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Animação nacional Uma História de Amor e Fúria mostra a história sob o ponto de vista de quem perdia as batalhas

Filme com vozes de Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro é uma espécie de acerto de contas da trajetória política do Brasil

Stella Rodrigues Publicado em 05/04/2013, às 15h14 - Atualizado às 16h08

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Uma História de Amor e Fúria - divulgação
Uma História de Amor e Fúria - divulgação

O ótimo roteirista Luiz Bolognesi (Bicho de Sete Cabeças, As Melhores Coisas do Mundo) é o nome por trás de um dos raros casos de animação feita integralmente no Brasil. E, além de ter escrito, fez sua estreia como diretor em Uma História de Amor e Fúria, romance/peça histórica no qual propõe uma espécie de acerto de contas da história do Brasil, retomando três diferentes momentos marcantes da trajetória social e política do país sob o ponto de vista dos que não venceram (o roteiro é bem didático em esclarecer isso). É a voz daqueles que, mesmo que tenham ganhado a luta (a longo prazo e somente em alguns dos casos), perderam alguma das batalhas sofridas e dolorosas nesse caminho.

Selton Mello e Camila Pitanga dão voz aos heróis do filme. Os personagens deles atravessam o tempo por meio de um subterfúgio das fábulas. Se apaixonam inicialmente como índios que resistem à colonização do homem branco. Eles se reencontram na época da revolução da Balaiada, no Maranhão, novamente como duas pessoas apaixonadas e lutando por aquilo em que acreditam. Voltam a se encontrar na época da ditadura militar, agora não necessariamente como amantes, mas ainda como almas conectadas. E, por fim, na parte mais interessante, seus caminhos se cruzam em um Rio de Janeiro futurista extremamente sombrio, em 2096, quando a divisa social se faz a partir da separação dos que têm e os que não têm acesso ao mais valioso bem do momento, a água potável.

“É uma aula de história sem ser uma coisa didática e chata. Fala da história do Brasil de uma forma muito interessante, com muita fluidez. Achei uma sacada genial ter esses personagens que atravessam o tempo para contar a história”, diz Rodrigo Santoro, que interpreta um quase “vilão” no longa. “Ele não é vilão, ele está fazendo o dele. Ele faz o que acha que deve fazer”, explica, dissipando qualquer ideia de maniqueísmo na visão de Bolognesi.

“A história que se ensina nas escolas não se materializa, não tem cheiro, não faz com que as pessoas se sintam parte dela”, reflete Camila Pitanga, intérprete da mocinha. “É quase uma abstração com datas e nomes. Falta a gente ter uma intimidade maior com a história. O filme, por meio do entretenimento, provoca isso”, diz. “Cada época é um pedal para você chegar ao clímax, que é o futuro. Eu achei absolutamente crível essa abstração futurista. Eu acredito naquele Rio de Janeiro – não o quero, mas acredito nele.”

Essa retomada histórica sob o ponto de vista dos combatentes tem em comum, em qualquer ponto da história, o amor. Os heróis, por um lado, podem ser vistos como pessoas que são possuídas e dominadas pelo espírito da justiça em diferentes momentos históricos. Mas também, dentro da mitologia indígena apresentada no início do filme, vistas como almas gêmeas inseparáveis que não são heróis com a intenção de mudar a história, mas sim pessoas imbuídas de um amor tão profundo e enraizado que sobrevive a qualquer noção humana de sofrimento, tempo e espaço. “Não tem nada mais forte e poderoso do que o amor para te incentivar a fazer qualquer coisa”, reflete Santoro a respeito dos protagonistas. Camila completa: “A fúria vem retratada nesse sentimento de lutar pelo amor, pela fúria, a sobrevivência, de lutar contra um sistema no qual não se acredita. Na última história, o personagem do Selton já está desistindo, mas a Janaína, minha personagem, é a resistência. O amor é a ponta de lança que faz esse homem resistir em todas as épocas. Uma pergunta que o filme traz em cada época é ‘como a gente quer se afirmar no mundo?’”, conclui a atriz.