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Chester Bennington: amigos comentam os últimos dias do vocalista do Linkin Park

Companheiros lembram os altos efervescentes e os baixos destrutivos do artista; "Ele me descreveu uma batalha de hora em hora com o vício", conta Ryan Shuck, que tocava com Bennington no Dead by Sunrise

Kory Grow Publicado em 04/08/2017, às 18h18 - Atualizado em 05/08/2017, às 13h26

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Chester Bennington - AP
Chester Bennington - AP

Na tarde de 26 de maio, o principal vocalista do Linkin Park, Chester Bennington, fez uma performance como nenhuma outra em sua carreira. Seu amigo próximo, Chris Cornell, líder do Soundgarden, estava sendo velado no cemitério Hollywood Forever em Los Angeles. “Meu nome é Chester”, Bennington disse aos presentes. “Tive o grande privilégio de ser amigo do Chris e convidado a ser um membro da família dele.” Então, acompanhado pelo colega de Linkin Park Brad Delson ao violão, cantou “Hallelujah”. Bennington ficou famoso no início dos anos 2000 como a voz potente de uma das maiores bandas de rock nascidas naquela época, expressando-se por meio de um grito cheio de angústia, mas, naquele dia, seu canto estava diferente: lamentoso, sóbrio, frágil. Ele também prestou homenagem a Cornell no Twitter: “Sua voz era alegria e dor, raiva e perdão, amor e tristeza, tudo ao mesmo tempo. Acho que todos somos assim. Você me ajudou a entender isso”.

Menos de dois meses depois, Bennington também estava sendo velado. Ele se suicidou por enforcamento e foi encontrado na manhã de 20 de julho na casa onde morava em Palos Verdes, em Los Angeles, uma semana antes de o Linkin Park partir para uma turnê de 29 shows pela América do Norte. O vocalista, de 41 anos, estava de férias no Arizona com a esposa, Talinda, e a família, mas voltou mais cedo para casa, dizendo que precisava trabalhar (o Linkin Park tinha uma sessão de fotos marcada para a manhã seguinte). O site TMZ relatou que a polícia havia encontrado uma garrafa parcialmente vazia de álcool no quarto em que ele morreu.

Bennington sempre foi franco sobre suas lutas contra o vício e a depressão, mas quem era próximo dele ficou chocado com seu suicídio. No dia após o velório de Cornell, ele postou no Twitter que estava se “sentindo muito criativo” e que tinha composto seis novas músicas. Mais ou menos na mesma época, disse a um amigo, Rene Mata: “Temos de nos unir e temos muita coisa para viver”.

Ele tinha motivos para estar feliz: o novo álbum do Linkin Park, One More Light, tinha chegado ao topo das paradas no lançamento, em maio, e um single, “Heavy”, estava se saindo bem nas rádios rock. Além da turnê com o Linkin Park, planejava uma reunião com sua banda grunge pré-fama, a Grey Daze, para setembro. “Ele estava no topo do mundo”, diz Sean Dowdell, baterista do Grey Daze e amigo de Bennington desde a adolescência, que falou com o vocalista pela última vez dois dias antes da morte.

Steve Stevens, que toca guitarra com Billy Idol, lembra-se de Bennington segurando um novo filhotinho de cachorro enquanto cumprimentava a todos que iam aos bastidores de um evento em outubro do ano passado para a Rock to Recovery, uma organização para músicos em processo de recuperação do vício em álcool e drogas. “Ele queria ter certeza de que todos conseguiriam conhecer o cão na porta”, conta. “Foi muito doce e muito Chester.”

Na turnê europeia do Linkin Park em junho e julho, Bennington parecia estar em sua melhor forma. “Vimos o Chester mais vivo e presente em toda a minha história de 15 anos e meio com a banda”, afirma Jim Digby, diretor de turnês do grupo. “Ele estava, provavelmente, na melhor condição física de sua vida.”

Vídeo: filha de 12 anos de Chris Cornell canta “Hallelujah” em homenagem ao pai e a Chester Bennington.

Alguns dias antes de morrer, Bennington trocou mensagens de texto com Robert DeLeo, seu companheiro no Stone Temple Pilots (ele liderou a banda de 2013 a 2015, depois que Scott Weiland a deixou). As mensagens eram “amorosas, positivas, ansiosas pelo futuro, por envelhecer”, DeLeo lembra. Na véspera da morte, Bennington mandou um e-mail a Matt Sorum, ex-baterista do Guns N' Roses, dizendo que queria tocar de novo com a estrelada banda de covers dos dois, Kings of Chaos.

