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Para diretor do Spotify, produto não “canibaliza” a indústria fonográfica

“As pessoas não estão deixando de comprar CD ou fazer um download para usar o serviço”, diz Gustavo Diament

Pablo Miyazawa Publicado em 28/05/2014, às 20h18 - Atualizado às 20h44

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Gustavo Diament - Divulgação
Gustavo Diament - Divulgação

O serviço de música por streaming Spotify está disponível oficialmente no Brasil desde a manhã desta quarta, 28. Chegando a um mercado já habitado por produtos semelhantes como Deezer e Rdio, a empresa sueca anunciou o início das atividades no mercado nacional oferecendo um catálogo de mais de 30 milhões de músicas a um custo de US$ 5,99 mensais – o valor da assinatura, adaptado para a moeda local, será de R$ 14,90.

Na entrevista a seguir, Gustavo Diament, o diretor geral do Spotify para a América Latina, falou sobre as metas da empresa para o país, celebrou a maior aceitação do público brasileiro aos serviços de conteúdo por assinatura e relativizou críticas em relação à baixa remuneração dos artistas. “O faturamento que o Spotify gera é incremental. Não é uma canibalização de um faturamento que existe hoje”, diz.

O Spotify chegou agora a um país que já tem outros serviços semelhantes em funcionamento. Você acha que no Brasil o mercado do streaming de música irá se comportar como o segmento das redes sociais? Ou seja, só haverá espaço para o domínio de uma única empresa?

Eu diria que hoje isso é pouco relevante para nós. O importante é que o mercado de streaming seja maior. Hoje, o mercado legal é muito pequeno, e qualquer player que o ajude a crescer é mais do que bem-vindo. Aqui, nosso objetivo continua a ser o mesmo: crescer o mercado, e ser líder, como somos hoje globalmente.

Obviamente o Spotify pretende buscar todo tipo de público no Brasil. O usuário que hoje escuta músicas principalmente por vídeos de YouTube seria um dos focos principais da empresa?

Totalmente. A nossa estratégia para ir atrás de cada público é a mesma. Temos um produto tridimensional – ou seja, com três pilares para oferecer. O primeiro é a personalização através de algoritmo: quanto mais você usa o serviço, mas ele te conhece e mais ofereceremos a música certa na ocasião certa. Outro ponto é o editorial, da curadoria manual: você não precisa estar ativamente procurando a música que quer, já que temos playlists prontas para todas as ocasiões. O terceiro pilar é o social, de um seguir o outro, seguir as pessoas que se admira e perceber que os gostos dos outros têm a ver com o seu. Esta combinação faz com que nossa oferta de streaming de música seja bastante poderosa.

Você acha que o comportamento do brasileiro já é amigável em relação à ideia de pagar assinatura por serviços de conteúdo? Aparentemente, a boa performance do Netflix é um sinal disso.

Eu ia exatamente fazer a ponte com o Netflix, que apesar de trabalhar com outro tipo de mídia, mostrou que o brasileiro está sim, disposto a pagar por conteúdo, desde que seja um produto de qualidade e de um jeito que julgue acessível. É muito menos uma questão de o brasileiro não estar disposto a pagar, e mais sobre quais possibilidades estão disponíveis no mercado. Então eu não diria que o brasileiro seja menos predisposto a pagar por conteúdo do que outras pessoas - é mais uma questão de ele ter conhecimento sobre as plataformas que estão disponíveis para ele.

É claro que temos o benefício de ter um modelo de negocio híbrido. Então para quem não estiver disposto a pagar, é possível a entrada na [versão] “grátis”. E a gente acredita que a nossa experiência grátis hoje é melhor do que a experiência ilegal de música. Quem não quiser pagar é tão bem-vindo quanto quem está disposto a pagar.

Nos últimos tempos, o Spotify se acostumou a receber críticas de personalidades, como Thom Yorke, do Radiohead (leia aqui). Também acontece de o serviço nem sempre ser aceito de braços abertos por artistas mais tradicionais, como foi o caso com AC/DC, Pink Floyd e Led Zeppelin. Acha que o Spotify é hoje um alvo fácil de críticas?

Como líder do segmento, é claro: quando vão criticar a categoria, o alvo é quem estabeleceu a categoria. A gente adora o Thom Yorke e o Radiohead. Aliás, a opinião é do Thom Yorke, e não do Radiohead. Esse tipo de manifestação é supernormal. A gente ainda está no começo do mercado de streaming no mundo. Está começando. É um modelo de negócio novo, que remunera diferente, que fala de “long time value”, que as pessoas ainda precisam entender mais como funciona. O que precisam entender – e muita gente já entende - é que este é um faturamento incremental para a indústria da música. E que o que fazemos é um trabalho muito sério de relacionamento com esses artistas, gravadoras e distribuidores de conteúdo, para que cada vez mais pessoas conheçam e abracem esse modelo. Você citou o Led Zeppelin, que finalmente entrou [no Spotify], depois de muita resistência, inclusive com exclusividade por seis meses.

Lembrando que o iTunes gerou muito barulho quando começou, anos atrás. E depois de um tempo, os artistas passaram a aderir. Acreditamos que seja perfeitamente normal que esse movimento também aconteça no nosso modelo de negócio.

Outra reclamação recorrente sobre o Spotify diz respeito à baixa remuneração do artista a cada vez que uma música é tocada. Você acha que essa é uma critica justa?

Toda a evidência que temos, e com o apoio da indústria da música, é que o faturamento que o Spotify gera é incremental. Não é uma canibalização de um faturamento que existe hoje. As pessoas não estão deixando de comprar CD ou fazer um download para usar o Spotify. Pelo contrário. Por não ter que pagar por cada álbum ou single que vai se escutar, você terá mais experiências, e conhecendo mais, irá a mais shows, comprará mais artigos relacionados à música e, eventualmente, dará mais downloads, que é o que aconteceu na Suécia, onde 70% do faturamento da indústria já vem do Spotify. O argumento é, sem dúvidas, esse: a gente monetiza algo que não era monetizado antes.

Você crê que o sucesso do Spotify represente que estamos em um caminho sem volta no que diz respeito à longevidade da mídia física para o consumo de música?

Eu realmente acredito que o Spotify seja complementar. Acho que as massas vão sim, adotar o streaming, mas sempre vai existir espaço para os outros formatos. E acredito que sim, esse é o futuro não só da música, mas de consumo de mídia em geral. E quando falo em streaming, eu me refiro a isso: a predominância do “acesso” versus a ideia de “propriedade” do conteúdo. É um caminho sem volta, de verdade, mas é um caminho que já estava acontecendo por vários outros meios. O Spotify veio trazer um produto melhor e uma maneira legal de isso acontecer.