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Mais de 30 anos após ser identificada, AIDS deixou de ser um monstro, mas ainda é motivo de preocupação

Dados mostram que regiões Norte e Nordeste e o Rio Grande do Sul são focos de crescimento da doença

Lucas Borges Publicado em 04/06/2015, às 17h20 - Atualizado em 08/06/2015, às 14h50

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A - Reprodução/vídeo
A - Reprodução/vídeo

Muita coisa mudou desde o início da epidemia de AIDS, no começo da década de 1980. Naquela época, o vírus HIV ainda era tratado no Brasil como um problema dermatológico devido à forte manifestação física da doença e à grande incidência de casos de câncer de pele entre os infectados.

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Através de relações sexuais, transfusões sanguíneas ou compartilhamento de drogas por seringas, muita gente foi vítima do mal por desinformação. Nem mesmo celebridades (Cazuza, Renato Russo, Betinho, Henfil, Freddie Mercury, Magic Johnson) foram poupadas.

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Apenas em 1985 o HIV foi identificado e a partir daí, testes que diagnosticavam a doença passaram a ser feitos. Descobriu-se um primeiro medicamento combativo, o AZT, e em seguida, os coquetéis. A queda de mortalidade da AIDS diminuiu progressivamente e hoje, é possível sobreviver e viver normalmente com o vírus.

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"Eu passei a vida tomando quatro comprimidos por dia. Nesse ano, comecei a usar o comprimido único, tecnologia que foi incorporada agora no Brasil. Isso facilita muito a vida. Ajuda na adesão, no tratamento, na forma como se desenvolve as relações. Lembro da minha mãe me perguntando se eu tomava 20 comprimidos por dia. É um estigma que permanece de antigamente. Mas o portador de HIV já poder ter uma vida longa, fazer planos, trabalhar e sonhar", conta Diego Callisto, bacharel em Relações Internacionais, portador de HIV e militante da luta pela conscientização de jovens a respeito da doença.

A medicina tornou a vida dos infectados mais prática e eficiente e passou a olhar adiante. Tratamentos antirretrovirais permitem que uma pessoa doente diminua a carga viral no próprio corpo, tornando impossível a chance de passar o HIV adiante para futuros filhos, por exemplo.

A profilaxia pós exposição, antes usada para profissionais da saúde em períodos de 28 dias para evitar que os mesmos contraíssem AIDS, foi estendida para casos de violência e acidente sexual. Estudos já analisam o uso da profilaxia pré-exposição, que poderia ser ingerida antes da relação sexual.

Pioneiro na distribuição pública de medicamentos e preservativos contra a AIDS e da quebra de patente de remédios, o Brasil também se se beneficia de tais avanços. Porém, até mesmo aqui a doença segue sendo motivo de preocupação.

"Ainda existem muitos desafios, não é uma luta terminada. É preciso fazer diagnósticos em quem tem HIV e não sabe, estimamos que sejam 150 mil pessoas nessa situação. Por isso fazer o teste é uma questão importante. Uma coisa que também nos chama atenção atualmente é o crescimento do vírus entre a juventude. E tem os desafios estruturais, como a homofobia, que é grande no país, transfobia - e a população de gays tem risco acrescido. O Brasil tem uma política de drogas que trabalha muito mais a criminalização do que a questão de saúde, por exemplo", diz Fábio Mesquita, diretor de departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério da Saúde, desde 1987 no ramo.

"No ano passado, foi aprovada a Lei 12.984, que torna crime a discriminação e o preconceito contra portadores de HIV. Precisamos avançar no campo dos direitos humanos também. Por muitos anos as pessoas com vírus HIV foram discriminadas, vários serviços de carreira pública pedem testagem compulsória, o que é lamentável, na escola ou em empresas privadas existe exclusão", lembra Callisto.

Os últimos dados nacionais, atualizados até dezembro de 2013, estimam que existam 720 mil pessoas com HIV no Brasil, das quais 570 mil sabem que estão doentes. Mais de 400 mil pacientes estão em tratamento e a taxa da supressão da carga viral – quando o vírus não está circulando no corpo da pessoa e não pode ser transmitido - é de 88%.

Segundo Mesquita, o Norte - especialmente Amazonas - e o Nordeste são as regiões mais alarmante do país. Mas o risco também está no restante do mapa. "O Rio Grande do Sul tem o dobro de casos do resto do Brasil e Porto Alegre tem uma taxa de transmissão vertical, de mãe para filho, que é cinco vezes a taxa de transmissão do resto do Brasil", explica o especialista.