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David Gilmour em Pompeia: ex-Pink Floyd retorna a anfiteatro histórico para filme-concerto

Registro em vídeo das apresentações do guitarrista na cidade italiana tem exibição por noite única nos cinemas brasileiros

Kory Grow Publicado em 12/09/2017, às 19h05 - Atualizado às 21h18

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David Gilmour durante um dos shows na cidade italiana de Pompeia para a gravação do filme-concerto <i>Live in Pompeii</i>, em 2016 - Gregorio Borgia/AP
David Gilmour durante um dos shows na cidade italiana de Pompeia para a gravação do filme-concerto <i>Live in Pompeii</i>, em 2016 - Gregorio Borgia/AP

David Gilmour está sentado no sofá de um grande complexo de cinemas na região de West End, em Londres, Inglaterra. Dentro de poucas horas, uma das salas iria receber uma pré-estreia só para VIPs do novo filme-concerto dele, Live at Pompeii, que registra duas brilhantes apresentações no milenar anfiteatro da cidade italiana de Pompeia, que no passado foi devastada e enterrada pelo vulcão Vesúvio. Conforme encara o pôster do filme, a mente dele divaga sobre a primeira vez em que ele se apresentou no local – como integrante do Pink Floyd, apresentando-se para uma “plateia de fantasmas” no espaço vazio – e analisa a sensação de reviver a experiência 45 anos depois.

“Nem lembro quanto tempo ficamos lá – deve ter sido mais de uma semana na região –, mas estava muito quente”, ele diz, tentando remontar o passado de quase cinco décadas atrás. “Desta vez, estava muito quente também, mas no geral foi bastante diferente, uma vez que tínhamos uma plateia e estávamos fazendo um show.” Apenas cerca de 2 mil pessoas testemunharam cada um dos dois shows, que contaram com Gilmour tocando faixas do recente disco solo, Rattle That Lock (2015), e clássicos do Pink Floyd no centro de um jogo de luzes brilhante, completado por pirotecnias e um telão circular. Foi a primeira vez que o público pôde assistir a uma performance no anfiteatro desde os tempos de Roma, em uma experiência única.

Experimentalismo perene: uma discografia selecionada do Pink Floyd

Agora, um público muito mais vasto pode ter a experiência do concerto, quando o filme ganhar uma exibição especial por uma noite em mais de 2 mil salas de cinema espalhadas pelo mundo, na próxima quarta, 13. Gilmour vai lançar o show em home video ainda este mês. No Brasil, mais de 100 salas irão transmitir David Gilmour: Live at Pompeii, com os ingressos já à venda para a sessões, que começam às 20h.

“Ao longo dos últimos anos, procuramos tocar em espaços realmente bonitos”, diz Gilmour, falando sobre os shows dele de 2016 no Radio City Music Hall, de Nova York, e no Chicago Auditorium, além de Pompeia e do Circus Maximus, em Roma. “Eu realmente gosto de criar algo em que as pessoas tenham alguma coisa além de apenas a experiência musical em um cômodo. Algo de que eles possam dizer: ‘Ah, isso foi especial’.”

Para Gilmour, a pressão era ainda maior em Pompeia, uma vez que ele tinha uma história ali. Quando tocou no espaço pela última vez, em outubro de 1971, foi para outro filme-concerto. O cineasta Adrian Maben havia convocado o quarteto inglês para ser o foco da produção “anti-Woodstock” dele: Pink Floyd: Live at Pompeii, que documentava a banda tocando no chão do anfiteatro, para ninguém.

Desta vez, o guitarrista fez um filme decididamente menos experimental, deixando o produto nas mãos do diretor Gavin Elder, que fez o filme-concerto Live in Gda?sk (2008) com Gilmour. Apesar da experiência de Elder, não foi fácil filmar desta vez. A equipe de câmeras teve que ser especialmente cuidadosa com os alicerces das estruturas. Ainda que o show tenha acontecido em julho, Elder estava trabalhando com o time dele nas ruínas durante quatro meses antes, tentando descobrir como gravar um filme-concerto ali. Na noite em que eles testaram tudo, um dos funcionários da equipe de luz caiu em um buraco nas ruínas e quebrou o braço. “Saúde e segurança não eram com os romanos”, brinca Elder.

