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“A internet é cheia de hater, mas pobre do artista que liga pra hater”, diz Gregório Duvivier

O ator estrela Desculpe o Transtorno ao lado da ex-namorada, Clarice Falcão; veja uma cena do filme em primeira mão

Gabriel Nunes Publicado em 14/09/2016, às 15h15 - Atualizado em 15/09/2016, às 00h02

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Clarice vive a jovem carioca Bárbara - Reprodução
Clarice vive a jovem carioca Bárbara - Reprodução

Gregório Duvivier é Eduardo. E também é Duca. Mas, na verdade, não é nenhum dos dois. Em Desculpe o Transtorno, cuja estreia acontece nesta quinta, 15, o carioca encarna um caricato personagem com transtorno dissociativo de identidade – distúrbio psiquiátrico também conhecido como personalidade múltipla – que se encontra entre duas cidades, duas mulheres e duas personalidades altamente conflitantes.

Nascido no Rio de Janeiro, mas criado em São Paulo, Eduardo é um grande pastiche dos lugares-comuns que caracterizam o jovem millennial paulistano de classe média alta. Metódico, cronicamente insatisfeito, preso a um emprego que detesta, arrastando um relacionamento falido e unilateral com a personagem de Dani Calabresa, Eduardo é praticamente uma bomba de neuroses e ansiedades. “Ele é todo tenso, seja pela gravata, o cabelo engomado, o terno, os trejeitos. Tudo nele parece ser muito apertado”, diz o ator em entrevista à Rolling Stone Brasil.

Traumatizado pelo divórcio dos pais na infância, mudou-se, ainda criança, para a capital paulista para morar com o pai (vivido no longa pelo veterano Marcos Caruso), com quem trabalha em uma empresa de registro de patentes. Com a inesperada morte da mãe, Eduardo revisita o Rio dos seus tempos de menino. Lá conhece e se apaixona por Bárbara (Clarice Falcão). "Conheço muitas Bárbaras, eu inclusive sou uma delas", diz Clarice. "Ela parece muito segura quando vista de fora, mas por dentro é insegura, o tipo de pessoa que acaba esquecendo de si mesma por focar demais nos problemas dos outros."

É também no Rio de Janeiro – depois de uma situação estressante que reaviva a memória do rompimento dos pais – que ele descobre a outra identidade dele, o Duca, um indivíduo despachado e bonachão. "Ele é o completo oposto do Eduardo", declara Duvivier. "O Duca é uma paródia do carioca: malandro e vagabundo. Um ser mais próximo da realidade que eu conheço.”

Com um olhar mais dilatado sobre o filme, é possível, segundo o ator, relacioná-lo ao polarizado momento político pelo qual o país passa. "À sua maneira, o filme fala de política. O país está dividido. Sempre foi, mas agora a divisão é clara", declarou Duvivier em uma coletiva de imprensa realizada na última segunda-feira, 5, para promover o longa de Tomas Portella. “Desculpe o Transtorno é sobre a dualidade que todos nós temos dentro da gente. Todo mundo tem um coxinha e também um petralha dentro de si, ou então um Eduardo e um Duca. São dicotomias muito presentes.”

Assista, em primeira mão, a uma cena do filme.

Além do “transtorno”

Tachado pela direita como “esquerda caviar” ou então por vertentes do feminismo de esquerda como um arquétipo de “esquerdo-macho”, Duvivier estende alguns dos traços da ambivalência do personagem fictício para a vida real.

Depois de usar o bordão “primeiramente, fora Temer” em uma entrevista com uma jornalista filiada da TV Globo em Natal (RN), diversos veículos difundiram o rumor de que o carioca teria sido vetado da emissora. “Não imaginava que fosse ter toda essa repercussão. Hoje em dia é perfeitamente normal dizer isso. As pessoas começam palestras, aulas e até mesmo entrevistas no Jô Soares dessa forma”, diz Duvivier. “Não sei porquê espalharam o boato de que eu teria sido vetado. A Globo não trabalha com veto. Até porque, eu não acredito que ela seja uma emissora maquiavélica ou pró-Temer como todo mundo acha. Lá dentro não tem só o William Waack, lá dentro tem o Jorge Furtado e o Caco Barcellos também. Pessoas que são oposição.”

“Eu acho que isso é uma invenção”, continua o ator. “Coisa de R7, de portal de notícia e da concorrência que quer criar uma polêmica. Temos de parar de demonizar a Globo e entender que ela é uma emissora que tem uma porrada de correntes lá dentro.”

Outra controvérsia do ator remonta à edição 148 da revista Tpm, que procurava promover um debate sobre a descriminalização do aborto através da hashtag #PrecisamosFalarSobreAborto. Ao lado das atrizes Alessandra Negrini e Leandra Leal, Gregório Duvivier foi uma das capas da publicação de novembro. Na época, diversos blogs e sites, como é o caso do Lugar de Mulher, questionaram se a presença do carioca em um assunto tão restrito à sensibilidade feminina não seria uma forma de roubo de protagonismo na luta feminista. No entanto, o ator enxerga a situação sob outro prisma.

“Eu continuo concordando que todo mundo é necessário na luta”, diz. “Nosso inimigo, o inimigo do feminismo, não é o sujeito de esquerda que tá se expondo e dando a cara a tapa. O inimigo é o Eduardo Cunha. Acho muita bobagem bater em quem tá se expondo tanto quanto qualquer um. Quanto mais gente na luta, melhor. Algo que o movimento gay nos ensinou bastante.”

Quando questionado sobre como lida com as críticas diárias nas redes sociais (isto antes de homenagear a ex-namorada, Clarice Falcão, em uma coluna da Folha de S. Paulo, e virar o assunto da semana), Duvivier é categórico: “A internet é cheia de hater", diz, "mas pobre do artista que liga pra hater. Imagina se um jogador ficasse prestando atenção em quem tá do lado de fora? Você tem que focar no jogo, na bola. Eu tento não me abalar, porque são pessoas que não tem cara, nem nome, são críticas vazias e que partem do ódio. Mas eu acho que todo mundo tem salvação. Ninguém é mau, as pessoas são apenas burras."

Para ele, a linha tênue que separa o “ódio futebolístico” disseminado nas redes sociais das críticas com embasamento surge quando esta última parte de minorias sociais, como aconteceu com o vídeo “Travesti”, do Porta dos fundos. O esquete – que rendeu um pedido de desculpas de Duvivier pelo Facebook – recebeu críticas do movimento LGBT por ser depreciativo às pessoas transexuais.

“Às vezes a gente acaba, sem perceber, rindo de minorias e grupos politicamente oprimidos”, declara o ator. “O humor brasileiro está muito acostumado a rir dessas pessoas, então é um ato tão entranhado no comediante que ele acaba acontecendo. Mas com essas críticas a gente aprende a não ser surdo à dor do outro.”