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Humberto Gessinger lança biografia sobre o Engenheiros do Hawaii

Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre um Mesmo Tema traz, além da trajetória da banda, letras comentadas pelo cantor; "É um ponto de vista mais pessoal e não sei, sinceramente, se enfatizei as coisas mais importantes", afirma o cantor

Por Patrícia Colombo Publicado em 11/01/2010, às 19h45

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O dia 11 de janeiro é especial no calendário do Engenheiros do Hawaii. A data marca a realização do primeiro show do grupo, que, em 2010, comemora 25 primaveras (a banda decidiu dar um tempo em 2008, mas não descarta o retorno). Para marcar a efeméride, o vocalista Humberto Gessinger lança, em pocket show no hall do Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, o livro Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre um Mesmo Tema, pela editora Belas Letras. Nele, o gaúcho conta um pouco da história de um dos grupos mais populares da safra do rock oitentista nacional - conhecido não só pelos hits que se espalharam pelo país, como também por dividir o público entre os que amam Engenheiros e os que odeiam. Gessinger falou à reportagem do site da Rolling Stone Brasil sobre sua segunda empreitada como escritor.

Dividido em três partes, Pra Ser Sincero: 123 variações sobre um mesmo tema traz, além da trajetória da banda contada a partir da ótica de Gessinger, um ensaio escrito pelo professor Luís Augusto Fischer e 123 composições do grupo, comentadas, em sua maior parte, pelo frontman. A princípio, Gessinger, que já havia escrito pela mesma editora o livro Meu Pequeno Gremista, dedicado ao seu time de futebol do coração, não ficou muito empolgado com a proposta de uma biografia do Engenheiros do Hawaii feita por ele. Contudo, para a sorte dos fãs, após algumas conversas, mudou de ideia. "Quando senti que haveria espaço para uma coisa mais subjetiva, mais uma memória afetiva do que factual, fiquei amarradão em fazer", explica.

Tentar recuperar os dias de vocalista do Engenheiros foi um desafio. "Fica um mar na sua cabeça cheio de peixes e você nunca imagina que um dia terá que pescá-los", filosofa. No caso do músico, o processo de "resgate das lembranças" foi inusitado. Se durante os exercícios físicos um atleta não dispensa sua garrafa de água, Gessinger, além dela, tinha sempre ao lado papel e caneta. "Gosto muito de caminhar e jogar tênis, e eram nessas horas em que as coisas vinham à cabeça. Tinha que parar pra anotar [risos]", relata. Tarefa árdua? Para ele, pior era coletar os pedaços de papel e compreender o que havia escrito em cada um deles. "A vida inteira fui conhecido por ter uma das piores caligrafias do universo [risos]".

Apesar de ser descrito como uma biografia sobre a banda, por ter sido desenvolvido pelo próprio vocalista, Pra Ser Sincero... acaba adquirindo, de certa forma, um caráter autobiográfico. O gaúcho diz não enxergar o livro como um registro neutro, e acredita que ele mostra a história a partir da concepção de quem esteve envolvido em tudo aquilo, desde o surgimento do grupo até seu "término". "É um ponto de vista mais pessoal e não sei, sinceramente, se enfatizei as coisas mais importantes. É a visão de quem esteve dentro do furacão", salienta.

No livro, que se assemelha a um almanaque, o público poderá conferir momentos emblemáticos na história da banda: o primeiro show há exatos 25 anos; o quão despreparado Gessinger se sentia quando o grupo estourou nas paradas nacionais com a música "Toda Forma de Poder", de 1986; as apresentações na antiga União Soviética, em 1989. No aspecto visual, as imagens presentes em Pra Ser Sincero... vão de diversas 3x4 de Humberto a registros dele em seu novo projeto, o Pouca Vocal, que realiza junto a Duca Leindecker.

