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"Ouvir The Doors é como fumar o primeiro baseado", disse Ray Manzarek à Rolling Stone Brasil

Tecladista da banda morreu nesta segunda, 20, aos 74 anos; leia entrevista

Paulo Cavalcanti Publicado em 20/05/2013, às 19h59 - Atualizado às 21h29

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Ray Manzarek morreu aos 74 anos nesta segunda, 20 de maio - AP
Ray Manzarek morreu aos 74 anos nesta segunda, 20 de maio - AP

Morreu nesta segunda-feira, 20, aos 74 anos, o tecladista e fundador do The Doors, Ray Manzarek. Ele estava em Rosenheim, na Alemanha, e passou por uma intensa e longa batalha contra um câncer do ducto biliar. A notícia foi dada pelo Facebook oficial do The Doors.

A página anunciou que, no momento da morte, ele estava cercado pela esposa, Dorothy, e pelos irmãos Rick e James. Manzarek estava internado no hospital RoMed Clinic.

“Fiquei muito triste ao saber da morte do meu amigo e companheiro de banda hoje", disse Robby Krieger, guitarrista do Doors, em um comunicado oficial. "Sou grato por ter tocado músicas do Doors com ele pela última década. Ray era uma enorme parte da minha vida e sempre sentirei saudades dele.” Saiba mais.

Ray Manzarek conversou com a Rolling Stone Brasil em 2010, à época do lançamento da biografia The Doors por The Doors, de Ben Fong-Torres (Editora Agir). “Ouvir The Doors é como fumar o primeiro baseado”, afirmou. Leia a entrevista abaixo:

Veja fotos da carreira de Ray Manzarek.

Existem inúmeros livros sobre o The Doors. O que The Doors Por The Doors traz de novo?

Sem dúvida é o livro definitivo sobre a banda. Pela primeira vez conseguimos juntar todas as informações e opiniões sobre o The Doors e dar uma cara objetiva. A verdade está aqui. Tivemos a sorte de trabalhar com o nosso amigo Ben Fong-Torres e ele foi primordial em organizar mais de 40 anos de memória. Torres é um cara que pode seduzir pelas palavras, por isso ele foi o cara ideal para amarrar o livro.

Hoje Jim Morrison é um ícone. Mas deixando isso de lado, como você se lembra dele?

Eu não lembro desse Jim Morrison que estampa camisetas. Eu lembro do meu amigo, do cara com quem estudei cinema, que andava na praia comigo viajando em ácido e falando de cinema e poesia. O cara com quem eu fundei uma banda de rock e com que eu dividia os quartos de hotel durantes as turnês.

Fale um pouco do infame show de Miami em 1969, quando Jim Morrison foi acusado de mostrar seu órgão sexual em pleno palco.

Bom, Miami foi uma espécie de alucinação coletiva. O público acreditou naquela coisa do "Rei Lagarto", que Jim Morrison era um ser dionisíaco que conduzia as massas para orgias. Mas ninguém apresentou nenhuma evidência, nunca apareceu uma foto de Jim mostrando o órgão sexual. Eu estava lá no palco ao lado dele, não vi nada. É que aconteceu em Miami, terra natal de Jim, no sul dos Estados Unidos, um lugar muito conservador. Jim ficou muito magoado de todas essas acusações terem partido justamente do local onde ele nasceu. A curto prazo isso nos prejudicou. Ninguém mais queria nos contratar, muitos promotores tinham medo que Jim "repetisse a dose".

E o documentário When You're Strange? O que achou dele?

Para mim, é o complemento ideal para o livro. É narrado pelo Johnny Depp, o que pode ser mais cool do que isso? Falando sério, é o melhor registro visual sobre o The Doors. Acho que Tom DiCillo, o diretor, soube mostrar bem o outro lado de Jim, enfatizando seus interesse por poesia, literatura, cinema e teatro. E tem muitas cenas raras da banda, também.

Por que você acha que ainda existe tanto interesse em torno do The Doors?

A banda representa duas coisas: verdade e liberdade. Fizemos a música da geração que cresceu nos anos 60 e quebrou as barreiras políticas, sociais e sexuais. Presenciamos um monte de revoluções comportamentais. A banda marcou aqueles tempos em que a guerra do Vietnã comia solta e Martin Luther King era assassinado... Ouvir The Doors é como fumar o primeiro baseado.

O adeus de Jim Morrison: leia a reportagem de capa da Rolling Stone EUA, publicada logo após a morte do cantor.