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Dani Calabresa e Leo Jaime, dubladores de Divertida Mente, falam sobre a animação

Novo longa-metragem da Pixar/Disney acompanha os 12 primeiros anos de vida da pequena Riley

Christian Petermann Publicado em 17/06/2015, às 18h31 - Atualizado às 19h30

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A comediante Dani Calabresa na pré-estreia de <i>Divertida Mente</i> - Divulgação
A comediante Dani Calabresa na pré-estreia de <i>Divertida Mente</i> - Divulgação

Estreia em todo o Brasil nesta quinta-feira, 18, a nova animação da Pixar/Disney, o ótimo Divertida Mente (Inside Out), de Pete Docter e Ronaldo del Carmen. A premissa é inspirada: acompanham-se os 12 primeiros anos de vida da pequena Riley, mas de um ponto de vista íntimo e interno, a partir da interação de suas principais emoções; desta forma, a história é conduzida pela Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva de Riley.

Fã da Pequena Sereia a ponto de achar Marcelo Adnet parecido com o príncipe, Dani Calabresa emerge do fundo do mar televisivo para a delícia e os perigos da TV em rede nacional.

Na versão dublada em português, que conta com participação especial do cantor Sidney Magal vocalizando um idealizado amante latino/carioca, reuniu-se um célebre e estreante elenco de vozes para interpretar as cinco emoções: a atriz Miá Mello faz as vezes da Alegria, presente em quase todas as cenas; a comediante Katiuscia Canoro está fantástica apenas baixando o tom de sua voz como a Tristeza; o ator e apresentador Otaviano Costa é o Medo; a humorista e apresentadora Dani Calabresa incorpora o Nojinho; enquanto o roqueiro Leo Jaime esquenta a cabeça como a Raiva. Rolling Stone conversou com Nojinho e Raiva.

Cantor e compositor, Leo Jaime comparou o ato de dublar com o de cantar: “Na dublagem, é preciso ouvir a musicalidade do texto original em inglês, conhecer bem a tradução brasileira e saber o tempo que se tem. É preciso colocar as palavras como que notas numa partitura, sempre atento à duração de cada uma. É exatamente como ler uma partitura, algo que não se faz de forma mecânica.” O roqueiro ainda se diz muito feliz de ter assumido a Raiva, “pois ela diz tudo aquilo que não temos coragem de dizer na lata, é transparente, e seu humor vem daí.”

Leo completa dizendo que, com este trabalho, ele finalmente deu cabo de uma frustração pessoal: “Em 1988, a Disney me chamou para cantar o tema do personagem principal do desenho ‘Oliver e sua Turma’ e também para ser uma das vozes. Mas me revelei muito lento na dublagem e me mandaram embora. Foi frustrante. Agora finalmente resolvi esse antigo problema, pois desde então desejo participar de um desenho animado da Disney/Pixar, eu assisti a todos.”

Dani Calabresa também estreia como dubladora: “Foi ótimo participar da trama deste desenho, pois todas as animações da Disney/Pixar tem uma mensagem sensível e o espectador dá risada e chora ao mesmo tempo. A Nojinho é muito divertida, é dona de uma ‘falsa alegria’, uma alegria irônica, achei tudo nela bem engraçado”.

Quanto à musicalidade mencionada por Leo, ela complementou: “A tradução do roteiro ficou muito boa, mas pude experimentar, tive liberdade de sugerir e trocar algumas palavras ou mudar de leve sua ordem para não quebrar o ritmo do filme.” E para entrar em sua personagem, a atriz e comediante ainda explicitou uma lista de coisas que lhe dão a emoção que por ela vivida: “Tenho nojo de sujeira e de casa bagunçada, de bichos como barata, rato e lagartixa e de encontrar cabelo na comida – sabe-se lá se o pelo que você encontrou vem do braço ou da virilha do cozinheiro!”

