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Idiotas de Carteirinha

Qual dos três astros da comédia mais engraçada da temporada seria a melhor companhia para se divertir em Las Vegas?

Por Erik Hedegaard Publicado em 25/08/2009, às 15h00

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Nós achamos que Se Beber, Não Case [que estreou no Brasil na última sexta, 21] vai ser a comédia nojenta de mais sucesso nesta temporada. O enredo é perfeito. Tem três padrinhos de casamento que levam um noivo para Las Vegas para uma despedida de solteiro; mas, no dia seguinte, nenhum dos três padrinhos se lembra de nada do que aconteceu - sim, eles encheram a cara. A única coisa que eles sabem é que um deles perdeu um dente, há um tigre no banheiro do quarto do hotel, um bebê no armário e o noivo sumiu; logo, um oriental pelado aos berros coloca o saco bem na cara de um deles e Mike Tyson está prestes a desferir um golpe - de maneira geral, é o inferno na Terra.

Ajuda o fato de o pano de fundo do filme ser a ansiedade dos homens brancos. Há Tyson, o negro mais assustador do mundo, além de diversos integrantes de gangues com tacos de beisebol em punho e namoradas que não param de reclamar, e os homens brancos ansiosos que andam por aí aos montes provavelmente não vão resistir à oportunidade de dar risada de si mesmos. Além do mais, como é dirigido por Todd Phillips, o gênio por trás de Dias Incríveis, ele tem uma tonelada a mais de violência gratuita do que as comédias mais recentes - e isto, é claro, é mais um grande atrativo.

Os três protagonistas do filme são os três padrinhos, interpretados por Bradley Cooper, Zach Galifianakis e Ed Helms, e não se sabe muita coisa a respeito deles. Sabemos que Cooper fez um ótimo trabalho ao incomodar Owen Wilson até não poder mais em Penetras Bons de Bico; que em sua apresentação de comédia stand-up, Galifianakis gosta de soltar ideias meditativas, sacaneando com o politicamente correto e o cotidiano; e que Helms estava destinado à grandeza no momento em que apareceu em The Office. Mas não passa muito disto. E nós queremos mais informações, porque estamos tentando descobrir qual deles seria mais divertido ter como companhia para visitar Las Vegas e encher a cara, caso a oportunidade se apresentasse. Eis aqui o que descobrimos.

Bradley Cooper

Em Se Beber, Não Case, Bradley Cooper faz o papel de Phil, o mais seboso do trio, um cara que não é exatamente o mais bacana que se pode encontrar: é professor e rouba dinheiro dos alunos para jogar. Recentemente, em Nova York, Cooper foi visto parado em uma esquina, envolvido em uma conversa profunda com a famosa atriz Meg Ryan; nós nos impressionamos imediatamente. "É, sabe como é, ando por aí com a Meg, falo merda com a Meg", ele diz alguns minutos depois, enchendo a própria bola com genialidade. Cooper é um sujeito bonito e simpático, com perfil distinto, olhos azuis suaves, cabelo bacaninha de astro de cinema e uma bela quantidade de pelos no queixo. De acordo com sua biografia, ele faz parte do show business desde 1999 - quando começou com um pequeno papel em Sex and the City. Já participou de um monte de filmes, como Mais um Verão Americano, Sim Senhor! e Ele Não Está Tão a Fim de Você. E fez trabalho tão convincente como babaca completo em Penetras Bons de Bico que, sinceramente, nós achamos que Cooper deve ser o maior babaca.

Nossa abordagem é cuidadosa, começamos pelo básico. Ele passou a infância na Filadélfia, filho de um negociador da bolsa da Merrill Lynch, que ele imitava quando ia para o jardim de infância, vestido de terno e carregando uma pasta executiva. No ensino médio, namorou a menina mais bonita da classe. Na faculdade, em Georgetown, estudou inglês e escreveu seu trabalho de conclusão sobre o livro Lolita, de Vladimir Nabokov. Em certa ocasião, passou quatro meses casado, com a atriz Jennifer Esposito, mas ele não fala absolutamente nada sobre o assunto. Já teve conexão com Cameron Diaz, mas sobre isso ele apenas diz, com muita frieza: "Tenho sorte de conhecê-la". Além disso, já tentou fazer o apelido Coop pegar, mas não deu certo. E, por fim, ele não bebe.

