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Jovem, bonito e em alta, Chris Evans não consegue se livrar da ansiedade

Josh Eells Publicado em 17/07/2016, às 13h15 - Atualizado às 13h47

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Chris Evans - Peggy Shirota
Chris Evans - Peggy Shirota

Há helicópteros sobrevoando o Hollywood Boulevard. A polícia de Los Angeles fechou a rua nos dois sentidos. Milhares de civis estão amontoados na calçada. Se isso fosse um filme baseado em uma HQ , agora o céu abriria e a nave mãe alienígena aparecer ia, atirando com suas armas espaciais, mas como é só a estreia de um desses filmes – Capitão América: Guerra Civil, da Marvel, lançado em maio – todo o burburinho é apenas o prenúncio da chegada do homem do momento, do líder dos Vingadores, do Capitão em pessoa: Chris Evans, que surge dando um sorriso de herói quando sai de um carro esportivo azul e pisa no tapete vermelho.

Crítica: Capitão América: Guerra Civil mostra heróis em confronto

O carro não foi ideia dele. A Audi é uma grande patrocina dora de Capitão América: Guerra Civil e o merchandising aparentemente se estende à estreia – pediram a ele e seu coastro/antagonista no filme, Robert Downey Jr., que chega sem em modelos R8 combinando (vermelho para o Homem de Ferro de Downey, azul para o Capitã o de Evans). Até aquele momento, ele estava tendo uma noite sem estresse, fazendo um esquenta em casa , em Hollywood Hills, com a mãe, o irmão e alguns amigos de Boston, sua cidade natal. Estava apenas relaxando antes da grande noite, mas quando chegou ao cinema e teve de fazer a troca de carros veio a ansiedade.

“É um pouco enervante”, Evans afirma dois dias depois. “Você está na SUV com a família, seu pessoal, e daí tem de parar em um estacionamento esquisito e trocar de carro. Há a segurança e toda aquela gente. De repente, está fora de sua zona de conforto. É estranho. Coisas pequenas podem te irritar.”

“É engraçado”, diz Scarlett Johansson, intérprete da personagem Viúva Negra nos filmes do Capitão América e dos Vingadores e que conhece Evans desde os 17 anos. “Ele é extremamente tranquilo, ama sair, ama estar com as pessoas, mas fica apavorado sempre que fazemos uma estreia ou ele precisa ficar sob os holofotes em algum contexto relativo ao trabalho.” Downey conta algo parecido no programa de TV do apresentador Jimmy Kimmel: “Chris é tão nervoso. Tínhamos de chegar nos Audis, e ele ficou: ‘Poxa, não sei – você chega primeiro ou eu chego primeiro?’ Falei: ‘Coragem, cara!’”

A esta altura as coisas já deveriam estar fáceis para Chris Evans, de 35 anos. É um dos maiores nomes do Marvel Cinematic Universe, a imensa empreitada de US$ 8 bilhões da Disney que inclui três filmes do Capitão América, as franquias do Homem de Ferro, Thor, Hulk e as reuniões dos Vingadores, dois dos filmes de maior bilheteria de todos os tempos. Evans não deveria, então, estar à vontade com câmeras e fãs? Só que, ouvindo-o contar, temos o retrato de um dos astros de cinema que menos estão à vontade. A parte da atuação é tranquila – é todo o resto que ele não suporta.

“Um tapete vermelho dura o quê? Uns 30 minutos, no máximo? Para mim, são 30 minutos andando sobre carvão em brasa”, ele conta, sentado em casa usando calça jeans, boné do time de hóquei Toronto Maple Leafs e uma camisa de cambraia com um rasgo no braço. “Não é como sessões de entrevistas – nelas você fica sentado em uma sala e os jornalistas entram. Posso fazer isso o dia inteiro e não ter problema algum, mas a estreia é sufocante. É a imensidão da coisa: você está no centro daquilo. Pode lutar contra um exército inteiro se os soldados fizerem fila, mas, se te cercam, você está ferrado.”

A mãe dele, Lisa, está sentada em outro cômodo (ficou na cidade depois da estreia) e o cachorro que vive na residência, Dodger, um golden retriever agitado de 1 ano, está no colo do ator. A casa fica perto de um penhasco belíssimo com uma vista panorâmica para San Fernando Valley, incluindo a sede dos estúdios Marvel – o conglomerado que é tanto a origem da maioria das coisas incríveis na vida de Evans quanto a causa de boa parte de sua agonia.

