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A Menina Sem Qualidades leva para a tela da MTV uma produção com ares de TV a cabo

Com direção do aclamado Felipe Hirsch, série adapta livro de intelectual alemã

Stella Rodrigues Publicado em 20/05/2013, às 23h57 - Atualizado em 23/05/2013, às 11h39

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A Menina Sem Qualidades - divulgação
A Menina Sem Qualidades - divulgação

Você já se perguntou como seria a personagem Daria Morgendorffer, surgida como o contraponto intelectual de Beavis & Butt-head, se ela fosse de carne e osso? A própria MTV, que apresentou a personagem animada há tantos anos, nos dá uma resposta.

Bom, não exatamente. Ana, a protagonista de A Menina Sem Qualidades, que estreia na MTV na próxima segunda, 27, certamente tem muitas características de Daria. Sardônica, extremamente inteligente, pouco sociável, nada estilosa. Mas Ana, vivida pela atriz Bianca Comparato (dez anos mais velha do que sua personagem, mas que consegue passar toda a jovialidade dela), tem traços psicopáticos que a tornam muito mais profunda e complicada do que a adolescente criada por animação.

Pelo menos foi isso que deu para sentir após assistir aos dois primeiros dos 12 episódios da minissérie assinada pelo aclamado diretor de teatro Felipe Hirsch. A obra tem base no livro da alemã Juli Zeh, uma das intelectuais mais reconhecidas daquele país atualmente. Pegando a contramão da tendência de sua matriz, cada vez mais investida em reality shows, a MTV apresenta um produto autoral e com qualidade de TV a cabo. Ana mora com a mãe, uma bêbada doida (não tem outra maneira de defini-la) e vem de um histórico romântico e escolar complicado. Chegando a um colégio novo, conhece Alex, vocalista de uma banda punk que, pelo que tudo indica, será seu primeiro grande amor – porque sim, até em tramas inovadoras, não há como escapar de certos temas, ao falar de adolescência. Assistindo à apenas uma amostra do todo, a série dê a sensação de que as construções de certas relações caíram do céu. Mas talvez elas se aprofundem mais com o passar dos capítulos, que serão exibidos ao longo de três semanas, com episódios inéditos de segunda à quinta, ás 23h (sim, bem tarde, permitindo toda uma liberdade de criação no que diz respeito a sexo e violência).

“É uma série para várias idades, assim como a MTV é para o jovem adulto, não falamos só com adolescentes”, diz o diretor de programação do canal Zico Goes. “O espectro que tem crescido é o 25 + [na MTV]. A gente tem um olho no jovem adulto também, essa série é para várias idades, tem um apelo abrangente. Se encaixa perfeitamente na nossa estratégia de programação.”

Esse perfil do jovem que vemos [de forma] um pouco generalizada, temos que começar a perceber de maneira ímpar, em seus nichos e diferenças”, complementa Hirsch. “Essa série tem a capacidade de gerar paixão – pode ou não, mas tem a o poder. E paixão em jovens é sempre algo que pode mudar algo, mudar o mundo ou pelo menos a perspectiva em relação ao mundo, eles têm muita energia para ter curiosidades e isso gera busca”, diz. “Quando você tenta fechar o jovem em uma caricatura, se afasta dele e não o traz para você.”

Quando questionado sobre a forma como Ana e seu novo amigo usam e manipulam as pessoas, Hirch comenta a respeito da maldade no jovem – não é uma violência clara, como em Laranja Mecânica, mas algo que está nos noticiários diariamente generalizado como bullying e que é retratado aqui de outra forma. “Essa crueldade é um aspecto que não pode ser ignorado na juventude. A gente sempre fala dessa característica na infância, mas ela continua no jovem. Eles passam pela crueldade, mas também passam por momentos extremamente amorosos. E é importante mostrar esses dois lados.

Bianca, toda maquiada e com um rosto adulto distante da personagem, comenta que a maturidade de Ana: “Ela tem essa força dentro dela. É raro encontrar isso em uma adolescente. Sinto que me preparei a vida toda para esse papel, usei tudo que eu tinha e mais um pouco [para dar vida a ela]. Li o livro e muita coisa que a Ana lia para ter uma ideia de onde vinha essa introspecção toda.”

Rodrigo Pandolfo, intérprete de Alex, completa: “A gente tem dez anos a mais que esses personagens e não chega aos pés da densidade e nível intelectual, ou das coisas que eles entraram em contato.”

Uma coisa importante a ser dita sobre Ana é que descrevê-la apenas como inteligente é leviano. Não se trata de qualquer inteligência, a garota já leu, aos 16 anos, todos os autores e filósofos clássicos, escritores russos, tudo que se pode imaginar. Hirsch vê nessa característica uma maneira de ser também professoral com a produção. “De repente, o cara vai ver um livro de [Matsuo] Basho na mão da Ana e ler haikai com qualidade”.

Música

Chama atenção na produção um cuidado com a trilha sonora – nada que já não fosse esperado, considerando qual a casa da minissérie. Felipe comentou: “Eu tinha um vetor principal que era dramatúrgico. Tinha interesse por estudar música eletrônica da década de 60”, disse. “Os personagens repetem ações que de alguma maneira também faz parte de outras gerações, é mais uma geração buscando ganhar seu espaço. O tipo de ação é o mesmo, mas o espaço ganho é diferente. Eu estava dentro da MTV, isso não podia ser ignorado. Eu tenho uma dislexia com cultura popular e erudita, misturo tudo. Anacleto de Medeiros, DeFalla, Suicide, Ultravox, Bernard Parmegiani. Um caldeirão que de alguma maneira sempre se está ao redor dos personagens.”

Assista ao teaser de A Menina Sem Qualidades.