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Lana Del Rey aparenta querer livrar-se dos rótulos em show no México

Dez mil pessoas e muitas coroas de flores testemunharam a apresentação da turnê Ultraviolence

Fernanda Brambilla Publicado em 07/10/2014, às 19h10 - Atualizado em 08/10/2014, às 11h43

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Lana Del Rey faz show da turnê <i>Ultraviolence</i> na Cidade do México - José Jorge Carreón
Lana Del Rey faz show da turnê <i>Ultraviolence</i> na Cidade do México - José Jorge Carreón

As coroas de flores resistiam, dominantes, entre o público de 10 mil pessoas que foi ver Lana Del Rey na noite de segunda, 6, na Cidade do México. Coloridas e lúdicas, elas faziam a cabeça dos fãs, meninos e meninas adolescentes em sua maioria, da cantora norte-americana. Mas na turnê do terceiro disco de estúdio dela, Ultraviolence, Lana Del Rey quer é mostrar que não é mais a mesma.

Como Lana Del Rey, artista transforma músicas famosas em pôsteres de filmes.

A imagem de diva lânguida e deprimida parecia se descolar da artista que surgiu no palco do Auditório Nacional meio sem jeito, alternando olhares ao público e ao chão, como se ainda ficasse surpresa com a quantidade de gente ali para vê-la. Ainda, sim, porque o fenômeno Lana Del Rey explodiu em 2011, com o vídeo do primeiro hit, a baladinha "Video Games", na internet. O que veio em seguida virou registro histórico: Born To Die, em 2012, foi aclamado pela crítica, vendeu mais de 2,5 milhões de cópias ao redor do mundo e foi adotado pelas tribos alternativas. A imagem midiática da cantora se solidificou com entrevistas em que ela dizia querer estar morta e evocava ídolos como Kurt Cobain, além dos astros Marylin Monroe, James Dean e Elvis Presley. Ela parecia querer juntar-se aos famosos jovens com destinos trágicos. Com a turnê "Paradise", Lana foi ao Brasil em 2013 para tocar no festival Planeta Terra. Na época, cativou o público com sensualidade, hits e melancolia.

Um ano depois, veio Ultraviolence, o terceiro disco dela, lançado em junho e que segue lentamente o mesmo caminho de sucesso: produzido por Dan Auerbach, do grupo The Black Keys, foi em grande parte gravado ao vivo. De um álbum ao outro, as músicas dela seguiram a linha intensa e irresistível dos amores doídos, do flerte com suicídio e dos males da fama. Visualmente, no entanto, o que se viu foi uma imagem desconexa. Lana Del Rey se esforça para arejar a imagem de diva lânguida, tão imitada pelos seguidores da cantora.

Edição 95 – As constantes mudanças de humor e a inexplicável tristeza de Lana Del Rey.

Blusinha branca justinha, short jeans curtinho (mas sem mostrar o bumbum), sandália de salto preta e brincões de argola. A artista no palco parece querer mostrar-se mais saudável, sem sinal da misteriosa doença que a fez cancelar a turnê que faria pela Europa. Lana gosta de exibir as pernas e os longos cabelos castanhos adornados com uma única flor, também branca, no que parece ser uma sobra pobre e sem valor do figurino inevitável do passado.

Mas Lana não sabe ainda, ou não quer, exorcizar todos os demônios de uma vez. Prova disso é a timidez como se dirige ao centro do palco e parece pedir licença para abrir a noite com "Cruel World", primeira faixa do novo disco. “You’re So Famous Now”, diz a canção, que parece um lembrete constante para ela mesma e dita o ritmo arrastado que vai embalar os 70 minutos de show.

A presença tímida de palco obriga o público a se contentar com acenos de miss, o único cumprimento da cantora. Entre “Cola” e “Body Electric”, as duas do primeiro álbum, que vêm na sequência, Lana faz um esforço visível e se agacha para aproximar-se de algumas dezenas de fãs, com presentes e fotos para ela autografar. Ela os atende, assina, sai nas fotos, mas logo desiste e se distancia, sorri sem graça, como quem não sabe bem lidar com algo tão comum aos astros do pop.

