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Com Axl Rose e Slash reunidos e interagindo bem, Guns N' Roses mostra aos jovens fãs de São Paulo como era o Guns dos velhos tempos

Em noite de chuva e com pouco atraso, Axl Rose, Slash e companheiros tocaram todos os grandes hits

Paulo Cavalcanti Publicado em 12/11/2016, às 12h27 - Atualizado em 14/11/2016, às 15h02

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Axl Rose cantando sob a chuva na capital paulista - Katarina Benzova
Axl Rose cantando sob a chuva na capital paulista - Katarina Benzova

Desta vez, não teve como culpar o Guns N’ Roses por atrasar em demasia e estragar a experiência de assistir ao show da banda. A apresentação em São Paulo, no Allianz Park, estava marcada para iniciar às 21h. A banda entrou meia hora depois, o que para o padrão do Guns foi bastante razoável. A chuva foi a grande vilã da noite. Ela começou a cair forte na metade do show e causou um certo desconforto. Mas o que importa é que Axl Rose e Slash estão novamente interagindo, resgatando a química dos tempos áureos do Guns nas décadas de 1980 e 1990. A banda já havia tocado em Porto Alegre no dia 8, no Estádio Beira Rio, para pouco mais de 45 mil pessoas. Em São Paulo, um número similar de fãs de mobilizou para assistir aos ícones do glam metal.

O show começou com “It’s so Easy”, petardo de Appetite for Destruction (1987), canção escrita e cantada por Duff McKagan, membro da formação original e que novamente se juntou a Axl Rose. A banda emendou com a percussiva “Mr. Brownstone”, uma ode à heroína e também presente em Appetite for Destruction. “Chinese Democracy” canção que deu nome ao já lendário álbum que levou 17 anos para ser gravado, recebeu apenas aplausos educados.

Naturalmente, tudo mudou quando os primeiros acordes de “Welcome to The Jungle” soaram no Estádio. Quase 30 anos depois, o hino visceral lançado em Appetite... ainda é capaz de arrepiar. Foi a vez da zona oeste de São Paulo se transformar em uma perigosa selva dominada pelos músicos do Guns.

A sequência seguinte de faixas foi bem interessante, contendo o rock “Double Talkin’ Jive” (de Use Your Illusion I, com Slash esmerilhando no solo flamenco); “Better” (o único hit de Chinese Democracy); a balada “Estranged” (de Use Your Illusion II), que o público cantou junto de forma entusiasmada; a explosiva cover de “Live and Let Die”, canção gravada originalmente por Paul McCartney & Wings e que sempre funciona ao vivo, além do rock “Rocket Queen”, que ganhou um extenso solo de Slash e do stoneano guitarrista Richard Fortus. Aparentemente estas canções não têm nada a ver umas com as outras, mas foram executadas com verve e vontade, mostrando um pouco do ecletismo e diversidade do Guns.

Tudo serviu como aperitivo para “You Could Be Mine”, o frenético rock incluído na trilha de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991). Depois deste grande momento e com a plateia ainda cheia de entusiasmo, a banda se deu ao luxo de tocar a curtinha “Attitude”, cover da banda punk Misfits gravada pelo Guns em The Spaghetti Incident? (1993). O vocal ficou com Duff McKagan. Ainda emendaram com “This I Love”, balada de Chinese Democracy, que foi bem recebida.

A apresentação levantou com “Civil War”, épica canção de use Your Illusion II que fala de um mundo confuso e cada vez mais corporativo – algo que tem muito a ver com os tempos que estamos vivendo. Ainda no tema “canção distópica”, nada mais apropriado do que tocar na sequência “Coma”, a longa e estranha faixa de Use Your Illusion I. Nesta canção com jeito de rock progressivo, Slash teve a oportunidade de mostrar seu incrível virtuosismo.

Enquanto Axl descansava a garganta, Slash tocou “Speak Softly”, tema de O Poderoso Chefão. Quando o músico foi terminando a canção e entraram os acordes iniciais de “Sweet Child O’ Mine”, houve mais comoção entre os fãs. Não dá para negar que as baladas são o forte do Guns no palco e o megahit revelado originalmente em Appetite for Destruction não negou fogo de forma alguma.

Slash e o guitarrista de apoio Richard Fortus se alinharam para tocar, juntos, “Wish You Were Here”, clássico do Pink Floyd. Enquanto isso, um piano acústico era montado no palco. Axl Rose se posicionou no instrumento e depois da banda tocar boa parte de “Layla”, clássico do Derek and the Dominos, emendou com a power ballad sinfônica “November Rain”. O estádio lotado entoou cada palavra do megahit. O momento “cante junto” seguiu com “Knockin' On Heaven's Door”, canção escrita por Bob Dylan e que foi “apropriada” de forma exemplar pelo Guns no começo dos anos 1990.

O show em si terminou com o frenético rock “Nighttrain”, a ode a um vinho vagabundo e que foi também destaque de Appetite for Destruction. Depois de uma pausa, a banda voltou para o bis com a balada “Don’t Cry”, que no começo teve até uma citação a "Babe I'm Gonna Leave”, do Led Zeppelin. O Guns tocou uma versão meio estropiada para “The Seeker”, canção do The Who. E é claro, tudo terminou tradicionalmente com “Paradise City”. Praticamente todos os clássicos foram tocados– bem, não teve a aguardada “Patience”, mas paciência. O baterista Steven Adler e o guitarrista Izzy Stradlin não estavam lá, mas foi mais perto que os mais jovens chegaram de ver o Guns dos bons tempos.

Axl Rose estava bem à vontade. Não falou quase nada, mas não reclamou e não encrencou com nada e ninguém. Uma pena que a voz dele estava equalizada muito baixa. Slash, como sempre, roubou o show e se entrosou bem com Richard Fortus. Duff McKagan foi o coringa da noite, tocando, cantando e agitando o público. Dizzy Reed (teclado), Frank Ferrer (bateria) e a novata Melissa Reese (teclados) deram o suporte adequado aos astros da noite.

Precisamente à meia-noite, depois de duas horas e meia de rock e hits, enquanto os fogos de artifício estouravam e o papel picado flutuava pelo estádio, a banda se despedia sob uma enorme ovação. E no telão ao fundo e nas laterais do palco, uma foto de Leonard Cohen era exibida. Foi um merecido tributo de Axl Rose, Slash e companheiros ao genial cantor e compositor canadense, que morreu esta semana.