Amigos contam que ele sofrera uma recaída de três dias em agosto do ano passado, durante a qual desmaiou por causa do álcool, e havia bebido em outubro

No entanto, alguns amigos agora sentem que ignoraram sinais de que o lado sombrio do vocalista – que ele chamava de “passageiro sombrio”, uma referência à força que motivava o serial killer protagonista do seriado Dexter – tinha sorrateiramente voltado à vida dele. Bennington se internou em uma clínica de reabilitação por volta de 2006 e pareceu estar sóbrio desde então, mas amigos contam que ele sofrera uma recaída de três dias em agosto do ano passado, durante a qual desmaiou por causa do álcool, e havia bebido em outubro.

Um mês antes de morrer, Bennington disse ao amigo de longa data Ryan Shuck, que tocava guitarra em seu projeto paralelo Dead by Sunrise, que estava sóbrio havia seis meses, mas enviou ao guitarrista, que também luta contra o alcoolismo, algumas mensagens de texto que, olhando em retrospecto, pareciam um mau presságio: “Ele descreveu uma batalha de hora em hora com o vício. Quando olho para isso agora, é horripilante. Ele estava me dizendo, com detalhes, o que faria na primeira hora em que quisesse beber: ‘Basicamente, lido com isso hora a hora todo dia’.”

A potência vocal de Chester Bennington em dez músicas do Linkin Park

Bennington falou sobre seus problemas em uma entrevista em fevereiro à Music Choice. “Tenho uma dificuldade com a vida”, disse enquanto descrevia o sentido por trás do hit “Heavy”. “Mesmo quando ela está boa, eu me sinto desconfortável o tempo inteiro... o primeiro verso, ‘não gosto da minha mente neste momento’ – tipo, sou eu 24 horas por dia. Se fico preso aqui, simplesmente acho a vida muito difícil. E não precisa ser.”

Shuck acredita que Bennington “tomou algumas doses” logo antes de morrer. “Não sabemos o quanto, mas não precisa de muito quando você é um alcoólatra e viciado em estágio avançado e está lutando do jeito que ele me descreveu. Não precisa de muito para perder a cabeça por um minuto.”

Shuck e Dowdell minimizam especulações de que a morte de Cornell tenha inspirado a de Bennington. Embora haja semelhanças – ambos se enforcaram e Bennington o fez no dia em que teria sido o aniversário de 53 anos de Cornell –, eles acreditam que foi, basicamente, uma coincidência. “Pode ter sido parte do motivo, mas uma pequena parte”, diz Shuck. “Acho que é só mais um evento horrível que entra no seu subconsciente. É um combustível, mas o fogo já estava queimando.”

“Pode ter sido parte do motivo, mas uma pequena parte”, diz Ryan Shuck sobre a possibilidade de a morte de Chris Cornell ter influenciado Bennington. “Acho que é só mais um evento horrível que entra no seu subconsciente. É um combustível, mas o fogo já estava queimando”

Os problemas de Bennington remetem a uma infância de dor. Ele nasceu em 20 de março de 1976, em Phoenix, o caçula entre quatro filhos. A mãe, Susan, era enfermeira; o pai, Lee, um detetive policial que investigava crimes de pedofilia. Eles se divorciaram quando Chester tinha 11 anos e, sentindo-se abandonado pela mãe, ele foi morar com o pai, que mais tarde descreveu como não estando “emocionalmente estável” na época.

Desde que tinha 7 ou 8 anos até os 13, foi abusado sexualmente por um amigo mais velho. “Ele me batia e me forçava a fazer coisas que eu não queria fazer”, contou uma vez. “Isso destruiu minha autoconfiança.”

A experiência levou Bennington a explorar drogas e álcool. Quando chegou à adolescência, tinha usado ópio, anfetaminas, maconha e cocaína. “Eu bebia tanto que fazia cocô nas calças”, disse. Alegava ter abandonado o abuso de substâncias pela primeira vez em 1992, quando uma gangue local invadiu o lugar onde ele estava se drogando com amigos e agrediu e roubou o grupo.

