Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

O Vingador do Futuro desaparece com a profundidade da ficção científica e fica só na ação

Remake cai na categoria de filmes endinheirados que são visualmente vertiginosos, mas se perde no conteúdo

Stella Rodrigues Publicado em 17/08/2012, às 12h26 - Atualizado em 19/08/2012, às 12h39

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O Vingador do Futuro - Reprodução/vídeo
O Vingador do Futuro - Reprodução/vídeo

O original O Vingador do Futuro arrebanhou fãs do kitch e, ao longo dos anos se tornou um cult. Aquele visual bizarro do planeta Marte, a mulher com três seios e alguns outros detalhes do filme se tornaram clássicos da ficção científica, assim como a atuação inconfundível de Arnold Schwarzenegger e a embalagem pop dada à trama futurista. É muito cruel abrir uma análise de um filme comparando-o ao original, afinal, cada um tem um seu valor independente e faz adaptações bem diferentes do conto We Can Remember It for You Wholesale, do imaginativo Philip K. Dick, cujas obras literárias já renderam ótimas produções hollywoodianas. Porém, todo o colorido diferente do filme estrelado por Schwarzenegger desapareceu na nova versão, que apesar de ter uma boa premissa, acabou virando mais um filme de ação muito bem produzido mas com roteiro que, apesar de menos farofa, cai no genérico.

Isso quer dizer que havia muito investimento, de forma que as (muitas, muitas) explosões e os efeitos especiais, tiros, perseguições, saltos vertiginosos e gadgets futuristas são constantes e de primeira. Mas também significa que isso tudo encobriu a trama e as reviravoltas de confusão de identidade que fazem parte dela. A história se passa em um futuro em que há apenas dois territórios com ar respirável na Terra (sim, Marte e seus mutantes foram eliminados na nova adaptação). O dominante é uma espécie de novo Reino Unido e o outro é a Colônia, que, como o nome indica, é devidamente explorada, assim como aconteceu ao longo de toda a história no mundo. Um simples operário (Colin Farrell), quase alheio a todo o movimento revolucionário que acontece em meio aos trabalhadores oprimidos, vive sua sufocante vidinha mais ou menos ao lado da esposa Lori, a bela Kate Beckinsale (mulher do diretor Len Wiseman). Ele sonha com uma vida menos enfadonha, mas nunca fez nada de concreto a respeito. Até que um dia vai para uma empresa ter memórias implantadas e acaba descobrindo que, na verdade, ele já estava vivendo a mentira: a verdade era que ele era um alto agente dessa revolução. A partir daí, nada mais tem sentido ou é cem por cento verdade. Aquela existência massacrante, tediosa e sem perspectiva não é dele. Ele não é Quaid, é o temido Hauser. E a esposa dele é uma agente do governo que vai fazer de tudo para matá-lo.

A cafonice do original deixou de ser inerente ao visual do filme e foi transferida para a porção romance do longa – aquela que se faz necessária no que a indústria considera algo “filme de homem” para não alienar o público feminino. O clichê do “estamos em plena cena de ação, correndo dos bandidos, mas antes de correr, vamos dar um beijo apaixonado” aparece mais de uma vez. Na outra vida, como Hauser, ele tinha outra namorada, Melina (Jessica Biel que, assim como Kate, bate em todo mundo em coreografias de luta dignas de games). Esta chega ao cúmulo de no meio de um tiroteio ter crise de ciúme da “esposa” que dividia a cama com seu amado na vida fake dele - cena que exemplifica melhor a questão da babaquice nas relações românticas, que são de revirar os olhos até dar dor de cabeça.

É triste mesmo comparar, mas os deméritos em relação à obra noventista de Paul Verhoeven ficam evidentes demais. Não dá nem para sonhar com qualquer parte das entrelinhas psicológicas que uma história originalmente profunda continha. E o excesso de elementos que buscam desesperadamente um blockbuster de ação na versão apresentada por Wiseman tiram toda a graça das esparsas tentativas de humor do roteiro.