Quando a Marvel ofereceu a ele o papel de Capitão América, Evans recusou várias vezes. Parte do motivo era o contrato, que inicialmente propunha nove filmes (“É loucura. Se você roda um filme grande como Independence Day, eles te prendem por três filmes, mas nove é algo insano. Baixamos para seis”). Mas ele também tinha medo de todos os outros compromissos – turnês promocionais, produtos, aparições, coisas secundárias. “É o máximo de coisas externas que você pode incorporar em um filme. Amo atuar, mas isso não é tudo o que estavam me pedindo para fazer.”

Ele também tinha medo de perder o anonimato: “Caso você não tenha percebido, Chris é superdiscreto”, comenta a mãe. As entrevistas eram outro lado ruim para ele. “Venho temendo a imprensa desde janeiro”, o astro afirma. “É bom falar sobre trabalho com gente que está interessada, mas perco a cabeça quando ouço perguntas estúpidas sobre coisas estúpidas e preciso agir como se desse a mínima. Faz parte do trabalho, tenho de vender esta coisa, mas é uma sensação péssima. Isso me deixa inseguro.” Você realmente não espera isso de alguém como ele. Parece um cara afável, um protagonista atencioso e fortão que idolatra Tom Brady, mas a verdade é que, por trás dos bíceps musculosos e do traje estrelado, ele é tão esquisito, sensível e neurótico quanto qualquer um de nós.

Um outro problema é que ele sofre do que chama de “cérebro barulhento”, que o faz duvidar de tudo e transforma conversas casuais em rodamoinhos de dúvida sobre si mesmo. “É uma espiral muito boa”, zomba de si mesmo. Tentou acalmar a mente com meditação, budismo – uma vez, passou três semanas estudando com um guru em Rishikesh, na Índia, e diz que Siddhartha mudou sua vida – e lendo livros do espiritualista Eckhart Tolle. “Melhorei”, Evans afirma, só que às vezes ele ainda analisa excessivamente as coisas, lutando para simplesmente estar presente no momento.

“Chamávamos o Chris de ‘pensador’”, Lisa conta. “Quando fazíamos longas viagens de carro, eu dizia: ‘Leve seu Gameboy’, e ele falava: ‘Não, mãe, só vou ficar olhando pela janela e pensando’.”

Por isso, pode ser difícil para Evans viver em Hollywood. “Não gosto de ter discussões superficiais bobas. Muitas vezes, é preciso fazer isso nesta indústria. É aí que vem a ansiedade social. Quando você se sente meio desinteressado, como se estivesse jogando um jogo que sabe que não deveria estar jogando. Você está só fazendo mais barulho e mais lixo e quase tendo que vender algo e nada disso é limpo. É tudo um rio de lixo e você está dentro dele.”

No entanto, quando está atuando, “aquela parte do cérebro simplesmente fica quieta. O barulho vai embora. Você usa a experiência e está simplesmente surfando a onda de viver”.

Então, no clássico “estilo Evans”, ele repete esta última parte dentro da própria cabeça. “É uma coisa incrivelmente babaca de dizer”, constata. “Por favor, não publique isso. Credo! ‘Simplesmente surfando a onda de viver’?” Ele dá risada. “Não! Porra!”

Na infância, em Subdbury, uma “cidade suburbana clichê” a uns 30 minutos de Boston, Chris Evans nunca se vestia como um personagem de quadrinhos. Amava desenhar e animações, especialmente da Disney (A Bela e a Fera o fez querer ser artista e ele ainda consegue cantar tudo de A Pequena Sereia), mas, surpreendentemente, não se interessava por HQs (“Nenhuma”, afirma a mãe).

Aos 10 anos, Evans começou a fazer teatro, atuando em peças como Meu Mundo Encantado e A Fantástica Fábrica de Chocolate. No ensino médio, com 1,83 m, praticou lacrosse e luta, mas, na verdade, era um apaixonado por teatro no corpo de um atleta. Estrelou produções como Adeus, Amor e, no último ano do colegial, foi eleito “o mais teatral” (“Ele queria ser ‘o mais bem vestido’”, revela Lisa). Depois de um estágio de verão em uma agência de atores em Nova York, arranjou um empresário e logo conseguiu um piloto. Mudou-se para Los Angeles, onde encontrou trabalho como o bonitão protagonista em filmes adolescentes, como Não é Mais um Besteirol Americano e Nota Perfeita.