A equipe não teve permissão de levar câmeras para o chão da arena, então as câmeras fixas estavam ou dos lados ou em guindastes. Eles puderam apenas usar apenas uma steadicam (com o operador em movimento), o que tornou as filmagens ainda mais difíceis. Alguns desses problemas foram resolvidos usando um drone para capturar parte das magnificas imagens aéreas à distância.

O filme abre com “5 A.M.”, faixa instrumental de Rattle That Lock, conforme o sol começa a se pôr atrás do anfiteatro. “Eu estava muito consciente da hora que o show deveria começar”, diz Elder. “Eu realmente queria capturar o mágico pôr do sol, para que você pudesse ter a sensação de onde o Vesúvio estava, atrás da arena, à distância”. Acabou dando muito certo.

O resto da magia da noite ficou com Gilmour e sua banda. Quando ele lembra do primeiro show em Pompeia com público, o cantor admite que se sentiu um pouco nervoso antes de subir ao palco. “Fingi que não estava [nervoso]”, conta. “Mas acho que eu provavelmente estava um pouco.” Ele foi ajudado, contudo, pelo fato de ter uma banda de acompanhamento que inspira confiança. Antes da perna europeia da turnê de Rattle That Lock, ele contou contou com o tecladista dos Rolling Stones, Chuck Leavell, e um ex-diretor musical de Michael Jackson, Greg Phillinganes, entre outros, para deixar as músicas um pouco mais soltas. “Estava mais no groove em Pompeia”, afirma Gilmour.

Três integrantes da banda que ficaram na formação em todas as pernas da turnê foram os backing vocals Bryan Chambers, Lucita Jules e Louise Clare Marshall, que protagonizaram uma estonteante harmonia de três-partes para “The Great Gig in the Sky”, clássico de The Dark Side of The Moon (Gilmour não mostrava a música ao vivo desde 2006). “Eles realmente trabalharam duro para criar um híbrido entre a performance clássica e uma nova abordagem, com partes diferentes. Mal podíamos esperar para tocá-la, mas pensamos em guardar para Pompeia”, remonta o guitarrista e vocalista.

Outra carta que Gilmour manteve na manga até pouco antes de Pompeia foi o galopante space-rock “One of These Days”, do Pink Floyd, um dos pontos altos do filme original, com o Pink Floyd. “Tínhamos que tocar uma que havíamos tocado antigamente”, explica. “Essa foi a que se encaixou e nós sempre nos divertimos muito com ela. Você liga o ventilador, solta um pouco de fumaça e deixa Guy [Pratt] se perder no baixo estrondoso dele. E, claro, eu toco slide guitar, o que é sempre”, ele faz pausa, "um grande momento”.

Quando Gilmour falou à Rolling Stone EUA no ano passado, ele disse que uma das músicas do show original de Pompeia que ele não poderia tocar de maneira alguma era “Echoes”, porque não funcionaria sem Rick Wright, finado tecladista do Pink Floyd. Em vez dela, ele incluiu alguns tributos musicais a Wright, que tocou na banda solo de Gilmour em 2006. “‘The Blue’ foi composta e gravada antes de Rick morrer, mas, para mim, ela tem um pouco do Rick nela”, diz Gilmour, referindo-se à música solo do álbum On an Island, de 2006. “É outra canção que, assim como ‘A Boat Lies Waiting’ [de Rattle That Lock] e ‘Great Gig in the Sky’, me deixa com a sensação de que ele está nelas. Então, fazemos um momento de três ou quatro faixas que estão todas conectadas [a ele] desta maneira”. A lembrança de Wright também se faz presente no encerramento do filme, em uma performance inflamada e longa para “Comfortably Numb”, do Pink Floyd, que também conta com um solo grandioso de Gilmour na guitarra.

Atualmente, o músico está no processo de compor um disco para dar sequência a Rattle That Lock (2015). Em meio ao encerramento da atual turnê, ele vem gravando algumas ideias musicais no iPhone, com a intenção de analisá-las quando entrar em estúdio. Ele também tem algumas ideias antigas em que está trabalhando. Gilmour acrescenta que gravar um novo álbum é pré-requisito indiscutível para uma nova turnê no futuro.