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Exclusivo: BaianaSystem e Yzalú colocam “bloco na rua” em videoclipe; saiba mais

A Rolling Stone Brasil teve acesso em primeira mão aos bastidores da filmagem do videoclipe

Gabriel Nunes Publicado em 14/02/2017, às 09h05

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Cena do clipe "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua" - Reprodução
Cena do clipe "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua" - Reprodução

Uma das principais características da produção artística brasileira é a capacidade de assimilar e absorver aspectos de culturas diversas. Esse movimento cíclico de fusão e apropriação – isto é, de “devorar” heranças culturais de diferentes povos e “digeri-las” sob a forma de uma arte tipicamente brasileira – acabou imortalizado pelos primeiros modernistas como antropofagia. Algo que é possível de ser observado em movimentos como a Tropicália, o Cinema Novo, a bossa nova, e, também, na configuração das nossas tão reconhecidas festas carnavalescas.

Embora a origem do carnaval seja difícil de datar, existem registros que remontam a história dessa festa de rua aos mesopotâmios e também ao Entrudo português. Foi por meio de um processo antropofágico e assimilador que nasceu no Brasil uma das festas culturais mais associadas ao nosso país. Pensando nas pluralidades que circundam os muitos carnavais brasileiros – sejam os incipientes blocos de rua de São Paulo (cada vez mais ameaçados por políticas higienistas e conservadoras sobre o espaço público), ou então os cordões de Salvador –, o BaianaSystem uniu-se a rapper paulistana Yzalú em um clipe para celebrar uma festa em eterno movimento, tal como os trios elétricos e seus foliões.

Dirigido por Gabriel Nóbrega, da produtora Vetor Zero, o videoclipe de “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua” – canção originalmente lançada em 1973 por Sérgio Sampaio – crava a parceria até então inédita entre a cantora e o grupo baiano. Registrado em stop-motion com um iPhone 7 Plus, o projeto audiovisual foi gravado inteiramente no Modo Retrato da câmera do celular, o qual permite clicar pessoas e objetos com efeito de profundidade de campo, tal como uma máquina fotográfica profissional. Para conceber o vídeo, a equipe cenográfica recriou em São Paulo, dentro de dois estúdios da Vila Leopoldina, uma típica rua colonial. Com uma fileira de casas geminadas pintadas com cores chapadas, a extensa passagem de ladrilhos quadriculados poderia muito bem ser uma referência à cidade pernambucana de Olinda ou então a alguma ruela do centro histórico carioca. Essa imprecisão em definir a cidade exata na qual o clipe se passa surge para reforçar o aspecto plural e multifacetado do carnaval brasileiro.

“Trabalhamos a faixa como uma troca dos símbolos que formam o nosso carnaval”, diz Beto Barreto, que ao lado de Russo Passapusso e SekoBass integra o BaianaSystem. “O próprio Baiana é uma banda que trabalha muito com essa coisa dos símbolos, seja pela máscara ou então com a guitarra baiana”, declara o guitarrista, fazendo referência à Carranca e ao Cavalo do Cão, elementos utilizados pelo grupo sobre o palco. Dispostas entre os músicos, as figuras funcionam como entidades protetoras do público e da banda. Além disso, outro componente adotado nas apresentações é uma máscara pentagonal, de olhos circulares e nariz triangular, cuja função é espelhar a individualidade de cada integrante.

Para o vocalista Passapusso, tanto o clipe quanto a reinterpretação da faixa de Sampaio – que dá à clássica marchinha uma roupagem eletrônica, o que, de acordo com ele, foi feito como uma forma de “ressignificar ritmos tradicionais, mas tomando o cuidado de não soar como uma venda estereotipada” – chegam para salientar a necessidade de ocupar os espaços públicos. “Ela lida muito com o que tá acontecendo ultimamente dentro das estruturas do carnaval de rua, do reposicionamento das cordas, dos trios elétricos e da apropriação do espaço [público] pelas pessoas”, declara o cantor e compositor soteropolitano. “É uma música que discute de uma forma forte os movimentos políticos que estão acontecendo na rua.”

Além dele, Yzalú também defende o caráter social inerente à letra e ao clipe da canção. Com um disco cheio no currículo, Minha Bossa é Treta (que foi produzido por Marcelo Sanches e que traz na ficha técnica participações de gente como Peri Pane e Gustavo Lima, do Nação Zumbi), a cantora enfatiza a importância de aproximar e unificar os carnavais brasileiros, algo que, segundo ela, se reafirma na colaboração com a banda baiana. “Representamos essa aproximação entre o urbano do carnaval de rua paulista e os blocos de Salvador. E é essa a ideia que a música quer passar: o sentimento de estar na rua e ocupar a rua. A rua é nossa.”

Assista abaixo ao clipe de "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua".