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Vivendo o Sonho do Outro

Diretor Johnny Araújo quer levar a história do começo do Planet Hemp ao cinema, com o apoio de Marcelo D2

Por Endrigo Chiri Braz Publicado em 11/05/2010, às 06h28

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<b>NO COMEÇO</b> Skunk (o primeiro a esq.), com o Planet Hemp - Divulgação
<b>NO COMEÇO</b> Skunk (o primeiro a esq.), com o Planet Hemp - Divulgação

Marcelo D2 e amigos bebem no Baixo Gávea, Rio de Janeiro, em meados de 2006. Johnny, presente na mesa, é quem conta a história: "A gente estava tomando um chope, cada um contando como começou, aí no meio do papo o Marcelo, que estava um pouco emocionado lembrando do começo de carreira, falou uma frase que ficou na minha cabeça que é 'Eu vivo um sonho que não é meu'. Não desse jeito declamado, mas jogado no meio do papo. Aí ele contou como foi o encontro dele com o Skunk, o cara que idealizou com ele o Planet Hemp". O diretor de cinema João Araújo, dono do vulgo Johnny, naquela noite foi para casa mastigando a frase do amigo. Araújo e D2 se conheceram no fim de 2002, quando o cantor carioca convidou o diretor paulista para fazer o clipe do single de seu próximo disco, A Procura da Batida Perfeita. "O clipe de 'Qual É' foi um divisor de águas, tanto para minha carreira quanto para a dele. O Marcelo ganhou prêmio pra caramba, e, por consequência, eu também", lembra o diretor. "Eu ouvi o disco, dei uma pirada, juntei umas referências, mostrei a ele e foi incrível. Sinergia imediata." Que virou amizade de longa data. De lá para cá, foram mais oito ou nove clipes juntos - "A gente contou semana passada, de brincadeira" -, sendo que o último é o recém-lançado "Ela Disse". João Araújo já não faz videoclipe há algum tempo, só retoma essa atividade para o amigo - decisão que parece acertada, afinal a diferença orçamentária entre o primeiro e o último clipe que ele dirigiu para D2 é de R$ 80 mil. João migrou para a publicidade e hoje busca se firmar na direção de cinema. Sua estreia em longa-metragem foi com O Magnata, de 2006.

Certa noite, ainda encafifado com a história do sonho, o diretor retomou o papo do começo de carreira, e lembra que o músico disse que "sempre foi um cara que deixava as coisas acontecerem, que nunca teve um sonho, que nunca planejou nada". Quando D2 conheceu Skunk, ele tinha uns 21 anos, já era pai de Stephan, e gostava de música, mas trabalhava como camelô vendendo muamba do Paraguai na Praça 13 de Maio, no centro do Rio de Janeiro - ponto de encontro da rapaziada que gostava de música. Skunk era um cara de classe média, envolvido na cena musical e cultural do Rio havia muito tempo. O encontro casual entre eles, no camelódromo do centro, virou empatia musical que deu origem ao Planet Hemp. E é justamente a casualidade do encontro que deixou o assunto martelando na cabeça de João Araújo por tanto tempo. Ele lembra que seu começo de carreira foi parecido. Estudante de administração que seguia o caminho do pai, um dia se encontrou com um amigo do colégio e foi beber uma cerveja. O amigo falou que estava trabalhando num agência de propaganda e que ia tentar conseguir um estágio pra ele. E foi assim que João trocou a calculadora por uma câmera de vídeo. Por isso, o diretor ficou tão fascinado com a história do encontro casual de D2 e Skunk, com o fato de, de repente, você encontrar na rua um cara que vai mudar sua vida. "Na verdade, a vontade de fazer o filme veio disso, não de contar a história do Planet Hemp ou do D2, mas a história de uma amizade que deu certo, que colocou o Marcelo no caminho que ele está até hoje", explica, "e o mais bacana de tudo é que quem tinha esse sonho era o Skunk. E é bacana saber que o sonho do cara está aí, através do Marcelo, que não tinha nenhuma aspiração nesse sentido, mas que era um cara que tinha um talento natural. A grande sacada do Skunk foi ter percebido isso. Então, o Skunk não está mais aí, mas continua vivo de certa forma".

Batizado provisoriamente de O Meu Tempo É Agora, o filme irá abordar o ano e meio que antecede o estouro do Planet Hemp. Termina um pouco antes da gravação do disco Usuário (1995). Com roteiro dividido entre Araújo, Patrícia Andrade, Nelson Motta e Jorge Brennand (que foi uma espécie de mentor dos músicos) e trilha sonora de D2 e Mario Caldato Jr., o filme está em fase de captação de verbas e tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2011. O elenco começa a tomar corpo agora. É certo que o ator João Miguel (de Estômago) fará o papel de Brennand, que Stephan Nercessian será o pai de D2, que Nanda Costa será a mulher, e que Seu Jorge interpretará um camelô. "Para fazer o Marcelo a aposta é o Thiago Martins. Para o Skunk nós estamos procurando. E tem um personagem estrangeiro, que é dono do bar Liberdade Futebol Clube, berço de toda essa galera, para o qual estou esperando resposta do Vincent Cassel, que está bem interessado mas pediu um tempo pra ler o roteiro com calma", adianta. "A melhor definição [para esse trabalho] é 'baseado em fatos reais'. A vida real é muito interessante, mas às vezes é pouco cinematográfica. Então é uma história real com licenças poéticas."