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50 anos de Star Trek

Relembre o impacto da franquia na cultura pop

Redação Publicado em 08/09/2016, às 15h49 - Atualizado às 16h20

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Walter Koenig, James Doohan e DeForest Kelley - Reprodução
Walter Koenig, James Doohan e DeForest Kelley - Reprodução

No dia 8 de setembro de 1966 estreou no canal norte-americano NBC uma nova série de ficção científica chamada Star Trek. O episódio inicial se chamava “The Man Trap”. No Brasil, ele ganhou o nome de “O Sal da Terra”, sendo que na época conhecíamos o programa como Jornada nas Estrelas. Foi a primeira vez que o público viu a nave USS Enterprise e sua imortal tripulação. Esse foi o começo da série que iria alterar de forma irrevogável a linguagem da televisão nos Estados Unidos. Com comentários precisos sobre a vida em sociedade, destino da humanidade e uso da tecnologia, a futura franquia mudou a percepção das pessoas e se mostrou extremamente influente ao longo das décadas. Cinquenta anos depois, Star Trek ainda faz parte da vida de milhões de fãs ao redor do mundo. Neste dia em que a série celebra 50 anos desde sua estreia, seguem algumas curiosidades sobre Star Trek, que segue rumando para “onde nenhum homem esteve antes”.

Episódios clássicos retornam cheios de extras em DVD

Há histórias e mais histórias em torno de toda a mitologia Star Trek. Algumas a gente nunca esquece, como o confronto de Kirk com um super-homem genérico no episódio “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”; o surgimento do mega vilão Khan (Ricardo Montalban) em Semente do Espaço; o conflito do Senhor Spock no ritual de acasalamento dos vulcanos em “Tempo de Loucura”; e a patética luta dos tripulantes da Enterprise para conter a infestação dos minifelpudos Pingos em “Problemas aos Pingos” . Os fãs certamente devem debater acerca de um episódio favorito, se é “A Cidade a Beira da Eternidade”, aquele em que Kirk volta à Terra na véspera da Segunda Guerra, e se apaixona por Joan Collins; ou “Equilíbrio do Terror”, em que a tripulação se envolve em uma batalha de nervos com os hostis Romulanos; ou ainda “O Espelho”, aquele em que temos duas Enterprises, dois Kirks e dois Spocks.

Por ocasião do cinquentenário da franquia, os 79 episódios da série clássica estão sendo relançadas em 23 discos, acompanhados de dois derivados: a série animada (1973-1974) e um box com os sete filmes de cinema da antiga geração e os quatro filmes que reúnem a Next Generation, capitaneada por Jean Luc Picard (Patrick Stewart). É uma maratona para fã nenhum botar defeito.

A imagem e o som dos episódios já tinham sido restaurados em uma edição lançada em 2009, mas agora os cuidados foram pormenorizados até nos efeitos. As maquetes, as cenas de batalha e a direção de arte ganharam novos reparos em CGI. Como se não bastasse, a parte de extras ganhou novos adicionais. O mais inusitado deles são os filmes caseiros de Billy Blackburn, um figurante que andava com uma câmera de Super 8 pelo set. Blackburn fez de tudo em Star Trek: fez ponta, foi dublê, contra-regra e, nas horas vagas, registrava os bastidores. Há imagens raras de Leonardo Nimoy estudando o roteiro, William Shatner segurando seu cão para não atrapalhar as gravações e a tripulação brincando no set. James Doohan, o Scotty, demonstra seu talento em fazer vozes, e afirma que 80% das dublagens de vozes interplanetárias que ouvimos na série saíam de sua boca. E George Takei, o oficial Sulu, revela que durante a Segunda Guerra sua família ficou presa em um campo de prisioneiros norte-americano e ele passou a infância no local.

