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Luc Besson: “Não é um filme de herói norte-americano, para mostrar a supremacia da América“, diz sobre Valerian

Redação Publicado em 10/08/2017, às 21h40 - Atualizado às 22h08

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Valerian e a Cidade dos Mil Planetas - Divulgação
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas - Divulgação

É o futuro como ele era visto no passado, mas de uma forma que poderia ser levada às telas no presente. O filme mais caro já feito na França, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é o bebê de Luc Besson (O Quinto Elemento, O Profissional). O diretor de 58 anos está envolvido com o universo da graphic novel Valérian and Laureline, criada por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, desde que tinha dez anos de idade, mas a tecnologia necessária para levar tudo à tela do jeito que ele queria só permitiu que o filme fosse realizado agora. Além disso, Besson sente que está no ponto certo da carreira para se envolver com algo assim. “Frescor e conhecimento. Existem esses dois momentos na vida de um cineasta”, ele explica durante a passagem por São Paulo para divulgar o longa. “Eu comecei com 19 anos, não sabia nada sobre fazer filme. Aí você vai se machucando, aprendendo, e ganha conhecimento. Tem um momento em que o frescor e o conhecimento estão igualados. Entrei nesse momento há um dois anos”, ele diz, analisando que foi aí que sentiu que era o momento de levar adiante algo tão épico. “Não é um filme de herói norte-americano, para mostrar a supremacia da América” diz ele, sempre crítico em relação à produção desse país dentro da sétima arte.

Crítica - Bombástico, mas previsível, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é um assalto aos sentidos

A série futurista Valérian and Laureline foi publicada entre 1967 e 2010 e o sexto livro, Ambassador of the Shadow, foi utilizado como base para o roteiro. O major Valerian (Dane DeHaan), um mulherengo sem foco, e a parceira dele, a sargento Laureline (Cara Delevinge), que mais atua como mãe dele, recebem uma missão e embarcam em um aventura que era para ser emocionante, mas cujo único ponto alto é a presença da cantora Rihanna encarnando uma extraterrestre chamada Bubble.

“Descobri Valérian quando tinha 10 anos. Só tinha um canal na TV, onde eu morava, e eu tinha uma vista para vacas e galinhas. Então meio que queria escapar”, conta. “Toda quarta, chegava uma HQ e dentro dela tinham 2 páginas dessa história totalmente diferente de tudo que já tinha visto. Eles se tornaram meus heróis favoritos. Me apaixonei pela Laureline. Era muito impressionante para uma criança acompanhar tudo que eles faziam”, relembra Besson. Ele ficou especialmente encantado com a força da protagonista feminina, que ia (e vai) na contramão da forma como mulheres são usadas em tramas de ficção científica. “Minha mãe me criou sozinha, sem reclamar. Sempre foi muito digna e forte. Foi a primeira mulher que vi. Aí teve a Laureline. Depois, assisti a filmes como os de James Bond e ficava meio ‘você está brincando, né?’ As moças só ficavam lá chorando e pedindo ajuda. Eu amo James, é um cara legal, mas não era assim que eu via as mulheres.”

Além da protagonista, outra mulher essencial para a trama é a corajosa e heroica Bubble, interpretada por Rihanna, que como já mencionado estrela uma das cenas mais vistosas – isso em um filme cujo grande destaque é ser estonteante visualmente. “Nem sabia que Rihanna era cantora”, declara Besson sem um pingo de constrangimento na voz. “Era só uma menina na seleção de elenco e ela foi a melhor no teste. Depois descobri o disco dela, é muito bom”, diz. “Ela precisava deixar de lado a coisa de ser popstar porque estávamos fazendo algo novo. Rihanna disse desde o começo que era novata e precisaria de ajuda, e eu estava lá para isso. O maior elogio que posso fazer a ela é que tudo era normal, trabalhou como todos os outros. A roupagem de cantora pop ficava do lado de fora, e é uma atriz nata.”

“Rihanna e Cara são duas mulheres maravilhosas”, complementa o ator Dane DeHaan, que foi só elogios para a coestrela do filme, que tem cada vez mais deixado a carreira de modelo de lado e investido na atuação. “Ambas deram duro demais, nunca vi algo assim. E elas fazem muita coisa ao mesmo, são prolíficas. Eu só consigo fazer uma coisa por vez”, ri.

No fim, a produção, apesar de cheia de tropeços, traz mensagens importantes para uma era dominada por presidentes como Donald Trump. A tal cidade dos mil planetas abriga criaturas de diversos mundos, todas vivendo em harmonia e compartilhando suas respectivas culturas. Em um exercício de tentar concluir que o mundo em que vivemos não é tão ruim assim, Besson e DeHaan aceitam o desafio de pensar em terráqueos que estariam aptos e seriam dignos de viver no local, batizado de Alpha. “Nelson Mandela, Charlie Chaplin”, diz o diretor, que depois pensa mais um pouco. “E Gisele [Bündchen]! Ela pode ficar lá o quanto quiser, tem passe livre.” DeHaan também faz suas escolhas: “Ghandi, Oprah, Stephen Hawking”, diz. “Já consigo vê-lo corrigindo o que todas as outras espécies falam, dando aulas”, complementa Besson, com um bom humor tido como raro na trajetória dele de divulgação de trabalhos diante da imprensa.