Crítica: Lana Del Rey – Ultraviolence.

Logo ela, tão badalada entre os moderninhos e tão em alta entre as celebridades. Afinal, Lana cantou no casamento de Kanye West e Kim Kardashian, no Palácio de Versalhes, na França. A música da ocasião, "Young and Beautiful", aliás, havia sido escrita para o cineasta Baz Luhrmann e a releitura dele para O Grande Gatsby. A segunda aventura dela no cinema veio há pouco, em Malévola. A cantora foi uma escolha pessoal da atriz Angelina Jolie, estrela no filme da Disney, que a chamou para interpretar “Once Upon A Time”, conhecida como o tema da Bela Adormecida.

Mas, nessa noite, precisariam vir “Blue Jeans” e “West Coast”, fortemente acompanhadas em coro pelo público, para Lana soltar um “oh isso é ótimo”. A última, uma balada arrastadinha, foi acompanhada de imagens em preto e branco no telão. O tempo todo, a cantora parece concentrada em acertar tons, em não errar e em mostrar mais uma vez que amadureceu a voz, ainda que isso a torne um tanto blasé. É só com “Born To Die”, que deu nome ao primeiro álbum (lançado com o nome real, Lizzy Grant, e depois com o nome artístico), ela parece, enfim, se soltar.

Charmosa e dedicada, ela arrisca agudos, brinca com o vocal e ri do coro histério de “Lana, Lana”. Diz que está muito orgulhosa da próxima canção e “Ultraviolence” termina com versos recitados pelo público como poesia. E assim veio “Old Money”, um deleite para fãs hipnotizados. Em um momento raro de interação, Lana pergunta: “Vocês ao menos conhecem essa?”. No telão, imagens de pole dance acompanham a resposta, que vem com gritos para a canção "Carmen" - um conto sussurrante sobre uma garota que sofre alucinações e faz referências ao lado ruim da fama. Não houve espaço para críticas abertas, como “Fucked My Way to The Top”, faixa do álbum novo e que, segundo a própria Lana, fala de como ela usou a sexualidade para conseguir sucesso na indústria musical.

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Mas todo esse repertório carregado de melancolia é interpretado com certa distância pela cantora, reticente, que parece já não sentir toda essa dor. A parte final do show chega, enfim, como uma golfada de ar fresco e com mais vigor musical - ainda que seja sob “Summertime Sadness”, que ganhou de vez o “Su-Su-Su- Summer”da versão remixada, que ficou ainda mais famosa, e “Million Dollar Man”, caprichada com uma pegada blueseira. Com uma hora de palco, é momento de, finalmente, um breve saudosismo, com "Video Games", a mais entoada no Auditório. Lana, ironicamente, erra os tempos, troca as letras, reforça a ideia de que o hit, que quando lançado no YouTube em 2011 teve mais de 25 milhões de visualizações, já não a representa tanto assim.

Com as luzes acesas, Lana fez o esperado desfecho com "National Anthem", que veio com sabor de festa contida. Igualmente tímida foi a saída da artista do palco, sem ter bis ou emoção. “É indescritível a energia que está no ar aqui”, disse - mas ela mesma parecia um tanto apática com a comoção do público. Uma fã tentou, em vão, lembra-la do poderio depressivo dela, entregando uma coroa de flores cor de rosa para Lana. Mas a cantora a recebeu sem gosto e logo a deixou no chão. Uma metáfora para uma artista em transição, de alegria para dela e, talvez, de tristeza para os fãs.

Por enquanto, no entanto, as mudanças parecem vir sutilmente. Lana anunciou dois shows nos dias 17 e 18 de outubro no cemitério Hollywood Forever, em Los Angeles, EUA. Lana quer se apresentar no local onde Johnny e Dee Dee Ramone estão enterrados. Um alívio aos seguidores da diva.