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Produto de exportação

Sem gravadora para lançar o disco Haih no Brasil, Os Mutantes investem no mercado internacional enquanto aguardam oferta tupiniquim; "Sou patriota e quero que os impostos fiquem aí", diz Sérgio Dias

Por Adriana Douglas Publicado em 11/09/2009, às 16h37

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A bordo de uma van em movimento, Sérgio Dias demonstrou, em conversa pelo telefone na semana passada, a empolgação que o guia na turnê dos "novos" Mutantes pelos Estados Unidos. A banda já não conta com Rita Lee ou Arnaldo Baptista, como nos velhos tempos: agora, o guitarrista é acompanhado por outros sete músicos, incluindo a cantora Bia Mendes, que assume o posto feminino da trupe (ocupado brevemente por Zélia Duncan). Depois de quase 35 anos sem gravar um álbum de inéditas, o grupo lançou, nesta semana, o disco Haih ou Amortecedor. Animado - mas sem perder a verve crítica -, Sérgio falou à reportagem ao site da Rolling Stone Brasil sobre a atual fase da banda e o fato de o álbum não ter lançamento fechado com uma gravadora por aqui.

O motivo: não há selo interessado em Haih. A princípio, conta Dias, a Sony BMG - responsável pelo lançamento de disco ao vivo gravado durante apresentação no Barbican Theatre (Londres), em 2006 - "não quis dar continuidade ao trabalho que tinha feito". "Ela tinha a opção. Devem ter pensado que não éramos comercialmente rentáveis, mas eu sabia onde estava indo e não fez diferença pra mim", desabafa. "Querem tudo pronto, são imediatistas, não acreditam no trabalho dos outros."

Pela assinatura "Mutantes", o disco acabou se tornando a menina dos olhos da norte-americana Anti-Records, responsável por lançamentos de artistas como Tom Waits e Nick Cave. "Até Sean Lennon", filho do ex-Beatle, "demonstrou interesse em lançar" a criação, relembra Dias.

Mesmo bem cotado lá fora, Haih parece não ter tido força suficiente para seduzir gravadoras em território nacional. Se faltou insistência? "Seria uma perda de tempo e um desgaste muito grande, não ia expor o Mutantes a isso", explicou o "comandante", puxando a questão para a suposta descrença do país em seus próprios artistas. "O Brasil tem esse problema de não amar tanto seus representantes, os artistas são colocados 'na categoria que cada um merece'". Em outras palavras: "Não sei como um homem de negócios sabe que o público quer banana e não põe banana pra vender."

Parcerias

A obra resgatou parceiros antigos dos Mutantes, como Tom Zé e Jorge Ben Jor, e incluiu o norte-americano, entusiasta da música brasileira, Devendra Banhart. Isso tudo, garante Dias, para "manter o estilo da banda". "Agora, são os Mutantes tocando no século 21. Não vamos tocar coisas parecidas com os hits antigos, mas sim do jeito que tocamos no passado", detalha. "Não nos espelhamos no passado, porque seríamos hipócritas." E há ainda diversas outras canções inéditas, especialmente separadas para um lançamento nacional, entre elas uma parceria com Erasmo Carlos.

Quanto à esperada participação de Mike Patton, líder do Faith No More, Dias comenta que fez o convite após se conhecerem no festival Minehead, em Londres, no final de 2008. Tudo ia bem na composição e gravação da faixa "Dois Mil Agarrum", até que a dupla se desentendeu na hora de selar o trabalho com uma gravadora. "Quando começamos a expor o trabalho para o mercado, tivemos que passá-lo para um profissional, e recebemos diversas propostas. Ele [Patton] também queria lançar o disco em seu selo próprio [a Ipecac Recordings]", lembra. "Mas não havia nada acertado e ele ainda pediu remuneração pelo trabalho, o que achei indelicado."

Os shows de divulgação de Haih seguem por território norte-americano, tomado pelo grupo como sua segunda casa. Na terra do Tio Sam, os Mutantes têm cerca de 30 shows agendados, de costa a costa, até o final de outubro - podendo seguir depois para a Europa. E tudo está sendo registrado para possivelmente dar origem a um DVD.

Enquanto a obra não ganha versão tupiniquim, é possível adquiri-la na megastore online Amazon. Dias ressaltou que havia a possibilidade de lançá-lo no Brasil pela Anti, mas optou por separar algo "diferente" para cá. "Afinal é nossa terra. Sou patriota e quero que os impostos fiquem aí".