Depois de dar seu aparte neste último assunto – declarando ter nojo de cheiros específicos –, Leo retorna à questão musical e confessa outro desejo pessoal, este ainda não realizado: “Quero muito compor a trilha sonora para uma animação. Já compus trilhas para filmes em que também atuei, como Rock Estrela (1985) e As Sete Vampiras (1986), mas pensar na música a partir de um roteiro é o tipo de composição que gosto de fazer. Está tudo delimitado, com foco, assunto e tempo definidos. E neste desejo de composição incluo também a trilha incidental, apesar de isto exigir um conhecimento de orquestração que não tenho, minha habilidade é com melodias. Mas considere, por exemplo, a trilha sonora perfeita que Randy Newman escreveu para o primeiro Toy Story, há vinte anos: um trabalho como esse seria a glória para mim.”

O site da Rolling Stone conversou também com Leo Santos, animador brasileiro há muito radicado nos Estados Unidos, que desde o início desta década trabalha nos estúdios da Pixar e que veio ao Brasil apresentar seu terceiro trabalho no estúdio, depois de Valente (2010) e Universidade Monstros (2013). Ele trabalha na importante função de artista de layout, e explica o que faz: “Eu recebo o storyboard do filme já editado e, trabalhando com uma equipe pequena, de cerca de dez pessoas, respondo pelo primeiro passo do filme para o 3D. Nós recebemos um protótipo do filme, como se fosse um copião, com luz e textura temporárias. É como se respondêssemos pela fotografia real, tipo ‘live action’, do desenho: fazemos os movimentos básicos da cena, uma versão “tosca” sem finalização, pois estamos mais interessados na composição ou ‘staging’ (nome oficial: ‘camera and staging’, ou câmera e coreografia). Temos a liberdade de experimentar várias possibilidades de composição para chegar à melhor.”

Vídeo: assista ao making of da sessão de fotos com Dani Calabresa.

Leo esclarece que seu trabalho é realizado num momento em que o filme ainda está “maleável”. “Estamos lá para ajudar o diretor e testar ideias, a regra é não ficar preso a nenhuma. O mais legal pra mim é isso, ter voz atuante e poder opinar.” A fase seguinte à sua, que é a da animação em 3D em si, com refinamento em luz e texturas, é extremamente custosa e se, a esta altura do processo, algo der errado ou precisar ser mudado, perdem-se milhares de dólares e muito tempo.

Fã confesso de Calvin e Pernalonga, fascinado desde sempre por histórias em quadrinhos, desenhos e cinema, Leo Santos disse ter a sorte de poder conjugar todas as suas paixões em seu trabalho. “O trabalho da animação começa no HQ, no storyboard, e vai ao pleno exercício da linguagem cinematográfica, com a escolha das câmeras, lentes e cortes ideais para fazer cada cena funcionar.” E exemplifica este prazer com o fato, por exemplo, de Divertida Mente trabalhar com duas linguagens diferentes: no mundo imaginário, a câmera lembra a de um musical dos anos 1940, uma câmera de estúdio em trilhos e movimentos fluidos; já no mundo real, as câmeras são mais realistas, tipo ‘na mão’.

Das quatro sequências do filme de que cuidou em um ano intenso de trabalho, Leo tem duas preferidas: “A primeira é simples do ponto de vista técnico, mas foi difícil de encontrar o tom certo – quando a Alegria ‘apaga’ os sonhos de Riley e coloca uma memória boa de patinação no gelo, é uma cena mais lírica e quieta. Já a mais difícil foi conceber os namorados empilhados de Riley, é o tipo de cena que você vê no storyboard e resmunga: isto não vai dar certo!” (risos)

Seu trabalho junto à Pixar/Disney não para. Ele já concluiu sua participação em O Bom Dinossauro, que estreia mundialmente em dezembro deste ano, e no momento está em pleno processo de layout do aguardado Procurando Dory, a continuação do clássico Procurando Nemo, que chegará às telonas em junho de 2016. E ele é muito otimista quanto ao futuro da animação, inclusive no Brasil: “Com a tecnologia de hoje, crianças estão crescendo com acesso fácil às técnicas de animação, podendo se tornar grandes e precoces artistas no ramo!”

Veja o trailer de Divertida Mente