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Ney Matogrosso

Dono do diastema mais famoso do país, ele execra os tratamentos de imagem e quer aparecer exatamente como a vida o deixou, aos 66 anos, simbolizando as máximas do rock'n'roll: atitude, provocação e, claro, quadris

Márvio dos Anjos Publicado em 05/05/2008, às 08h21 - Atualizado às 11h28

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Marcos Hermes
Marcos Hermes

Ney de Souza Pereira tem um tremendo cuidado com sua imagem. Tanto nas duas horas e meia de entrevista quanto na sessão de fotos, qualquer possibilidade de ser mal-interpretado é afastada com recusas claras. "Detesto aqueles Photoshops que deixam todo mundo igual, com cara de plástico", comenta, enquanto serve um chá da tarde em sua cobertura, no Leblon, Rio de Janeiro.

Com esse sul-matogrossense de Bela Vista, é possível entender a sutil diferença entre a fantasia e o disfarce. Não teme as rugas nem os cabelos rarefeitos. Aos 66 anos, tampouco se intimida na hora de aparecer seminu diante da platéia mais uma vez, na turnê Inclassificáveis, que começou em setembro de 2007 e teve CD de estúdio lançado no mês passado pela EMI. Se estiver dentro do discurso que prepara, da catarse que propõe aos outros através de si mesmo, vale tudo - até o inacreditável figurino desenhado por Ocimar Versolato, inspirado nas cerimônias incas no lago Titicaca, em que imperadores passavam ouro em pó no corpo.

Inclassificáveis, o disco, é uma volta ao pop rock, gênero que sempre flerta com Ney. Há exatos 35 anos, ele entrava em estúdio com os Secos & Molhados, o primeiro fenômeno pop nacional com a marca legítima dos vivazes anos 70. Depois, namorou e gravou Cazuza, de quem permaneceria aliado até a última turnê - e amigo até a morte dele, em 1990, em decorrência da aids. Os anos 80 também foram a época em que seu senso cenográfico ainda ajudaria a dar asas a outro fenômeno pop, o RPM. Em 2004, o pop rock o chama de volta, desta vez para se associar a Pedro Luís & A Parede, o que resultou no elogiado Vagabundo.

Uma longa carreira que começa a ser revista em todos os seus excessos. Está sendo finalizada, com organização do pesquisador musical Rodrigo Faour, uma caixa luxuosa a ser lançada pela Universal. Como jóias do pacote, estarão seus três primeiros LPs, jamais lançados em CD e finalmente autorizados após o cantor ter resolvido exigências financeiras que fazia à Warner - Água do Céu-Pássaro (1975), Bandido (1976) e Pecado (1977). Batizada Camaleão, a box-set trará seus primeiros 17 discos mais um bônus e será lançada ainda neste ano.

Ao longo da entrevista, o dono do mais famoso registro de contratenor da música brasileira - aquela inconfundível e raríssima voz feminina - é um homem sem grandes arroubos. Passa pelos assuntos mais espinhosos, como seus excessos em sexo e drogas, com tanta naturalidade que chega até a estranhar que haja tanta curiosidade sobre esses temas. Só se fecha em copas quando indagado sobre sua vida afetiva. "Estou namorando, sim, mas minha privacidade só interessa a mim e a quem está comigo", responde, sem aspereza. "Não uso isso para sair em capas de revista, e, sim, o meu trabalho."

Em sua casa, pergunta gentilmente, com alguma freqüência, se a visita quer água ou se aceita um lanche ao fim da tarde. O animal de palco está domado, aninhado com os pés no sofá e cercado por seus dois gatos. Um artista rea-lizado, que só inveja a possibilidade de um sono tranqüilo - desde criança, tem problemas para dormir e, por isso, toma à noite remédios contra a ansiedade. "Não chego a dormir, acabo ficando num estágio que é muito criativo, mas muito cansativo", lamenta. Despida a fantasia, conversa sem disfarces e não deixa dúvidas de que, se o rock'n'roll é atitude, provocação e quadris, o Brasil passa obrigatoriamente por Ney Matogrosso.

Você é um dos poucos intérpretes masculinos de destaque no Brasil. Qual é a linha mestra do seu trabalho, que também envolve um personagem de marcas fortes?

No meu caso, é o meu ponto de vista sobre aquilo que estou cantando. Quando ouço uma música, vejo todas as possibilidades dela e tento colocar o que eu penso sobre aquilo. Quando eu estava fazendo o Chico Buarque, em 1996, tinha gente que me dizia: "Agora entendi a letra". Significa que eu consegui destrinchar aquilo, embora não tenha uma preocupação de facilitar a percepção, mas sim de dar a minha opinião.

Você lê a entrevista completa com Ney Matogrosso na RS 20, que chega às bancas no dia 10/5