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Nirvana: exposição com mais de 200 ítens chega a SP contando a “história humana” da banda

“Histórias sobre o Nirvana viraram histórias sobre drama e suicídio”, diz curador de Taking Punk to the Masses, que sai de Seattle (EUA) pela primeira vez com o maior acervo relacionado a Kurt Cobain no mundo

Lucas Brêda Publicado em 07/09/2017, às 13h31 - Atualizado às 15h18

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Guitarra antiga de Kurt Cobain e imagem do Nirvana, ambos presentes na exposição sobre a banda, <i>Taking Punk to the Masses</i> - Divulgação
Guitarra antiga de Kurt Cobain e imagem do Nirvana, ambos presentes na exposição sobre a banda, <i>Taking Punk to the Masses</i> - Divulgação

Famosa tanto pela ascensão improvável quanto pelo fim trágico e prematuro, a trajetória do Nirvana é frequentemente confundida com a do seu líder, Kurt Cobain. “Muitas das histórias sobre o Nirvana viraram histórias sobre Kurt, drama e suicídio”, analisa Jacob McMurray, curador da exposição Taking Punk to the Masses, que reúne mais de 200 ítens de memorabilia da banda. “Isso é trágico e faz parte da narrativa, só que a história do Nirvana é também outra. Kurt e Krist [Novoselic] cresceram em Aberdeen e não tinham muita perspectiva na vida. Com talento e sorte eles conseguiram ser a maior banda do mundo.”

Quando organizou a mostra – que, depois de uma temporada no Rio de Janeiro, chega a São Paulo no dia 12 e fica na cidade por três meses – para o Museu de Cultura Pop de Seattle (MoPOP), McMurray quis contar a “história humana” do Nirvana. “[É] um processo estranho em que humanos tentam fazer algo ser maior que o humano”, ele teoriza. “Vemos isso com Kurt Cobain, ele virou uma figura maior. Eu queria realmente fugir disso”. Até por isso, Taking Punk to the Masses é repleta de fotos e objetos íntimos do curto período em que Cobain, Novoselic e Dave Grohl mantiveram o grupo. “Queria focar nesses caras, que eram como quaisquer outros moleques de 20 e poucos anos, só que vivendo aquela coisa animalesca. Gosto da ideia de que as pessoas possam ir até a mostra e se enxergar, se identificar naquilo.”

A exposição desembarcou no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro em junho, marcando a primeira saída dos Estados Unidos e, agora, chega ao Lounge Bienal, no Ibirapuera, em São Paulo, este mês. Montada inicialmente para permanecer em Seattle, Taking Punk to the Masses surgiu para retratar o momento musical mais importante da cidade: a onda grunge do começo da década de 1990. O foco foi mudando conforme o material foi sendo obtido e especialmente com ajuda de Novoselic, ex-baixista do Nirvana, que colocou McMurray em contato com a família de Cobain e com Dave Grohl.

O curador só não conseguiu o rico material – incluindo diários, cadernos e fitas com gravações caseiras – guardado pela viúva de Cobain, Courtney Love, e que foi base para o recente documentário Montage of Heck (2015). Ainda assim, McMurray se gaba por trabalhar com o “maior acervo relacionado a Cobain” do mundo. “Como eu não mostro umas coisas dessas?”, ele ri ao citar que teve que selecionar “apenas” cerca de 200 dos quase 500 ítens que havia reunido (veja alguns deles na galeria acima). “Para organizar, é um pouco a questão do ‘ovo e galinha’ com a relação ‘história e artefato’. Não há espaço [físico] para contar uma história completa, então é uma narrativa simplista que você tenta montar, valorizando o material.”

McMurray tem dois objetos favoritos da mostra. Um deles é a primeira guitarra que Kurt Cobain destruiu, uma Univox Hi-Flier, usada em outubro de 1988 – dias antes de o Nirvana lançar o primeiro single da carreira, “Love Buzz”, pela Sub Pop – em um show para cerca de 50 pessoas no dormitório da Evergreen State College. “Era a única guitarra que Kurt tinha e eu não acho que ele planejou destruí-la no meio da performance”, justifica. “Não é Jimi Hendrix ou The Who no auge, para milhares de pessoas, mas sim umas dezenas de pessoas em um dormitório. Não tinha dinheiro para pagar o aluguel, quem diria uma guitarra. Amo esse objeto.”

“Meu outro ítem favorito é uma carta de Buzz Osborne, do Melvins, escrevendo para Krist Novoselic e a namorada dele na época, Shelli, em abril de 1986”, segue McMurray, referindo-se ao período em que o casal ficou seis meses morando no Arizona. No texto, Osborne menciona uma demo que Cobain havia gravado com Dale Crover, baterista do Melvins. “Buzz descreve a fita, dizendo que algumas das músicas são muito boas, apesar da qualidade ruim de gravação. E, no fim, ele diz: ‘Acho que ele pode ter algum futuro na música, se continuar nessa toada’. Meu deus! É um daqueles comentários proféticos [risos], antes mesmo do Nirvana ser formado.”

Com Taking Punk to the Masses, o Brasil fica mais perto – fisicamente – de uma história que foi contada por discos, vídeos, livros e reportagens, mas raramente presenciada. “Quando fiz a exposição, pensei em um público de turistas e fãs do Nirvana visitando Seattle”, confessa McMurray. “Em um país diferente, as pessoas não têm o contexto, então entra um pouco na seara de ‘O que estava acontecendo na cena underground do Noroeste Pacífico’. Mas espero que o público fique animado em ver algo que eles só tinham acesso pela TV ou rádio. E percebam que a história desses caras é muito mais interessante que essa história mitológica do ‘Santo Cobain’ que transformaram o Nirvana.”

Nirvana: Taking Punk to the Masses em São Paulo

Entre 12 de setembro e 12 de dezembro

Horários: de terça a sexta, das 10h às 17h30; sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h

Lounge Bienal (Pavilhão Ciccillo Matarazzo) | Avenida Pedro Álvares Cabral, Portão 3 – Ibirapuera

Ingressos: entre R$ 25 (de terça a quinta) e R$ 35 (de sexta a domingo), com opções de meia-entrada, no site do Ingresso Rápido

Classificação: 16 anos