Bennington despejou suas experiências nas músicas do Linkin Park, que misturavam seus gritos de expor a alma com o rap de Mike Shinoda e os riffs pesados da banda para um som que dominou as paradas pop/rock durante boa parte dos anos 2000. “Ele tinha uma voz diferente, delicada e feroz ao mesmo tempo”, diz Jared Leto, ator e vocalista do Thirty Seconds to Mars, que o conheceu no circuito de festivais naquela época. “É o anjo e o demônio, sentados um em cada ombro. Você podia sentir a tensão entre ambos quando ele cantava e acho que o motivo para tanta gente se conectar com sua música era por causa desse equilíbrio que ele atingia entre os dois.”

As músicas de Bennington, muitas coescritas com Mike Shinoda, viraram hinos para jovens lutando com algumas das mesmas questões emocionais. “‘Crawling’, por exemplo, provavelmente é a música mais literal que já compus para o Linkin Park”, disse sobre o single, do álbum de estreia da banda, Hybrid Theory (2000). “Ela fala de sentir que não tenho controle sobre mim mesmo com relação a drogas e álcool.”

Quem o conhecia diz que ele não deixou que suas dificuldades definissem sua personalidade. Conseguia ser engraçado de um jeito juvenil em um momento (era fã de humor escatológico) e profundamente sensível no minuto seguinte: Shuck se lembra de Bennington se repreendendo sem piedade depois de fazer uma piada sobre câncer de pulmão no palco.

Às vezes, ele dizia a bandas que abriam para o Linkin Park: “Da próxima vez, pode ser que a gente faça o show de abertura para vocês”. Sorum se lembra de ter pedido para membros do Kings of Chaos fazerem um show pouco antes do Natal. Bennington e DeLeo ficaram presos por 12 horas em Chicago e o baterista se sentiu péssimo por mantê-los longe de casa durante as festas de final de ano. “Mandei um e-mail para eles e disse: ‘Desculpa. Sinto muito. Muito obrigado por terem feito isso’”, conta Sorum. “E Chester respondeu de seu jeito típico: ‘Sem problema, bro’. Não houve drama. Nada.”

Em casa, Bennington encontrava paz nos seis filhos. Teve a primeira filha aos 20 anos e se casou em 1996. A relação terminou em um divórcio tumultuado, marcado por uma recaída em que bebeu “tanto a ponto de não conseguir sair de casa nem funcionar direito”, lembra. “Queria me matar.” Ele se casou com Talinda em 2005 e os dois tiveram um menino e duas gêmeas. Jared Leto se lembra de jantar na casa dele uma noite. “Cheguei e lá estava a maior família que você já viu”, conta. “Eu mal conseguia acreditar que ele tinha uma vida familiar tão linda e próspera, especialmente para alguém tão jovem. Não tinha visto muito esse lado [dele] enquanto estávamos na estrada.”

“Ele sempre tinha histórias legais sobre os seis filhos, de quem sempre falava com um sorriso enorme, independentemente do tipo de problema familiar que possa tê-lo feito pensar duas vezes”, conta Billy Gibbons, do ZZ Top, que fez turnê com Bennington no Kings of Chaos no último ano. “A loja de tatuagens dele era outro ponto alto; ele me fez desenhar joias de prata para a loja de Las Vegas, onde ficamos horas falando de negócios. Era, de verdade, uma alma envolvente.”

No final de julho, Shuck homenageou Bennington em uma cerimônia privada em Los Angeles, onde leu um discurso ao lado de Joe Hahn e Shinoda, do Linkin Park (os integrantes da banda e a viúva, Talinda Bennington, não quiseram falar para esta reportagem).

A morte dele ainda está ressoando entre seus fãs, que sentiram uma onda de choque quando a notícia veio a público. Nos Estados Unidos, a National Suicide Prevention Lifeline diz ter recebido 14% a mais de ligações no dia seguinte à divulgação do fato.

Dez dias depois da morte de Bennington, havia uma cerca temporária de 1,83 m em volta da casa do vocalista. Um carro de polícia ficou diante da cerca enquanto fãs deixavam flores, desenhos, placas, palhetas de guitarra e cruzes no local. “Quando fiquei sabendo, estava em um museu e chorei copiosamente”, disse Briana Yah-Diaz, de 19 anos. “Foi como se um pedaço da minha infância tivesse ido embora. A garotinha dentro de mim precisa vir e prestar sua homenagem... sempre pude contar com eles.”

Fora da casa, uma mensagem dizia: “Voe livre agora! Com todo amor, de lá do Texas”. Em outra, era possível ler: “Querido Chester Bennington, dói em todos nós saber que você salvou tantas vidas, mas nós não conseguimos salvar a sua...”

Reportagem adicional de Steve Appleford