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Boogie Naipe

Mano Brown

LUCAS BRÊDA Publicado em 09/12/2016, às 10h56 - Atualizado às 16h45

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Capa do disco <i>Boogipe Naipe</i>, do MC dos Racionais, Mano Brown - Reprodução
Capa do disco <i>Boogipe Naipe</i>, do MC dos Racionais, Mano Brown - Reprodução

Frontman dos Racionais MC’s mostra seu outro lado musical, mais romântico e melódico

Em mais de 11 minutos, a faixa “Tô Ouvindo Alguém Me Chamar”, clássico de Sobrevivendo no Inferno (1997, Racionais MC’s) só muda a batida em uma situação: para agravar a dramaticidade da história rimada por Mano Brown. Pedro Paulo Soares Pereira se consagrou como rapper ao versar, com a linguagem das ruas, sobre personagens complexos e intensos. É nessa lógica que ele se apoia em sua aguardada estreia solo, um trabalho conceitual centrado na paixão do artista pela black music que era feita uns 30, 40 anos atrás.

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Brown, um homem glorificado pela destreza com as palavras, aparece se aventurando por dinâmicas sonoras diversas, fundindo vozes, batidas e melodias de maneira indissociável. Ele tem ajuda do onipresente Lino Krizz (ex-integrante da dupla Os Metralhas e backing vocal dos Racionais), além de Seu Jorge, Ellen Oléria, Hyldon e até do ídolo Leon Ware (antigo colaborador de Marvin Gaye), todos revezando refrãos e fraseados vocais em meio a rimas e algumas desengonçadas investidas harmônicas de Brown. Nomes como Don Pixote, DJ Cia (RZO), William Magalhães, Dado Tristão, Carlos Dafé e Mara Nascimento também contribuem.

O cenário é o baile black e tudo que o envolve: “mulheres elétricas’’, danças embaladas por Michael Jackson, paixões impossíveis e o sentimento paradoxal de solidão em uma multidão. Musicalmente, há referências às baladas de Marvin Gaye e ao balanço de Jorge Ben Jor, com acenos ao soul de Tim Maia e ao romantismo de Guilherme Arantes. E, mesmo tendo o passado como alicerce, há espaço para experimentos (“Nova Jerusalém”) e texturas que dialogam com discos celebrados deste ano, de Malibu, de Anderson Paak, a Remonta, de Liniker, bem como vinhetas que remetem à estrutura de To Pimp a Butterfly (Kendrick Lamar, 2015).

Brown rima pouco e com precisão, encaixando com cuidado perceptível a agressividade e a abordagem gangsta inatas do seu hip-hop no boogie malandro do trabalho. É bem verdade que nenhuma letra do álbum se sustenta como as de Nada como Um Dia Após o Outro Dia (2002, Racionais), por exemplo. No entanto, o rapper nunca se expôs com uma musicalidade tão aflorada. E nunca expressou tanto falando tão pouco. Arriscando, o maior MC do nosso hip-hop volta não para sabotar nosso raciocínio, mas para se entregar às paixões musicais, às frustrações e esperanças de uma pista de dança – que, pelo menos por uma noite, pode ser a coisa mais importante da vida de alguém.

Ilustração: Marcelo Fahd

Fonte: Boogie Naipe/One RPM