Não faltam cenas das excentricidades e caprichos trekkers. Em um leilão entre os fãs, uma pistola feiser original foi vendida por US$ 20 mil, enquanto um uniforme de Spock foi vendido por US$ 80 mil. No mesmo leilão, duas maquetes de uma nave Klingon adquiridas por US$ 1 milhão.

A nerdice às vezes não tem limite. Mas o boxe proporciona muito mais. São sete horas de extras e é possível olhar mais longe e mais fundo. Tudo depende do tempo e da disposição do espectador.

Diversidade no Espaço - Desde o começo, Star Trek fez campanha pela diversidade de gêneros e pelo avanço dos direitos civis; a seguir, sete desses momentos

1964 - O piloto “A Jaula” entrava em desenvolvimento e inovava ao apresentar a personagem Number One (Majel Barrett). Ela era forte, pragmática e a mais confiável, segundo o capitão Pike, para assumir a nave. Não se sabe oficialmente por qual razão os executivos da NBC ordenaram que Number One fosse cortada. De acordo com o que Leonard Nimoy contou em sua biografia, a razão foi puramente sexista. A direção da emissora implicou com o figurino masculinizado da atriz (Majel usava calças e uma blusa reta, propositalmente feita para não ressaltar sua feminilidade). Depois, a justificativa foi que o público não seria capaz de se identificar com uma mulher em tal posição de autoridade a bordo de uma nave.

1966 - A atriz afro-americana Nichelle Nichols quebrava os paradigmas ao estrear no episódio “O Sal da Terra” como a oficial de comunicação Uhura. A atriz Whoopi Goldberg, criança na época, conta que ficou tão surpresa que disse espontaneamente: “Mãe, venha ver. Tem uma moça negra na TV e ela não é a empregada!”

1967 - Estreava a segunda temporada e, em plena Guerra Fria, ela ousava acrescentar um russo, o alferes Pavel Tchecov (Walter Koenig), ao time.

1969 - Aconteceu no capítulo “Os Herdeiros de Platão” o célebre beijo interracial envolvendo Uhura e o Capitão Kirk, que fez história e causou uma enorme polêmica.

1993 - Com o episódio "O Emissário", Deep Space Nine, quarta série de televisão da franquia Star Trek, apresentava o primeiro comandante negro, Benjamim Sisko (interpretado pelo ator Avery Brooks).

1995 – As mulheres finalmente chegavam ao comando. Estreava Star Trek: Voyager, com Kate Mulgrew vivendo Kathryn Janeway, comandante da USS Voyager.

2016 – Em uma rápida cena de Star Trek - Sem Fronteiras, o oficial do leme Hikaru Sulu revela que forma uma família feliz com seu parceiro e a filha.

O Capitão “perdido” - Jeffrey Hunter precedeu o icônico Kirk

Hoje, Chris Pine brilha no cinema como o Capitão Kirk no reboot orquestrado por J.J. Abrams. E, é claro, William Shatner se tornou um ícone com o Kirk da série original da década de 1960. Mas antes de Kirk, houve o Capitão Pike no comando da Enterprise. Jeffrey Hunter foi convidado pessoalmente por Gene Roddenberry para estrelar o programa piloto “The Cage” (“A Jaula”). O episódio foi gravado em preto e branco no quintal do estúdio da atriz Lucille Ball, o Desilu. A NBC não comprou o piloto de imediato e tomou a inédita decisão de regravá-lo em cores (no pack que está sendo lançado por ocasião do cinquentenário da série, as duas versões podem ser assistidas). Hunter assumiu o papel de capitão também nesta refilmagem, mas sua esposa, Joan Bartlett, que era sua agente, deu tanta dor de cabeça durante as novas gravações que a diretoria da NBC decidiu tirar o ator do programa. Um detalhe curioso: o piloto “A Jaula” era tão elaborado que os produtores resolveram reaproveitar 80% das cenas no episódio duplo “A Coleção”, pertencente à serie clássica. Nele, era explicado que o capitão Pike enlouquecia, decidindo voltar para o mundo de ilusões de Thalos 4, deixando o comando da Enterprise nas mãos de James T. Kirk.

