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Ainda Autênticos

Redação Publicado em 13/03/2009, às 09h10 - Atualizado em 12/05/2009, às 21h27

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Multishow Registro
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Vanguart

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Universal

Com o nome feito no universo indie, quinteto folk de Cuiabá busca novos horizontes e mantém a personalidade

A trajetória do vanguart parece confirmar a teoria da relatividade: começa num quarto, na remota Cuiabá, sobrevoa o futuro implícito das grandes capitais, faz uma curva graciosa e pousa na pista de um passado paralelo, um outro tempo, híbrido, muito semelhante aos anos 60, mas com elementos do novo século. É A partir desse tempo/local, em que convivem a gramática peculiar de Bob Dylan e o pop lisérgico dos Beatles, mas também a veiculação livre de música na internet e a nova cultura de festivais independentes no país, que os cinco integrantes do Vanguart construíram seu presente. O novo disco, registro de uma apresentação ao vivo feita no dia 11 de dezembro de 2008 no Bar Avenida (SP)para o canal Multishow, é lançado pela gigantesca Universal e mostra que a alquimia conseguida pelo combo cuiabense, essa liga de nostalgia e novidade, tocou o duro - e cada vez mais inseguro - coração da indústria musical. O folk-rock à brasileira do Vanguart, um gênero talvez necessário, sem subterfúgios, que tem na paulistana Mallu Magalhães outra referência, surge como uma possível tábua de salvação. Qual é o segredo?Muito simples: a autenticidade. Palavra difícil de explicar, mas fácil de entender, veste na medida a postura do Vanguart, uma banda de melodias cativantes e letras poéticas, cujo objetivo parece ser puramente o transporte que a música pode proporcionar. O carisma e a voz personalíssima do vocalista e compositor Hélio Flanders também contam muito. O líder é habilmente acompanhado por David Dafré (guitarra), Reginaldo Lincoln (baixo), Luiz Lazzaroto (teclado) e Douglas Godoy (bateria). Ao vivo, canções como "Semáforo", com suas frases surrealistas e levada contagiante, as românticas "Hemisfério" e "Enquanto Isso na Lanchonete" e a sombria "Cachaça", presentes no primeiro disco, lançado em 2007como encarte na revista Outra coisa, ganham corpo e intensidade, e carregam consigo o público, que responde entusiasmadamente, cantando junto em vários momentos. Mesmo as composições em inglês ou espanhol- pois o Vanguart é uma banda trilíngue-, como a bela "Last Days of Romance", com arranjo de cordas e piano, a enigmática "Robert" (quem é ele? Robert Zimmerman?) ou "Los Chicos de Ayer", aceno simpático a nuestros hermanos, falam a mesma "língua", na dinâmica própria do grupo, meio acústica, meio elétrica, feita de delicadezas e explosões. Um certo clima de faroeste, mítico/paródico, surge na divertida "Heyyo Silver", título de um dos singles da banda, que chegou a lançar ainda três EPs, a partir de 2002, todos cantados unicamente em inglês,como faziam/fazem grande parte das bandas do universo dito alternativo.Mas é preciso dizer que foi a partir das canções em português(e dos bons shows feitos por todo o Brasil) que o Vanguart conquistou,com mais força sua personalidade,público e... autenticidade. Nomeio da apresentação que, além do CD, está sendo lançada também em DVD (com sete músicas a mais), uma curiosidade quase desconcertante: Hélio começa a cantar "O Mar", de Dorival Caymmi, na cadência ondulante do original, até que a banda desembesta num galope, levando o mar dos pescadores afogados para infinitas planícies e cânions. Dito assim, parece um desastre; mas é um dos pontos altos do disco. Ao final, a tocante "The Last Time I Saw You", das melhores da banda, carta sonora endereçada a um amor perdido, com participação singela e charmosa de Mallu Magalhães, traz de volta o clima daquele quarto na remota Cuiabá, daquele tempo suspenso no ar, com o futuro e o passado girando juntos na velha vitrola e vibrando nas cordas de um violão.

Daniel Benevides