A segunda parte vem recheada com as composições da banda: 123 delas, no total. A razão para a seleção foi a de voltar a entrar em contato com a produção dos Engenheiros. "Eu queria que não fossem todas as letras para me obrigar a escolher, pois nunca tinha me aproximado do material de uma maneira racional", argumenta. Mas por que tal número? "De 1, 2, 3 mesmo. Foi uma muleta para me forçar a ver as letras. Mas poderia ter sido 345."

Engenheiros e Gessinger

Contemporâneo de Legião Urbana, Titãs, Ultraje a Rigor, entre outros, o Engenheiros do Hawaii esteve entre os principais grupos de rock nascidos nos anos 80 e, em diversos momentos, foi tido como o grande expoente da cena musical gaúcha e síntese do rock do extremo sul. Humberto, no entanto, discorda. "O Engenheiros é uma banda particular, não é uma banda para ser hegemônica", afirma. "Não é boa para resumir nada, entendeu? Nem os anos 80. É um trabalho bem particular, que tem pessoas que gostam e pessoas que não gostam radicalmente."

O famoso "ame ou odeie": esta é outra questão que durante anos cercou a banda, detentora de uma grande quantidade de fãs muito fieis, mas também de um número significativo de pessoas que nada apreciavam sua sonoridade e suas letras. Para Gessinger, esse fato talvez tenha surgido devido ao estilo do grupo. "Talvez o Engenheiros do Hawaii seja uma banda em que quem se aproxima do universo, fique muito cativado, e quem vê de forma superficial, não consiga entender muito bem", acredita. O cantor aponta os hits como possíveis responsáveis, argumentando que, de certa forma, as músicas que fizeram sucesso no país não tenham sido significativas para que a banda fosse compreendida por quem só a via superficialmente. "Todo mundo que tiver um trabalho pessoal, certamente vai causar reações, e quanto mais forte esse trabalho, mais forte elas serão."

Em Pra Ser Sincero..., o músico enfatiza sua aversão à moda no mundo pop. "A onda era escarrar? Sinto muito, aí vai uma canção que eu fiz para minha filha", escreve em um trecho do livro. Sempre no caminho oposto, assume que, estando mais longe, deixou de compreender de maneira um pouco mais completa o que acontecia e como pensavam as pessoas de sua idade. Todavia, o arrependimento passa a quilômetros de distância. "Acho que não é o meu dever saber como pensa a minha geração. É até legal essa coisa de ficar meio alheio. Acredito que cada um tem um relógio interno e às vezes ele não está no compasso do externo", afirma. "Acredito que a minha viagem era mais para dentro mesmo. Se eu não li bem o momento histórico em que eu estava vivendo, talvez tenha sido melhor para a minha música, para deixá-la um pouco mais atemporal."

Retorno?

Em 2010, a dúvida que certamente paira na cabeça dos fãs é: em ano comemorativo, haverá o retorno do grupo para turnê? "Não", afirma. Mas Gessinger ainda alimenta as esperanças de quem anseia pela reunião do Engenheiros do Hawaii. "Não sei por quanto tempo vai durar esse inverno, mas acho mais legal comemorar os 25 anos dos discos." Considerando que o primeiro álbum, Longe Demais das Capitais, foi lançado em 1986, é possível que o vocalista e seus ex-companheiros de banda venham a pisar juntos nos palcos no ano que vem.

Por enquanto, além do lançamento do livro e de alguns pocket shows que serão realizados para a divulgação, o gaúcho segue com o Pouca Vogal, que, segundo ele, vai além de um projeto duo acústico. "Tem um som mais leve que o do Engenheiros e conta com um formato diferente. Essa coisa de tocar vários instrumentos ao mesmo tempo, que não é comum de se ver em quem tem muito tempo de estrada", conta.

Pocket Show, Humberto Gessinger - Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre um Mesmo Tema

11 de janeiro, às 20h

Hall do Teatro do Bourbon Country - anexado à livraria Cultura (Av. Túlio de Rose, nº 80. Porto Alegre)

Entrada franca