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Como D’Angelo chegou ao épico Black Messiah, o primeiro disco dele em mais de uma década

Aos 41 anos, o astro perdido do soul é comparado ao músico Prince

Brian Hiatt | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 01/08/2015, às 14h05

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 D’Angelo - Albert Watson
D’Angelo - Albert Watson

Dá para dizer que D'Angelo gosta de manhãs. Quando está trabalhando no estúdio, como frequentemente era o caso durante o intervalo de 14 anos entre Voodoo (2000) e Black Messiah (2014), ele sai das sessões de gravação que duram a noite inteira bem a tempo de saudar o nascer do sol de cada dia. “Definitivamente, sou do turno da noite”, conta, tragando um de uma série de cigarros Newport, pouco depois da meia-noite, em um estúdio no centro de Manhattan.

Ele pode ser o astro mais visionário a surgir do R&B – transcendendo o gênero – desde Prince. Mas se Prince é prolífico até demais, D’Angelo teve o problema oposto: levou cinco anos para lançar o sucessor de seu primeiro álbum, Brown Sugar (1995). No entanto, Voodoo foi um clássico sólido. O videoclipe para “Untitled (How Does It Feel)”, no qual aparecia nu, foi um sucesso estrondoso na MTV, fazendo dele um símbolo sexual (amigos dizem que isso o assombrou quando ele ficou fora de forma nos anos seguintes). Depois, exceto por algumas aparições, veio o silêncio.

Aos 41 anos, D’Angelo tem o riso fácil e demonstra uma gratidão desconcertante diante do menor dos elogios. Ele vê com clareza: o desespero da população negra em protestos como o de Ferguson, nos Estados Unidos, o fez perceber que estava na hora de lançar um disco. “Pensei: ‘Preciso contribuir. Preciso participar’”, conta. “E cansei de tentar ser um perfeccionista com relação à minha música.”

Só que, na pressa, ele lançou apenas uma parte do álbum que visualizou. Então, mesmo com o início da turnê em junho, D’Angelo está de volta ao estúdio para trabalhar em canções que devem gerar um novo disco.

Na faixa “Back to the Future (Part 1)”, parece que você está se reapresentando ao mundo.

Quando fiz a letra, a visualizei como sendo a primeira coisa que as pessoas ouviriam, porque meio que conta a história de onde estive [alguns dos versos: “Então, se você está perguntando sobre a minha forma/ Espero que não esteja se referindo ao meu abdome”]. Era eu respondendo a algumas perguntas, mesmo que elas não tivessem sido feitas. Não apenas feitas por qualquer pessoa mas também

por mim mesmo.

O que deve ser feito diante do racismo estabelecido e da corrupção institucional? O que os artistas podem fazer?

A primeira e melhor coisa a fazer é falar e cantar sobre isso. Aretha Franklin foi tão importante para o movimento de direitos civis quanto Malcolm X e Medgar Evers. Nós, artistas, podemos escolher assumir a tremenda responsabilidade que temos ou escolher ignorá-la. Não posso detonar alguém por não cantar o que sinto que devo cantar, mas sei que, para mim, é hora de dizer essas coisas.

mesmo tempo, seu show não é tão político.

Nunca quero sentir que estou fazendo um sermão. Sinto que a música é como um sacerdócio, mas não estou tentando virar Bob Marley ou algo assim [risos]. As pessoas se metem em encrenca por isso – quando você se coloca naquele pedestal, ninguém espera que você seja humano.

No passado, gente da sua igreja disse para você não tocar “música do diabo” – isso remete à época de Sam Cooke.

Nunca acreditei nisso. Estavam tentando me deixar com medo de algo que eu não temia. E minha avó, que era basicamente uma santa, nunca me disse isso. Pelo contrário. Ela dizia: “Vá lá e faça o que você sabe fazer”.

Alguém como Marvin Gaye via sexualidade e espiritualidade em conflito, mas Prince parece enxergar as duas coisas como uma só.

É o jeito certo de ver isso, na minha opinião. Marvin pode ter tido mais conflitos porque foi criado assim. Acho que fazer amor é uma forma de veneração.

Há uma percepção de que você ficou profundamente incomodado em ser mostrado como objeto sexual no clipe de “Untitled (How Does It Feel)”..

Estou em paz com isso e sinto que foi uma tempestade em copo d’água. Qualquer problema que tive foi por achar que não se tratava da música – e sim porque eu aparecia nu. Só que agora penso que as pessoas ficaram atraídas por quão sexy e linda a música era. Não teria surpreendido as pessoas se não fosse boa. O videoclipe foi simplesmente um ótimo acompanhamento.