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Ana Cañas

Em seu segundo disco, gravado como nos velhos tempos, com os músicos tocando juntos em estúdio, Ana Cañas mostra uma nova fase

Por José Julio do Espirito Santo Publicado em 30/09/2009, às 11h32

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Ana Cañas diz que já tem rugas e não está muito preocupada - DIVULGAÇÃO
Ana Cañas diz que já tem rugas e não está muito preocupada - DIVULGAÇÃO

A virginiana de 28 anos contraria o perfeccionismo de seu signo e se diz mais calma. Com as malas quase prontas para se mudar para o Rio de Janeiro, cidade que a apaixona cada vez mais, Ana Cañas passou a tarde batendo um papo em um dos lugares em que ela se sente mais à vontade: um bar aconchegante e sem frescuras no meio do bairro boêmio Vila Madalena, em São Paulo.

"Na Multidão", a primeira faixa de seu novo trabalho, fala sobre a vida que a gente leva de forma competitiva. Como é estar na multidão?

Enquanto Arnaldo [Antunes] compunha a letra da música, entre vinhos, cachaças e champanhes durante um trabalho de criação junto com Liminha, eu fui me enxergando muito nela. Achei que ele captou um pouco da minha personalidade e de uma fase especial da minha vida, que é agora. Eu estou mais aberta. Estou menos chata, menos folgada, menos sem noção, menos crítica.

Como assim?

Acho que eu relaxei. Eu era meio tensa. Estou feliz. Eu sou meio nervosinha, meio encardida. Sabe aquela pessoa assim, meio marrenta? Que já chega meio pra procurar o contra? [Risos] E agora estou numa fase totalmente Bob Marley. E eu achei que o Arnaldo, de uma forma muito mágica, captou isso - essa minha vontade de estar na multidão, de abrir. Eu tinha uma viagem muito introspectiva. Eu era muito na minha.

Dizem que na idade em que você está, signo ascendente faz mudar um pouco o modo de ser da pessoa.

É, acho que está acontecendo isso comigo. E essa música passa esse recado de forma direta, e é quase um hino dessa fase da minha vida, que eu estou adorando e que eu pretendo não sair mais dela.

E Hein?, seu novo disco, foi mais fácil de fazer do que Amor & Caos, sua estreia?

Acho que foram dificuldades diferentes. No primeiro disco teve muita dificuldade de grana, porque eu fiz um disco independente. Amor & Caos é um disco que banquei sozinha, ralando, cantando na noite. Pagando aluguel, fodida. Não tinha um pai ou uma mãe para contar e então foi uma batalha. Amor & Caos, para mim, foi uma batalha vencida, assim, e também um nascimento artístico. A dificuldade deste foi uma inquietude artística. De progredir, de evoluir. De me tornar uma compositora melhor. Eu passei a ler muita poesia. É um sair da casca mesmo. De uma certa forma, é legal o primeiro não ser uma obra-prima, porque aí é legal, num segundo momento, você ter essa chance de evoluir.

Você fala que começou no jazz. Como foi?

Cantando. Assim, de uma forma muito inocente. Porque jazz é um tiranossauro. Ele ruge para você e fala: "Eu vou te comer". [Risos] Ele é muito sofisticado - muito complicado harmonicamente, melodicamente e ritmicamente. Eu comecei de orelha. Ouvia as músicas da Ella Fitzgerald e cantava o que eu estava ouvindo. Aí comecei a ouvir Sarah Vaughan, Carmen McRae

Que eram as conexões que faziam com você até então. Sem citar Nina Simone.

Eu descobri Nina Simone quando descobri rock. Ela, para mim, é uma cantora que está num lugar que não é exatamente jazz. Ela é meio maldita no jazz. Para essas pessoas que têm uma cabeça mais Ela é rock, cara. Eu fui entender a Nina mesmo depois que eu comecei a entender Beatles.

E a música "Na Medida do Impossível" tem alguma coisa a ver com relacionamentos impossíveis?

Acho que todos os relacionamentos são impossíveis. Cara, quando eu vejo duas pessoas que estão casadas há 30 anos e são felizes, eu quase choro. Eu falo: "Meu, como é que esses caras conseguiram?", porque numa cadência de afinidades começam a surgir diferenças, sabe? Acho que a música fala um pouco sobre isso.

É fato que existe uma nova geração de cantoras brasileiras. Existe uma certa competição entre vocês?

Acho que é o seguinte: há uns três anos apareceram cantoras que são brancas, têm cabelo castanho e um pouco cacheado - umas mais cacheado, outras menos. Quer dizer, uma série de coincidências, mas eu acho que este ano está sendo muito importante para isso. Eu acho que cada uma, no segundo disco, tem uma coisa de mostrar mesmo um tendência pessoal musical. Estou feliz, porque Mariana [Aydar] fez um disco lindo. Acho que Céu deve ter feito um disco lindo também. Tem a coisa da estrada. Você lança o primeiro disco, você vai para a estrada com aquele disco e aí você tem a oportunidade de sacar muito a sua essência. Mariana teve a sacada. Ela falou: "Ana, vou lançar um disco de samba, cara. Eu sou samba. Eu não quero mais negar isso, eu vou assumir isso".

Ser bonita ajuda a fazer sucesso no meio musical?

O conceito da beleza está muito dentro de quem vê. Eu não acredito numa beleza assim Claro que a Gisele Bundchen é linda. Todo mundo concorda, mas, por exemplo, eu sou apaixonada pelo Pete Townshend. E Pete Townshend é o cara mais estranho que existe - aquele nariz imenso. Acho a Amy Winehouse linda, e as pessoas falam assim: "Ai, Ana, você é louca". As pessoas ficam falando que sou bonita, não sei o quê Olha, meu peito já está caindo, já tenho celulite.

Eu vou colocar isso na matéria! (Risos)

Pode botar, cara. Já tenho ruga! É isso. Eu tenho que arrumar um cara que ache legal o meu peito ser um pouquinho caído. Um cara que entenda essa viagem, que goste de mulher madura. Senão ele tem que procurar uma academia. Eu não faço exercício, só levantamento de copo. Eu chego no espelho e corto meu próprio cabelo. Tenho que arrumar um cara que ache isso legal, entendeu? Para mim, o charme - o charme! - é irresistível. Não a beleza. A beleza é resistível. O charme não. Eu quero ser charmosa, não bonita.