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Eumir Deodato em show intimista

Em dois pequenos shows, o pianista homenageou Tom Jobim e amigos

Antônio do Amaral Rocha Publicado em 17/10/2011, às 16h18 - Atualizado às 16h26

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Eumir Deodato realizou show intimista em São Paulo - Foto: Divulgação
Eumir Deodato realizou show intimista em São Paulo - Foto: Divulgação

O exímio e eclético arranjador e pianista Eumir Deodato, radicado nos Estados Unidos há mais de 40 anos, fez show para 200 pessoas neste sábado, 15, no Sesc Belenzinho. Acompanhado por Renato Massa na bateria e Marcelo Mariano no baixo, a apresentação teve duração de pouco mais de uma hora.

Esbanjando simpatia e bom humor, Eumir contou causos, falou da família, originária da cidade de Campinas. Disse que tocar no Brasil é só um pretexto para visitar a cidade, coisa que nunca conseguiu fazer em todas as vezes que esteve por aqui, mas que ia reservar um tempo para a visita.

O público presente no teatro da unidade da Zona Leste se compunha especialmente de pessoas que claramente acompanham a carreira de Eumir, visto que existia um certo clima de veneração no ar e até tentativas de diálogo aberto, algo impensável para um show e mais apropriado para um workshop.

O set list de 12 temas destacou composições de Tom Jobim, ("Dindi" e "Sabiá", "Wave"), Baden Powell ("Berimbau"), Gershwin ("Rhapsody In Blue", "Summertime") e originais de seu próprio repertório. Sobre "Sabiá" Eumir relembrou que o arranjo original desta música, vencedora do III Festival Internacional da Canção de 1968, foi de sua autoria e que depois a arranjou também para a gravação de Frank Sinatra. Na execução de "Dindi", Eumir incluiu efeitos no teclado o que deu uma densidade romanticamente envolvente ao tema. Especialmente impactante foi a releitura de "Berimbau", de Baden Powell e Vinicius de Moraes, onde o piano de Eumir destacou toda o balanço do afro-samba e deu oportunidade para os improvisos da bateria de Renato Massa e do baixo de Marcelo Mariano.

De tão intimista que foi o show, em alguns momentos o público tentou puxar diálogo com Eumir, tecendo comentários não tão adequados, como dizer que na execução "Whirlwinds" ele tinha resvalado em coisas de João Donato, quando citou "Amazonas". Mas o arranjador, com jogo de cintura, respondeu, de pronto, que tanta gente já fez esse tipo de citação que ficava impossível saber de quem era a ideia original. E emendou "mas tirar qualquer dúvida a próxima que eu vou tocar é totalmente minha". E executou "Carly & Carole" (uma homenagem a Carly Simon e Carole King) do seu disco mais festejado, Prelude, de 1972. Sobre esta música contou mais uma história engraçada e pouco conhecida. Ele tinha se referido a ela como a "música do pipi", pois o tema foi usado, sem sua autorização, no filme O Exorcista e acompanhou a cena em que a personagem, já tomada pelo demônio, faz xixi na sala. Eumir processou os produtores e ganhou uma indenização de US$ 22 mil. Alguém da plateia ainda quis saber se era uma cena que acontecia na escada. Claro, Eumir ignorou a observação e tocou em frente. Em outro momento alguém gritou "Viva o Clube da Esquina!" e Eumir mais uma vez ignorou.

Observações como estas, à parte, o que tivemos foi música de primeira qualidade. O último e mais empolgante tema foi "2001, Also Sprach Zarathustra" (Richard Strauss) também do álbum Prelude, que Eumir não pode deixar de tocar. O arranjo reduzido para trio faz com que Eumir se desdobre para dar conta da beleza do arranjo original que inclui naipes de sopros. Mas, apesar disso, não há perda.

Na volta para o bis, Eumir, bem humorado declarou: "então vocês acham que eu não fiz bem e tenho que fazer novo? Da próxima vez prometo fazer melhor". E alguém da plateia retrucou: "Nós queremos que você trabalhe um pouquinho mais!". Essa foi a deixa para tocar outro tema também recorrente em suas apresentações, "Do It Again", sucesso radiofônico da banda de jazz-rock, Steely Dan (1972), e lançado por ele no disco In Concert/Live At Felt Forum (1973).

Já nos bastidores, conversando sobre o teclado que estava usando, Eumir disse que o grande problema em tocar em um instrumento que não seja o seu é a dificuldade de acertar o toque, o peso dos dedos nas teclas e quase sempre termina os shows com dor nos tendões. Seria uma tendinite, pergunto, e ele, gargalhando, responde em tom de brincadeira: "poderia ser uma artrite mesmo".

Disse também que está à espera da confirmação de um grande show em São Paulo, acompanhado de orquestra, mas não quis adiantar nada mais do que isso. "Talvez com a Orquestra Jazz Sinfônica", perguntei. "Pode ser", respondeu sem se comprometer.

No domingo, 16, Eumir voltou ao palco do Belenzinho para a sua última apresentação em São Paulo. E no dia 22 de outubro se apresentará no Valadares Jazz Festival, em Governador Valadares, Minas Gerais.

Set List

“Whistle Bump”

“Rhapsody in Blue”

“Berimbau”

“Sabiá”

“Whirlwinds”

“Summertime”

“Dindi”

“Wave”

“Carly & Carole”

“Super Strut”

“2001, Also Sprach Zarathustra”

“Do It Again”