explicava a MPB. Foi quando deu o estalo de fazer o documentário", explica Terra, para depois revelar o arrependimento em ter de deixar de fora alguns momentos preciosos do evento. Como o protesto contra a guitarra elétrica, que teve a participação de Elis Regina e Gil. "Eu tinha pânico de provas e estava morrendo de medo de cantar. E eu estava ali respondendo a uma série de questões polêmicas, complicadas e tendo que ser aprovado, já submetido a uma reprovação antecipada por ter participado do protesto", revela Gil no documentário.

Outros momentos preciosos são os vídeos das apresentações de Roberto Carlos e Caetano Veloso, que conseguiram enfrentar e dobrar as vaias na base do sorriso. Diferentemente de Sérgio Ricardo, desclassificado após estraçalhar o violão e atirar os pedaços na plateia depois de tentar cantar "Beto Bom de Bola". Além de entrar para a história da música, o episódio ainda serviu para que o Rei Roberto fizesse piadas, registradas pela equipe da TV Record que cobria o evento. "Na época era comum a vaia e quase todos os artistas foram vaiados com a mesma intensidade. Os conservadores vaiavam Caetano e Gil, mas o ápice foi o episódio do Sérgio. Já o Roberto estava sorrindo e reagiu com o profissionalismo que viria a demonstrar ao longo de sua carreira. Até hoje ele fala com tranqüilidade sobre aquela noite", diz Calil, que conseguiu registrar um depoimento de Roberto Carlos para o filme, com a ajuda do pesquisador Zuza Homem de Melo. Após a exibição no festival É Tudo Verdade, o filme deve estrear no circuito nacional.