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Lobão lança financiamento coletivo para bancar o álbum O Rigor e a Misericórdia

“[Tenho] muito mais poderio de vendagens nos livros do que em discos”, diz o cantor

Lucas Brêda Publicado em 28/06/2015, às 14h03 - Atualizado em 30/06/2015, às 15h12

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Lobão no Porão do Rock 2013 - Cara Preta Comunicação/Divulgação
Lobão no Porão do Rock 2013 - Cara Preta Comunicação/Divulgação

Muito mais próximos das pautas políticas e literárias do que das musicais nos últimos anos, o cantor Lobão decidiu lançar seu próximo álbum de inéditas, nomeado O Rigor e a Misericórdia, por meio de financiamento coletivo. Ele deu início à campanha este mês e já arrecadou quase de R$ 25 mil dos R$ 80 mil pedidos para produzir o disco.

Edição 80 (capa de maio de 2013) – Lobão contra o mundo: “Do fundo do coração, eu seria incapaz de matar uma mosca.”

A campanha no Kickante (acesse neste link) fica no ar até o próximo dia 25 de julho e oferece “recompensas” que variam entre o pacote mais simples, com download das 10 faixas do álbum (R$ 20) e o “Patrocinador a Misericórdia”, com logo da marca na contracapa do disco, citações em todos os shows e entrevistas, vídeo de agradecimento postado nas redes sociais e 180 CDs autografados (R$ 20 mil).

Há ainda opção de “ajudar” Lobão em troca de palhetas, selfies, audições exclusivas em ensaios, jam session com o cantor, hangout de uma hora com ele, ingressos, CDs, bate-papo, encontros no camarim, entre outros. “Tudo que foi selecionado nos planos foi acatado ou concebido por mim”, diz ele. “Tirar selfies, a gente tira até dentro do avião.”

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Lobão, “veterano da indústria fonográfica” – como se autoproclama –, já entrou em diversos embates relacionados à música independente e à utilização de leis de incentivo para a cultura e, até por isso, comemora a produção “100% independente”. “Qualquer comparação com a empreitada independente torna a minha decisão uma deliciosa aventura”, comenta ele. “Hoje, sou um escritor best seller, com muito mais poderio de vendagens nos livros que em disco.”

Leia a íntegra da entrevista da Rolling Stone Brasil com Lobão abaixo.

Você disse que este deve ser o projeto “mais audacioso da minha carreira”. Com “audacioso” você se refere ao modo com que está sendo viabilizado e produzido (o financiamento coletivo) ou ao conteúdo (as canções em si) do projeto?

Parece-me que sob todos os aspectos. Eu estou gravando tudo sozinho em meu estúdio, tocando todos os instrumentos, mixando e masterizando. Só isso já é uma loucura. O financiamento coletivo é mais uma nova tentativa de descolamento de setores que considero pouco afeitos ao meu jeito de fazer e conceber música.

Há claramente uma comemoração por conseguir trabalhar com “100% de independência” neste projeto. Entretanto, dependendo do que for adquirido, você vai ter que se submeter a situações como citar um patrocinador em toda entrevista de divulgação do álbum ou até tirar selfies com alguém que pague (em uma forma de comercialização da própria imagem) por isso. Seria esta a “parte ruim” do financiamento coletivo?

Tudo que foi selecionado nos planos foi acatado ou concebido por mim. Os produtos, se assim houverem, também serão submetidos ao meu escrutínio. Tirar selfies, a gente tira até dentro do avião, não há nenhum tipo de transtorno em nenhuma das etapas. Lembre-se que sou um veterano da indústria fonográfica e qualquer comparação com a empreitada independente torna a minha decisão uma deliciosa aventura.

Você acha que o fato de terem fãs participando da produção (viabilizando-a) faz com que aumente a responsabilidade do artista em relação a entregar uma obra que “agrade” a quem pagou por ela?

Não. Eu sou Lobão. E quem gosta de mim já aprendeu esse pequeno detalhe. Eu não vou lutar desatinadamente por minha independência e cair numa esparrela dessas.

Na apresentação do projeto, logo na primeira linha, você cita a situação política do Brasil. Você considera que este é o álbum mais atrelado à sua posição em relação à política atual – declarada em entrevistas e livros?

Eu sempre tive engajamento político em todos os meus álbuns. Isso faz parte da minha natureza. Nós temos sim uma ingerência muito maior de ações governamentais que influenciaram muito a minha decisão de financiamento coletivo, como a Lei Rouanet, a estatização dos direitos autorais etc. E isso muito me incomoda.

Um dos seus singles recentes, “A Marcha dos Infames”, foi lançado e resenhado no blog do Reinaldo Azevedo, jornalista de política. Você teme que seus novos trabalhos acabem adquirindo um caráter maior de artifício político em detrimento ao valor artístico? Em outras palavras, te preocupa que o público que não compartilha das suas opiniões políticas não se interesse em ouvir suas novas músicas?

Eu não sou homem de temer nada daquilo que empreendo. Minha história está polvilhada desse tipo de situação. Se fosse assim eu estaria fadado a ser um presidiário eterno na época do Vida Bandida. Fora isso, tanto eu quanto o Reinaldo mais outra dezena de pessoas entraram na lista negra do PT e a “Marcha dos Infames” foi feita como réplica e com intuito de apoiar meus companheiros “VIPs” de lista.

Temos que adicionar a isso outro fato: que minha trajetória é única na música popular brasileira pela minha improvável versatilidade. Na verdade, hoje, sou um escritor best seller, com muito mais poderio de vendagens nos livros que em disco e, sendo assim, vou lançar um livro pela Record sobre toda a feitura do disco e se chamará Em Busca do Rigor e da Misericórdia. Se podemos fazer complicado, por que fazer simples, né?

Até quando fechei essa pergunta, 289 pessoas já haviam contribuído com o Kickante (somando 27% do valor total), e ainda falta mais de um mês para o encerramento da campanha. Se o valor total não for atingido, o disco vai sair do mesmo jeito?

Vamos ver. É tudo uma grande novidade pra mim. Eu estou meio distante dos eventos e só a partir dessa semana vou me concentrar mais no projeto. Tenho trabalhado 14 horas por dia escrevendo o livro (só falta um capítulo) e gravando as músicas. Dá muito trabalho fazer tudo sozinho. Mas a felicidade que dá é muito grande. Preparei-me por 10 anos pra peitar essa.

Nos próximos meses de julho e agosto, Lobão rodará o Brasil com a turnê Sem Filtro, na qual ele se apresenta apenas à voz e violão. A excursão começa no Rio de Janeiro, no dia 8, vai a São Paulo, três dias depois, e chega ao fim em Porto Alegre, em 6 de agosto, depois de passar por Recife, Natal, Fortaleza e Novo Hamburgo.

Turnê Sem Filtro de Lobão

Rio de Janeiro

8 de julho (quarta-feira)

Teatro Bradesco Rio

São Paulo

11 de julho (sábado)

Teatro Bradesco

Recife

22 de julho 2015 (quarta-feira)

Teatro RioMar Recife

Natal

23 de julho 2105 (quinta-feira)

Teatro Riachuelo

Fortaleza

24 de julho 2015 (sexta-feira)

Teatro RioMar Fortaleza

Novo Hamburgo

5 de agosto 2015 (quarta-feira)

Teatro Feevale

Porto Alegre

6 de agosto 2015 (quinta-feira)

Teatro do Bourbon Country