"Faz cinco anos que eu não bebo nada", ele diz. "E eu adoro beber. Mas tive que parar, que droga. Quer dizer, infelizmente, aquele tempo se foi." Ele não diz por que exatamente mas, um pouco depois, explica como ficou com seis cicatrizes na cabeça. "Esta aqui", ele diz e aponta, "foi em uma festa de Natal. Estava dançando 'The Beautiful People', do Marilyn Manson, e achei que seria boa ideia mostrar como eu sou capaz de bater a cabeça no chão de concreto. Foi o que eu fiz e, quando levantei, o sangue escorria pelo meu rosto; dei risada e fiz de novo. É, tinha bebido umas coisinhas, com certeza."

Tendo isso em vista, se a gente fosse para Las Vegas com Cooper, talvez pensasse em fugir dele, abandonando-o no primeiro caça-níqueis que aparecesse. Afinal de contas, ele é um sujeito que usa secador de cabelo para secar a orelha - não por opção, mas sim necessidade. "Eu tive um tumor no tímpano quando nasci, então, se entrar água no meu ouvido, eu tenho infecção", ele diz. "Por isso, depois de ir à academia, eu preciso usar secador nas orelhas."

Por outro lado, ficamos impressionados com o fato de que ele adora ir ao terapeuta. ("Eu amo. Nunca fico satisfeito, sempre quero mais. Festa!"). Mas por que nós realmente achamos que ele seria uma ótima companhia para ir a Las Vegas? Ele já foi grande defensor de mascar tabaco e ainda acredita que, independentemente do que se possa dizer, as mulheres curtem. "É isso aí, de um jeito meio doente, acho que as mulheres gostam disso, como se no fundo elas ficassem pensando: 'Uau, que homem'", ele diz. "Eu me lembro de conversar com Scarlett Johansson uma vez, e estava com um copinho para cuspir, e ela ficou, tipo: 'Você está de brincadeira?', e eu falei: 'O quê? O quê?'."

O único problema é que Cooper largou o hábito. Mas, se retomá-lo, vai ser nossa primeira escolha para ir a Las Vegas. E nós vamos chamá-lo de Coop.

Ed Helms

Ed Helms nos cumprimenta com uma cerveja em um bar em Manhattan. No filme, ele faz papel de Stu, um cara que faz tudo que a namorada manda e que acorda na manhã fatídica em Las Vegas sem um dente. Para os amigos, Stu é conhecido como "Dr. Faggot" (Dr. Maricas).

Helms é um sujeito de aparência normal, e vamos com a cara dele imediatamente. No começo, é por sermos tão fãs do trabalho dele em The Office e The Daily Show. Mas também porque logo ele já está dizendo coisas como: "Vícios? Vejamos. Eu gosto de matar gente. Mas está é uma coisa paralela. Sei lá. Estou deixando de lado. De vez em quando, eu fumo. Eu corria pelado pela faculdade. Fiz uma cirurgia cardíaca quando estava com 14 anos, então isso atenuou muito o meu uso de drogas, porque eu não diria que tenho padrões morais mais altos do que a maior parte das pessoas. Vejamos. Já usei cabelo moicano, mais ou menos durante uma semana. Hmm, quando eu estava em The Daily Show, o meu amigo Rob Corddry me perguntou: 'Por que você não sai por aí comendo todas? Você está em um programa inteligente e engraçado. As meninas iriam enlouquecer por você'. Eu respondi ao Rob: 'É, mas acho que você ia parar de gostar de mim se fizesse isso. Eu tenho apetite sexual saudável, mas me seguro um pouco. Hmm. Eu sou meio abobado."

