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“Eles realmente me abriram uma guarda que não abrem para ninguém”, diz Maria Ribeiro, diretora de novo documentário sobre o Los Hermanos

Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida é exibido pelo festival É Tudo Verdade, nesta sexta, 11, e domingo, 13, em São Paulo

Lucas Brêda Publicado em 10/04/2014, às 16h12 - Atualizado às 18h13

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Maria Ribeiro durante as filmagens do documentário <i>Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida</i>. - Divulgação
Maria Ribeiro durante as filmagens do documentário <i>Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida</i>. - Divulgação

“Quando a banda acabou, fiquei desesperada como fã”, diz a atriz e diretora Maria Ribeiro, que tentou sem sucesso registrar em vídeo os bastidores dos shows que encerraram as atividades do Los Hermanos, na Fundição Progresso, em 2007. Vieram outras oportunidades: a abertura para o Radiohead, em 2009, e a apresentação no SWU de 2010, acompanhada por uma mini turnê no nordeste. Nas duas tentativas, dois “nãos”. Depois de quatro anos, enfim ela conseguiu filmar o grupo carioca, produzindo um documentário da turnê comemorativa de 2012. “Eu não acreditei, fiquei super contente”, comemora.

Entrevista RS: Rodrigo Amarante.

Exibido gratuitamente nos dias 8 e 9 no Rio de Janeiro e 11 e 13 em São Paulo, pelo festival É Tudo Verdade, o documentário Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida (veja fotos do filme na galeria acima) é o resultado final da aventura de Maria, que acompanhou a banda por cinco dias em cidades como Brasília, Recife e Salvador. Em quartos de hotel, viagens de ônibus, conversas atrás dos palcos, seu maior trunfo foi chegar muito perto dos músicos. “Eles realmente me abriram uma guarda que não abrem para ninguém”, diz a diretora, que conheceu a banda aos 25 anos (hoje ela tem 38), quando pediu para usar as músicas do disco Bloco do Eu Sozinho em um curta que produzia.

“São 13 anos de uma relação em que eu não ultrapassei nenhum limite. Então, mesmo eles tendo topado que eu fizesse o filme, quando eles estavam na piscina do hotel, eu não ligava a câmera”, ela explica. “Isso fez com que eles se sentissem à vontade para ter intimidade nos momentos em que era possível”. Apesar de não forçar a barra, Maria teve que ser atrevida para conseguir takes cruciais para o longa. Quando, nos camarins, Rodrigo Amarante mostra versos da então inédita “Tardei” – ela foi lançada no disco solo Cavalo, de 2013 – para o companheiro Marcelo Camelo, a diretora está do lado de fora do cômodo, filmando pela janela. “Foi um momento que eu não me senti à vontade para bater na porta e pedir para entrar. Então eu descobri uma janelinha do lado de fora”, ela ri ao lembrar.

Ao longo do filme, são apresentadas pequenas entrevistas com os integrantes, intercaladas com as apresentações ao vivo, com a banda em cima do palco, e imagens raras dos quatro músicos. Em algumas situações, as câmera chega tão perto que se confunde com os artistas retratados, já que os vocalistas e guitarristas Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante pegam a câmera e fazem, eles mesmos, registros do momento. Entretanto, Maria garante, “o meu filme é externo a eles”, completando, “é um filme meu, não algo que faça parte da turnê do Los Hermanos”. Esse detalhe escancara a maior diferença entre Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida e Além do Que Se Vê (2004) – documentário que acompanha o DVD da banda Ao Vivo No Cine Íris. “Gosto muito do Além do Que Se Vê, mas é um filme deles”.

E apesar de ter feito “o filme que eu queria fazer”, como ela diz, algumas situações ainda são lamentadas. “Eu queria talvez ter ouvido mais o Bruno [Medina, tecladista] e o Barba [baterista], porque acho que o filme acaba ficando mais com o Rodrigo e com o Marcelo”. Em uma cena, o baterista dá uma entrevista reveladora, quando fala, ainda que de maneira confusa, sobre os motivos para o término da banda.

Marcelo Camelo lança filme com imagens do DVD Mormaço; assista

A relação do Los Hermanos com o público também é capturada pela diretora. Na saída dos shows, o assédio de fãs dos mais diversos tipos ora desconcerta e emociona, ora tira a paciência (mesmo discretamente) da banda. Em certa altura, Camelo relembra com apreço de um abraço que ganhou da mãe de uma fã que havia morrido. Amarante revela uma personalidade brincalhona, e um dos melhores momentos é quando ele fala do convívio com o pai em uma cena em que a câmera está localizada em cima da mesa de um restaurante, onde todos comem e bebem vinho. O vocalista, aliás, era um dos que mais interagia com a câmera, segundo Maria, resultado de uma “consciência” que ele tinha das filmagens. “De todos ali, acho que foi mais difícil para o Rodrigo, então isso aparece”.

Assim como na conversa com a diretora, no filme é predominante a imagem sossegada de músicos que “sobem ao palco de carteira”, não têm qualquer grande desentendimento entre eles e tocam “Love Will Tear Us Apart” sossegadamente nas passagens de som. Segundo Maria, “durante todo o processo do filme não houve nenhuma briga. Pelo contrário, um excesso de amor. O único conflito do filme é o fato de ser uma turnê de uma banda que, na verdade, não existe”.

Com a opção por fazer Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida com 200 mil reais retirados do próprio bolso, Maria deixa claro que a produção do documentário foi uma parte importante na sua vida, e que ele não existira com outra banda que não o Los Hermanos. “É uma declaração de amor. É um filme de uma pessoa que gosta deles”. Ainda, a independência financeira revela uma liberdade artística quase utópica no Brasil atualmente, e Maria tem consciência disso. “Eu fiz do bolso porque quando eu for lançar no cinema, quero ver o filme que eu quis. Se eu puser um patrocinador antes de o filme terminar, aí as pessoas vão querer que eu faça o filme de outra maneira”.

Está prevista para o segundo semestre a estreia do documentário nos cinemas – segundo ela, “isso já é certo. Estamos só vendo qual é a melhor janela” –, tendo em vista que a diretora está em busca de patrocinadores e sócios para conseguir levar a um número maior de pessoas o trabalho intimista, espontâneo e, para uma banda como o Los Hermanos, raro. Satisfeita com o resultado, Maria sabe que o segredo para a produção foi ter como objetivo fazer um filme singelo, que lhe agradasse, como fã, e, a partir daí, agradar ao público da banda carioca. “A gente vive em uma era em que é tudo muito calculado", diz. "Então, para mim, você ver uma galera relembrando o passado, tocando Raul Seixas e conversando besteira é ouro puro”, ela conclui.