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Drones

Muse

David Fricke Publicado em 23/07/2015, às 17h04 - Atualizado às 17h42

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Muse - Divulgação
Muse - Divulgação

Em the 2nd law (2012), o Muse propunha um diálogo sobre a insustentabilidade do planeta. O conceito de Drones é bem mais sinistro. Neste sétimo álbum, o trio britânico fala da guerra moderna, em que o comando de mortes à distância é uma realidade. Como consequência, a banda também resvala nos efeitos que esse tipo de ação tem em nossa consciência e em nossos ideais. O cantor e guitarrista Matthew Bellamy não cita nenhum vilão específico nas letras, mas a mensagem desse holocausto de metal progressivo é óbvia: todos nós somos responsáveis. Os drones podem existir sobre duas pernas. “Eu me sinto esmagado e pulverizado/ Porque você precisa do controle”, geme Bellamy na austera abertura electro-funk de “Dead Inside”, soando como se ele fosse uma mistura de Bono, Freddie Mercury e Jason Bourne. O álbum também descarta os adornos sonoros usados recentemente pelo grupo e marca uma volta do Muse aos rifis menos enfeitados da época de Origin of Symmetry (2001). Enquanto a batida marcial e os efeitos vocais robóticos de “Dead Inside” sugerem um Depeche Mode totalitário, a guitarra de Bellamy – cheia de fuzz e com efeitos de sustentação de notas – penetra fundo em uma fúria grunge.

Essa distopia sangrenta foi produzida por Robert Mutt Lange, famoso por seus trabalhos com Def Leppard (Hysteria, de 1987) e AC/DC (Highway to

Hell, de 1979, e Back in Black, de 1980). Aqui, ele serve às aspirações de ficção científica do Muse com o mesmo foco com que criou esses álbuns clássicos. Existem alguns floreios oitentistas: o estilo de piano do U2 ressurge em “Mercy” e as harmonias imitam o Queen descaradamente em “Defector”. Mas boa parte da ação que impulsiona as melhores canções vem mesmo do ataque da guitarra e do baixo. Fica a impressão de que eles estão atualizando faixas antigas, como “New Born” (Origin of Symmetry) e “Stockholm Syndrome” (Absolution, de 2003). “Psycho” é uma delícia maliciosa, carregada pelo baixo cáustico de Chris Wolstenholme e pela bateria contundente de Dominic Howard.

A narrativa de Bellamy em Drones termina logo; o guerreiro volta para casa, exausto e acabado de tanto lutar, e é recebido ao som de uma guitarra com timbre de soprano na espacial “Aftermath”. “The Globalist” e “Drones”, as canções finais, são basicamente destroços: a primeira é um grande hino de desespero com uma parte de improviso; a outra tem a voz de Bellamy a capela multiplicada para soar como se fosse um coral. Trata-se de um encerramento ousado falando de um perigo real e presente – quando uma nação abre mão de seus princípios, ela se torna apenas uma linha em um mapa, indigna de mortes.

Fonte: Warner