Não é o que achamos. Pensamos o seguinte: "Eis aqui um cara que se conhece e provavelmente só está agindo com humildade para caramba". E quanto mais ele fala sobre si mesmo, mais achamos que deve ser isso mesmo.

Ele foi criado em Atlanta, o pai é advogado e a mãe, educadora; estudou em escola particular cristã; formou-se no Oberlin College; e usa óculos desde a segunda série. Uma história reveladora: "No clube do bairro, quando em tinha 13 anos, uns caras me levaram até a quadra de tênis para eu brigar com o amigo deles. Eu simplesmente comecei a chorar e fugi. Foi o maior drama". Esta não é a parte reveladora. A parte reveladora é o fato de Helms se lembrar desse incidente como "uma das poucas brigas de verdade em que eu me envolvi", apesar de não ter acontecido briga nenhuma. A gente gosta disso nele. Também achamos uma graça o fato de ele ter sido apelidado de ED2000, derivado do robô ED-209 do filme RoboCop, na equipe de natação da faculdade. Bom, é melhor do que Coop.

Mas eis aqui por que ele poderia ser o melhor parceiro de crime para Las Vegas: ele toca banjo em estilo bluegrass. Toca muito, muito bem, e está tentando fazer com que as pessoas se interessem pelo instrumento em Los Angeles, mas o povo até agora tem resistido. Não faz mal. Ele toca. E ninguém pode segurá-lo. "Eu adoro", ele diz. "Quero tocar todos os dias. Mas o banjo é um instrumento ofensivo para a maior parte das pessoas, e às vezes fico achando que a razão por que eu tenho vontade de tocar é para irritar o número máximo de pessoas possível."

Será que tinha como ele ser mais maléfico? Como não gostar dele? Além do mais, sabe qual é a coisa de que ele mais gosta no próprio corpo? "Meu testículo direito", ele diz, orgulhoso. "É enorme. Enorme!"

Já basta. É isso aí. Temos bastante certeza que ele deve ser o nosso homem escolhido para ir para Las Vegas.

Zach Galifianakis

E assim, sobra Zach Galifianakis que faz o papel de Alan em Se Beber, Não Case. O personagem é um cara esquisito que vive viajandão, provavelmente é um tarado, e responsável pelo bebê abandonado - para o bem ou para o mal.

Encontramos Galifianakis em um bar, do mesmo jeito que aconteceu com Helms. Mas, diferentemente de Helms, Galifianakis não é o tipo de sujeito que para depois da primeira cerveja. Durante o tempo em que passamos juntos, a primeira cerveja levou à quarta com velocidade estonteante. Para falar a verdade, é provável que cinco não bastassem para abalar Galifianakis nem um pouco. Ele gosta de beber, ele gosta de beber muito, e o melhor é que não assume nenhuma responsabilidade: "Às vezes eu acordo pensando quando é que vão organizar uma intervenção para mim. Por acaso os meus pais não sabem que é o dia seguinte à Ação de Graças e eu continuo bêbado?". Ele toma um gole. "Uma vez, acordei embaixo de um carro com o motor ligado. Outra vez, entrei em uma casa, vomitei em cima do tapete, dormi no sofá e saí de manhã - mas depois eu voltei para limpar tudo. Ei, pelo menos eu sou um bêbado responsável!"

Ele também costumava fumar muita maconha, mas precisou reduzir quando a coisa começou a afetar a carreira. Por exemplo, houve a vez em que ele deveria ser o novo rosto da VH1, como apresentador de um show de variedades chamado Late World With Zach. Durou uma temporada. "Eu comia cookies com maconha demais, e ficava pensando: 'Tenho um programa de entrevistas, que esquisito, fico aqui pensando quem vai ser o convidado de amanhã...'", ele conta. E ele também não se importou muito quando o programa terminou; simplesmente passou para o que veio a seguir.