“Ele estava tentando descobrir onde se encaixava”, lembra Scarlett, que trabalhou com Evans em Nota Perfeita e, novamente, alguns anos depois, em Diário de uma Babá, no qual ele fez um personagem conhecido como “Gostoso de Harvard”. “Chris foi meio que estereotipado como esse bonitão puramente norte-americano e isso não parecia satisfazer seus anseios criativos. Na época, estava até considerando só dirigir, porque acho que ele sentia que tinha mais a oferecer. É ridículo dizer que é amaldiçoado por essa beleza arrasadora... mas, com o Chris, é quase como que os estúdios precisam amadurecer, mais do que o contrário.”

Agora que fez cinco filmes como o Capitão, Evans gostaria de fazer o papel de alguém com um lado mais sombrio, como no excelente Expresso do Amanhã, de 2013. “Desde 2010 não passo mais de um ano sem vestir aquela maldita coisa”, diz sobre o traje do super-herói. Ainda gosta da experiência, mas fica empolgado em pensar no que vem pela frente: “Adoraria encontrar um trabalho em que pudesse fazer algo como um advogado de defesa exibido. Alguém com o dom da oratória”. Ele também quer tentar dirigir novamente, depois de aprender muito em seu primeiro filme, Before We Go, de 2014 – uma história de amor ao estilo Richard Linklater que rodou com um orçamento de US$ 3 milhões, aproximadamente o valor que é pago a Downey para ir até o set. Evans até pensa em ir para Nova York e fazer teatro novamente um dia. “Não há zilhões de entrevistas para uma peça”, ele atesta, com inveja. “Você faz seu trabalho e vai para casa.”

Estamos conversando há um tempo quando o telefone dele toca. “É o D”, Lisa diz do outro cômodo. “Um dos meus amigos de Boston”,explica Evans. “Com minha mãe na cidade, alguns dos caras com quem cresci e moram aqui estão vindo pra dar um ‘oi’ a ela.

”Pouco depois, Demery, velho amigo dele, chega trazendo o filho de 11 meses, Noah. “E aí, cara?”, pergunta Evans.

“E aí, irmão?”, responde Demery, dando um high-five. “Você está bem?”

Demery vai ao quintal com Noah e a mãe de Evans para conversar. “É loucura. O D tem um filho, cara. É o mundo para ele. Quero muito um. Minha irmã tem filhos – de 7, 5 e 3 anos – e ir para casa e ficar com eles é ótimo. Estou tentando ter filhos logo. Mas antes algumas coisas precisam se encaixar.”

O que, por exemplo? Evans ri. “Preciso encontrar uma esposa.” Ele já namorou atrizes como Minka Kelly, Lily Collins e Jessica Biel, mas, no momento, diz estar solteiro.

Evans chama Guerra Civil de “último filme do Capitão América”. Em novembro, vai para Atlanta rodar o terceiro e o quarto filme dos Vingadores. “Tipo dez meses. Meu corpo não vai aguentar.” Downey diz que os filmes da Marvel são como a presidência, no sentido de que te envelhecem prematuramente: “Espero que ele esteja aproveitando este momento, enquanto ainda é alto e bonito e tem olhos azuis”, brinca.

Vingadores 4 é o último filme da Marvel com o qual Evans está comprometido. Seu contrato original previa apenas três, mas, como Downey – cujo contrato terminou depois de Homem de Ferro 3 e que tem negociado adendos polpudos desde então –, estendeu para mais um. E, acredite, ele também foi muito bem pago para isso. “Ah, sim”, diz, rindo. “Não colaram o adesivo na cartela do Chris Evans, tipo: ‘O sétimo sai de graça!’ Não mesmo.”

Evans tem de sair de casa às 17h para pegar um voo particular até Phoenix, onde ele e o ator Sebastian Stan, que interpreta o Soldado Invernal, vão surpreender o público em uma pré-estreia de Guerra Civil. Alguns minutos depois, Josh, seu amigo e assistente, chega trazendo um suco verde (Evans: “É pra mim? Legal!”) e o lembra de que são 16h40.

“São 16h40?”, ele pergunta, pulando do sofá. “Droga! Preciso ir!” De repente, o pânico começa. “Preciso tomar banho. Não podem ir sem mim, certo?”

Então, respira fundo. “Espera, espera.” O carro pode estar aqui às 17h, mas ele só tem de estar lá às 18h. E vão decolar de Burbank, que fica a apenas 25 minutos. Tem muito tempo. “Tudo bem”, diz, expirando. “Está tudo bem.”