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Política Nacional - A Luta Solitária de Jean Wyllys

Por Carlos Juliano Barros Publicado em 09/08/2011, às 14h51

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Daryan Dornelles
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Leia abaixo um trecho da matéria publicada na edição 59 da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de 9 de agosto

Jean Wyllys caminha apressado pelos subterrâneos do Congresso Nacional, em Brasília. Apesar do passo apertado, ele discorre pacientemente sobre os detalhes da arquitetura daquele ambiente gasto pelo tempo. Primeiro, brinca sobre o "ninho de ácaros": o roto carpete verde que reveste o chão e as paredes do túnel que conecta o Anexo IV da Câmara dos Deputados - prédio em que se localiza seu gabinete - ao coração propriamente dito do poder legislativo brasileiro. Passando pelo também acarpetado hall do plenário, aponta para um discreto painel de azulejos brancos e azuis que enfeita o espaço, de autoria do artista plástico Athos Bulcão. É ali que jornalistas de toda sorte fazem plantão à espera de declarações dos políticos. Estamos nos dirigindo para uma reunião da Frente Parlamentar LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Antes de chegarmos ao destino final, porém, há uma ligeira pausa para uma foto com uma fã e para a assinatura de um requerimento a favor da ampliação da licença-maternidade para mães com filhos recém-nascidos internados em hospitais. Wyllys tomou posse há apenas seis meses, mas parece à vontade na pele de deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro. Definitivamente, ele não dá a entender que está a passeio pelo Congresso Nacional.

Jean Wyllys é um daqueles fenômenos inesperados e necessários da política que, em um futuro não muito distante, serão assunto recorrente da literatura e do cinema. "Outro dia", ele recorda, "o deputado José Antônio Reguffe (PDT-RJ) me disse: 'Você tem noção de que já deu o seu recado?' Eu sei que já escrevi meu nome na história, mesmo que este seja meu único mandato." Tudo porque Wyllys resolveu assumir para si uma bandeira que a maioria de seus colegas parlamentares tem medo (ou vergonha) de hastear publicamente: a defesa dos direitos civis de LGBTs. Um verdadeiro tabu que, "nunca antes na história deste país" - para usar a expressão imortalizada pelo ex-presidente Lula - havia sido enfrentado tão visceralmente por um parlamentar brasileiro.

Em apenas um semestre de mandato, Jean Wyllys já é provavelmente o mais autêntico e influente porta-voz do movimento gay do Brasil. Por um acidente da história, porém, ele não pode reivindicar o posto de primeiro homossexual assumido a se eleger deputado.

"Antes de mim, teve o Clodovil [Hernandes]", ele comenta. "Mas ele não encampava a luta do movimento, pelo contrário. Em entrevistas, era radicalmente contra as paradas gays...". Wyllys interrompe o raciocínio, como se quisesse encontrar as palavras certas. "O deputado Clodovil não oferecia perigo, compreendeu? O problema é chegar aqui e reclamar por direitos." Foi justamente por rechaçar o estereótipo da "bicha afetada que só se liga a futilidades" que ele entrou em rota de colisão com os setores mais intolerantes da sociedade brasileira.

Apesar de ser um dos deputados de maior evidência da atual legislatura, elogiado por colegas dos mais diversos partidos, ainda é impossível dissociar a trajetória de Jean Wyllys do reality show Big Brother Brasil e de todos os preconceitos que esse capítulo de sua vida pública implica. Ele nasceu em 10 de março de 1974 na periferia de Alagoinhas, cidade modesta do interior da Bahia - a mãe escolheu "Jean" e o pai apelou para o complemento "Wyllys", em homenagem à fábrica de jipes que tanto admirava. Inimigo do futebol e leitor voraz desde a infância, fez faculdade de jornalismo e mestrado em linguística. Até ser selecionado para a quinta edição do programa televisivo que revolucionaria sua vida, colaborava para a grande imprensa de Salvador e trilhava carreira acadêmica como professor de cultura brasileira em uma faculdade particular. Depois de superar os paredões e faturar seu primeiro milhão de reais em 2005, Jean deu nova guinada e realizou o sonho da casa própria em Copacabana, no Rio de Janeiro, bairro que em sua opinião sintetiza exemplarmente a capital carioca. "Copacabana tem um ar meio décadence avec élégance. Não tenho paciência para Ipanema, Leblon", diz.