Nesse caso, foram alguns papéis em filmes um tanto questionáveis (Jogo de Amor em Las Vegas), com participações ocasionais em produções de qualidade (Na Natureza Selvagem). De maneira geral, o que ele mais tem feito é comédia stand-up, na qual conquistou a reputação de ser um dos principais comediantes underground em atividade.

Para falar a verdade, gostamos dele e de tudo que ele faz. Os braços dele são tão curtos que poderiam quase ser chamados de nadadeiras. Algumas garotas de Las Vegas provavelmente curtiriam isso, além do senso de humor dele. "Você sabe o que são aqueles macacõezinhos de bebê?", ele pergunta. "A minha irmã ia ter um filho, e eu mandei fazer 20 com a minha foto. Mas eu pareço um estuprador de crianças. Acho engraçado ver um ser humano horroroso na barriga de uma criança inocente."

Ele foi criado em Wilkesboro, Carolina do Norte, na única família grega da cidade. O pai dele era entregador de gasolina, e o irmão mais velho se especializou em diversos tipos de tortura fraternal. Por exemplo, ele enfiava a cueca suja na boca de Zach e gritava: "Estou amordaçando você, pode vomitar!". Anos mais tarde, Galifianakis sofreria de depressão, mas será que ele toma Zoloft e culpa a família? De jeito nenhum. "Esta nossa sociedade que toma remédios demais simplesmente me deixa louco", ele diz, com mais outro gole. "As pessoas tem mesmo que se foder! O seu irmão tem mesmo que bater em você!"

De acordo com a mesma lógica, faz sentido total o fato de ele ter estudado na North Carolina State University, ter vendido sangue para comprar cerveja e ter largado os estudos no último semestre do último ano, depois de ter sido reprovado em uma matéria por um ponto, e ter ido para Nova York para tentar ganhar a vida. Trabalhou como ajudante de garçom em um clube de striptease e paquerou gays para ganhar bebidas no Dick's Bar, no Village, e sempre fugia antes que eles se dessem conta do que ele tinha feito. "Basicamente", ele diz, "eu era um michê heterossexual." Mas daí o negócio da comédia começou a dar certo.

Dois garotões de faculdade de pescoço grosso e bermudas cargo param na nossa mesa. "Ei, você não estava em Jogo de Amor em Las Vegas?"

"Estava."

"Está mentindo?"

"Por que eu iria mentir? O filme é uma merda."

Os caras dão uma voltinha, quase ameaçadora, e então voltam para o lugar deles, para continuar enchendo a cara. Galifianakis fica aliviado. "Uau, de repente começou a parecer que nós íamos ter que fazer sexo a força", ele diz. "É estranho. Os homens só me reconhecem dos filmes de merda, e só garotas góticas com espinhas nas costas me reconhecem da comédia stand-up."

Até este momento, Galifianakis tinha se transformado na nossa melhor escolha para companheiro de diversão em Las Vegas. Ele é estranho, Las Vegas é estranha. Mas agora estamos em dúvida. Garotas góticas com espinhas nas costas? Não sabemos se queremos nos envolver nesse tipo de cenário. O que fazer, quem escolher. Estamos indecisos. Para ajudar, ligamos para o diretor Phillips para ver o que ele acha.

"Bom, o Zach é o tipo de cara pensativo e inteligente, e o Ed é um sujeito engraçado que leva a comédia a sério, como um atirador de elite, e apesar de o Bradley não beber, ele é completamente louco, de modo que eu escolheria Bradley", Phillips, que está no México de férias, responde. "Na verdade, talvez eu seja o pior de todos eles. Tenho problemas sérios. Gosto de jogar. Desculpe, estou chapado. Na verdade, sou um sujeito esperto. Quero fazer tudo de novo. Estou ouvindo as minhas respostas e pensando: 'Talvez eu seja retardado'."

E quem somos nós para discordar?

De repente, a única coisa que nós desejamos é ir para Las Vegas com o cara chapado que é muito inteligente e retardado, e que tem problema com jogo. Nunca conhecemos alguém assim antes. E realmente queremos saber melhor como é ser assim.