A criação - O produtor Gene Roddenberry deu vida ao programa

Piloto da Força Aérea do Exército, Eugene Wesley "Gene" Roddenberry era apaixonado pelo espaço. Ele voou oitenta e nove missões de combate na Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, serviu no Departamento de Polícia de Los Angeles, e como hobby escrevia roteiros sob o pseudônimo de Robert Wesley. Após produzir a série clássica de Star Trek, ele ainda trabalhou como produtor e consultor dos filmes da saga. O “Grande Pássaro de Espaço”, como era conhecido, morreu em 1991 aos 70 anos, e seus restos mortais foram enviados ao espaço.

O saudoso Senhor Spock

Leonard Nimoy (1932-2012) foi o único membro do elenco principal de "The Cage" a voltar para o segundo piloto. Durante seu tempo em Star Trek, Nimoy foi responsável por criar muitas das características que se tornaram associadas aos vulcanos, incluindo a saudação e o aperto de nervo vulcano. Muitas vezes os roteiristas ficavam no limite entre a ciência e a pseudociência, e o curioso é que Spock sempre fazia toda uma dissertação para explicar como, pelas leis da física, as descobertas tinham sentido. Soava convincente, é claro, mas para isso contribuía muito o desempenho de Nimoy. Sem rir, seu enigmático Senhor Spock tinha muito humor e tiradas de efeitos cortantes, mas era um ser superdotado, incompreendido. Por esse papel, o ator seria indicado ao Emmy três vezes consecutivas. A morte de Nimoy em fevereiro de 2015 gerou comoção mundial, a ponto de haver pronunciamento até do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Segundo Obama, "antes que o termo 'nerd' estivesse na moda, havia Leonard Nimoy, um amante da arte, um defensor da ciência e um homem generoso com seu talento", afirmou em nota divulgada pela Casa Branca.

A estreia na TV brasileira - Série chegou por aqui em preto e branco

Com o título Jornada Nas Estrelas, a série chegou ao Brasil no final dos anos 1960, pela extinta TV Excelsior, que adquiriu os direitos de apresentação dos dois primeiros anos, no horário das 22h. Foi transmitida em preto e branco, já que a televisão colorida ainda não existia por aqui. Curiosamente, a saia que a Tenente Uhura vestia fez com que a Censura Federal pressionasse o canal a exibir o seriado após as 23h. Com o fim da emissora, Jornada Nas Estrelas foi transmitida pela Bandeirantes, Manchete, Record e, por último, pelo Canal 21.

As Novas Gerações - Star Trek gerou inúmeros spin-offs

O pacote completo de cinquenta anos é formado por várias derivações na TV e no cinema. Na tela grande, já são treze filmes, se incluirmos o novíssimo Star Trek – Além das Fronteiras. Na TV, o domínio é mais abrangente. O primeiro spin-off foi em animação, nos anos 1970. Hoje, é conhecido como Star Trek - The Animated Series. Nas décadas seguintes, vieram Jornada Nas Estrelas – The Next Generation, seguido por Deep Space Nine, Star Trek: Voyager e Enterprise. E a fonte não seca. A CBS anuncia um novo reboot, a ser lançado em janeiro de 2017. A nova série de TV, ainda sem título oficial, será a sétima da franquia. O impacto cultural do programa, portanto, vai muito além de sua longevidade.

Estende-se por livros, quadrinhos, videogames e, claro, as reuniões de fãs. As convenções de Star Trek são famosas e toda uma subcultura foi criada ao redor do assunto. Star Trek foi a única série de TV a faturar o Hugo Award, o Oscar da ficção científica. Ganhou dois Hugos, aliás, um pelo episódio duplo “A Coleção” e outro por “A Cidade a Beira da Eternidade”.