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Organização, pontualidade e bons shows no Motomix

Festival gratuito apresentou bandas de diferentes estilos para cerca de 6 mil pessoas em SP

Por Bruna Veloso Publicado em 29/06/2008, às 09h48 - Atualizado em 30/06/2008, às 13h50

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Ninja ganha o público à frente do The Go! Team - Divulgação
Ninja ganha o público à frente do The Go! Team - Divulgação

Organização, pontualidade e bons shows - o Motomix 2008 foi marcado pelos três quesitos, fazendo a alegria de uma platéia recheada de indies com roupas e óculos coloridos. Nesta edição, o festival também teve forte presença feminina: cinco dos seis grupos que se apresentaram eram liderados por mulheres.

Realizado em apenas um lugar, no Parque do Ibirapuera (no ano passado, a programação dividia-se em diferentes clubes da capital), o Motomix optou por palco ao ar livre e entrada gratuita. De acordo com a assessoria do festival, cerca de 6 mil pessoas estavam reunidas ao final do evento, em um local com boa infra-estrutura - banheiros em quantidade, iluminação bem arranjada e som de qualidade em todas as apresentações, com pouquíssimos problemas técnicos. Caçambas de entulho transformadas em jardins e um grande cubo negro, que ao anoitecer virou um telão de quatro faces, compunham o visual do lugar.

VEJA AQUI UMA GALERIA COM IMAGENS DOS SHOWS.

ASSISTA A TRECHOS DAS APRESENTAÇÕES DO THE GO! TEAM E DO METRIC.

Confira abaixo como foi o festival.

Venus Volts, às 15h

O Venus Volts abriu o palco pontualmente. Pouca gente havia chegado ao lugar, mas quem ouviu os vocais da tatuada Trinity parece ter ficado satisfeito. O rock animado da banda, calcado nas bases de guitarra sem muitas firulas de Pelle (que comanda os vocais em alguns momentos, como em "The Lover Was a Faker" e "Crucify and Burn Me") arrancou aplausos tímidos do povo que chegou cedo ao Parque do Ibirapuera. O quarteto encerrou a apresentação com a pesada "Hopeless Days", que começa barulhenta, sem o som do baixo.

Stop Play Moon, às 15h40

O Stop Play Moon faz eletro com pitadas de guitarra - não dá para chamar de eletro rock, já que o som extraído dos sintetizadores se sobressai em boa parte das músicas. Tanto que em faixas como "Huhu", primeira do show, a voz macia de Geanine Marques fica em segundo plano. É quando ela agradece o público que dá para perceber o timbre suave (meio sexy, meio ingênuo) da cantora.

Tendo dois ex-modelos em sua formação (Geanine e Paulo Bega, guitarra e sintetizadores), o grupo mostra preocupação com o figurino. Geanine aparece de vestido azul-bebê transparente na altura do colo e coberto por babados. Os rapazes (o designer Ricardo Athayde completa o trio, comandando sintetizadores, uma caixa de bateria e outros recursos de percussão) usam camisa e paletó.

O som de videogame cansa em alguns momentos - em "Take It All", a guitarra de Bega é quase uma salvação aos repetitivos efeitos dos sintetizadores. Em "Stranger", a voz de Geanine se destaca. A moça também ataca de guitarrista em "Hey", última do show.

Nancy, às 16h15

O sexteto brasiliense Nancy apresentou os sons mais etéreos e menos dançantes de toda a programação. A mescla de bases de guitarra pesadas, com um segundo instrumento fazendo solos sem distorção dá às músicas ares depressivos. A voz de Camila Zamith é perfeita para banda - suave, mas ao mesmo tempo forte e convicta, sem a necessidade de gritos ou outras estripulias vocais.

"Chaparral" foi seguida de "Keep Cooler", uma das três faixas disponíveis no MySpace do grupo. Em "Mamba Negra Fashion Week", o tecladista Ivan Bicudo utiliza uma escaleta (instrumento que parece um teclado em miniatura, com um bocal para sopro), lembrando de longe um acordeon. O show termina com "Sambora", anunciada por Camila como uma homenagem a Bell Marques (!), vocalista do Chiclete com Banana (a música é uma versão de "Vumbora Amar", composição de Carlinhos Brown que fez sucesso com o grupo baiano).

Fujiya & Miyagi, às 17h

O Fujiya & Miyagi abriu a seleção de bandas internacionais com o hit "Ankle Injuries". David Best repete diversas vezes o nome da banda, como que para fixar o grupo na mente do público. O telão começou a funcionar, exibindo um fundo de peças de dominó e, também, o título.

Formado inicialmente por Best, Steve Lewis (sintetizador e backing vocal) e Matt Hainsby (baixo e backing vocal), o grupo ganhou recentemente o reforço do baterista Lee Adams, que só tomou seu lugar no instrumento depois de passada mais da metade do show. O vocal sussurrado de David Best vai crescendo à medida em que as canções se tornam mais animadas, como em "Sore Thumb". Contido durante toda a apresentação, ele se solta quando arranca ruídos distorcidos da guitarra com a ajuda da alavanca e pressionando as cordas quase que em cima dos captadores. Fala pouco, mas demonstra estar feliz por tocar no Brasil, agradecendo inúmeras vezes em português. Anuncia a última música, avisando que a faixa é longa - "Electro Karaoke" durou quase nove minutos.

The Go! Team, às 18h20

Como nos CDs, não dá para entender muito do que a vocalista Ninja canta à frente do The Go! Team. Mas se ouvir o álbum em casa é cansativo pelo excesso de recursos sonoros (muita coisa junta e pouca distinção do que é tocado), o show ao vivo é animado, divertido e original.

O set list começa com "The Power is On", e instala-se a confusão - são duas baterias (que nem em todas as músicas são tocadas ao mesmo tempo), duas guitarras, baixo e mais uma série de sons sampleados. A guitarrista Kaori Tsuchida mostra uma voz infantil, como se cantasse em uma trilha sonora de desenho japonês. O público começa a se animar - dança, levanta os braços e bate palmas a cada música do grupo.

Ninja é uma atração por si só - não pára um segundo e aos poucos, conquista a platéia. Pula e fala entre as canções (arrisca um "obrigado"), cantando com jeito de MC, sem perder o fôlego. A moça (que segundo Edgar Picolli, apresentador do festival, era "mais brasileira que muita gente" ali) também toca bateria em "Fake ID", que na gravação original contou com a participação de Marina Ribatski, ex-Bonde do Rolê.

A mente criativa do sexteto é Ian Parton, que assim como os outros integrantes não permanece durante todo o tempo em apenas um instrumento - ele começa na bateria, passa pela guitarra e termina com uma gaita nas mãos. A correria para a troca de posição entre as músicas reforça o ritmo do The Go! Team: frenético, alegre e sem grandes preocupações técnicas. A quase balada "A Version of Myself", cantada pela baterista Chi Fukami Taylor, acalma os ânimos da plateía. Ninja comanda o público em "Doing It Right", sendo obedecida ao pedir que todos gritassem o "Do It" do refrão. Antes de terminar o show com "Keys to the City", ela diz que a platéia é ótima e promete a volta da banda ao Brasil.

Metric, às 19h45

Emily Haines cumpre bem o papel de musa indie diante do público, que grita a plenos pulmões ao ouvir sua banda ser anunciada. Agora, a frente do palco está completamente lotada, comprovando que muita gente foi ao parque especialmente para conferir o grupo canadense.

A banda abriu o show com a animada "Dead Disco", do CD de estréia, Old World Underground, Where Are You Now? (2003). Em "The List", Emily começa cantando com o microfone mais alto do que a boca, lembrando Liam Galagher, do Oasis, e termina agradecendo em português.

Ela fica boa parte do tempo junto ao sintetizador, mas vez ou outra larga o aparelho e chega mais perto da ponta do palco, para satisfação dos que queriam uma boa foto de uma das mulheres mais bonitas do rock atual, segundo leitores da Rolling Stone EUA. De macacão curto de vinil roxo, Emily emenda uma música atrás da outra, dando tempo apenas para as longas sessões de gritos e aplausos.

A conhecida "Poster of a Girl" precedeu "Satellite", que deve estar no próximo álbum, com lançamento previsto para setembro. Antes de "Handshakes", Emily resolve interagir com a platéia pela primeira vez. "SÃO PAULO! Estamos muito felizes. Curtam o show, curtam a cidade...Vocês têm sorte". Em "Rock Me Now", ela pede que todos cantem o "Uh uh", e quando o povo se anima e começa a bater palmas, ordena: "More singing, less claping!". As palmas cessam.

Antes do bis, Emily mostra a voz doce que a consagrou no mundo do rock alternativo em "Combat Baby", cantada em coro. Todos gritam pela volta da banda (único pedido de bis durante todo o festival). Quando ela reaparece no palco, faz charme - "Não pareceu que vocês iam ligar se nós não voltássemos...". O retorno tem direito a um trecho de "Parabéns a você" em inglês, depois que Emily revela o aniversário do baterista Jules Scott-Key. "Stadium Love" (também do disco novo), "Monster Hospital" e "Live It Out" fecharam o show - uma pena terem ficado de fora as ótimas "Too Little Too Late" e "The Police and the Private", ambas de Live it Out (2005).