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"Queremos ser os primeiros a tocar no Bataclan", dizem fundadores do Eagles of Death Metal

Banda de Josh Homme e Jesse Hughes se apresentava em Paris quando terroristas invadiram a casa de shows e mataram 89 pessoas

Redação Publicado em 26/11/2015, às 10h29 - Atualizado às 12h28

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Eagles of Death Metal - home - Divulgação
Eagles of Death Metal - home - Divulgação

Foi divulgada na íntegra a primeira entrevista dos integrantes do Eagles of Death Metal após o atentado terrorista cometido durante um show da banda, em 13 de novembro, na casa de shows Bataclan, em Paris, que deixou 89 mortos. Bastante emocionados, os músicos relataram com detalhes à Vice os momentos de terror presenciados por eles e garantiram: o grupo não vai acabar depois deste grande trauma.

Artistas prestam homenagens as famílias e as vítimas dos ataques terroristas em Paris .

“Posso estar assustado, mas não vejo a hora de voltar a Paris, não vejo a hora de voltar a tocar. Quero ser a primeira banda a tocar no Bataclan quando o local reabrir”, diz Jesse Hughes em depoimento, ao lado do outro fundador do conjunto, Josh Homme, líder do Queens of The Stone Age. Ambos concordam que a turnê de shows da banda precisa continuar.

Eagles of Death Metal volta aos Estados Unidos após atentado durante show da banda em Paris.

Homme, que não costuma se apresentar ao vivo com o Eagles of Death Metal, não estava em Paris no dia 13 de novembro. Ele foi a primeira pessoa a ser avisada pelos seus companheiros do que havia acontecido. “Eu estava no estúdio e recebi uma mensagem que não fazia sentido”, conta Homme, mostrando ao entrevistador o conteúdo da mensagem no telefone celular: “Todo mundo foi baleado, eles fizeram reféns, eu estou cheio de sangue”.

Conheça a banda Eagles of Death Metal, que se apresentava em Paris quando ataque terrorista aconteceu.

“Levou um instante para eu acreditar que tudo aquilo estava acontecendo e ainda não havia nenhuma notícia. Fui imediatamente para o nosso escritório para começar a fazer qualquer coisa que pudesse para trazê-los de volta.”

Os componentes da banda acabaram tomando rumos diferentes assim que ouviram os primeiros disparos dos terroristas. “No começo eu achei que era o amplificador dando problema e então eu percebi bem rápido que não era isso. Nesse momento, Jesse correu até a mim e ficamos no canto do palco. Não sabíamos se eles estavam mirando na gente. Uma pessoa da equipe da banda viu um dos atiradores recarregando sua arma e alertou para que todos corressem do palco. Descemos até a porta de saída que fica em rua pequena. Os garotos do público nos viram e nos ajudaram bastante: ‘Venham por aqui, venham por aqui”, lembrou Eden Galindo, guitarrista.

Assista à entrevista na íntegra:

“Eu estava em uma sala sem saída e vi os clarões dos disparos. Meio que me joguei no chão e tinha que decidir se ia atravessar o palco ou esperar nessa sala e torcer pelo melhor. Tinha bastante gente se ajudando para chegar até lá, gente sangrando e as pessoas começaram a colocar cadeiras para impedir que a porta fosse aberta. Nós tínhamos uma garrafa de champanhe no camarim, colocada ali para tomarmos depois show, era a nossa única arma. Estávamos preocupados que o sangue das pessoas escorresse para fora da sala e chamasse atenção dos terroristas. O tiroteio ficou mais próximo e durou mais uns 15 minutos. Parava e havia uma sensação de alívio e aí começava de novo. Houve uma explosão e achávamos que queriam explodir o lugar todo”, descreveu o baixista Matt McJunkins.

Jesse Hughes diz ter ficado cara a cara com um dos atiradores. “Eu corri até uma porta no corredor procurando pela minha namorada e vi um dos atiradores. Ele se virou até a mim, pegou a arma e bateu na porta. Eu pensei, ‘caralho!’. As pessoas estavam me seguindo e eu disse: ‘Não, não venham por esse lado’. As pessoas ficavam paradas e não sabiam o que fazer”. Ele acabou encontrando a namorada assim que conseguiu sair do local.

O engenheiro de som Shawn London conta ter ficado na mira dos terroristas. “Eles entraram pela porta e começaram a atirar atrás de mim, dois deles, aleatoriamente. Instantaneamente, as pessoas começaram a se jogar no chão. Não tinha para onde ir, então, as pessoas corriam e se jogavam embaixo do meu equipamento. Eu ainda estava de pé e conseguia ver os atiradores. Um deles olhou diretamente para mim, atirou e errou, acertou meu equipamento. Na hora eu cai. Acho que ele pensou que eu tinha sido alvejado. Tinha sangue por todo lado. Ele continuou atirando, gritando ‘Allahu Akbar’ (‘Deus é grande’). E nessa hora eu percebi o que estava acontecendo. Tinha uma menina atrás de mim com o tórax e a perna feridos e eu tentava falar para ela não fazer barulho, para não atraí-los”. Ele correu com outras pessoas pela porta da frente do Bataclan sob fogo dos terroristas e conseguiu se safar.

O britânico Nick Alexander, que acompanhava os músicos vendendo produtos da banda, não sobreviveu – “Nick protegeu um amigo dele”, disse Homme. Thomas Ayad, Marie Mosser e Manu Perez, da gravadora do grupo, também não conseguiram escapar com vida.

Homme acredita que o Eagles of Death Metal deve aproveitar a situação para angariar fundos em nome das vítimas do atentado. Ele já começou a pedir doações por meio de sua entidade beneficente, a Sweet Stuff Foundation. Durante a entrevista à Vice, os músicos aproveitaram para fazer um novo convite aos interessados em ajudar.

Fãs franceses colocaram o cover de “Save a Prayer”, do Duran Duran, feita pelo Eagles of Death Metal, no topo das paradas e os recursos gerados beneficiaram as pessoas afetadas pela tragédia. O grupo também convocou artistas a fazerem covers ou a reproduzirem a faixa “I Love You All”, de autoria deles, cujos valores arrecadados terão o mesmo destino.

“Nós representamos os fãs que não sobreviveram, cujas histórias talvez nunca sejam conhecidas”, encerra Homme. “Eu gostaria de me encontrar com os pais dessas pessoas, me ajoelhar e dizer: ‘O que vocês precisarem, é só pedir’. Porque não há muito que eu possa dizer. Vai levar muito tempo até que alguém entenda o que fazer, o que aconteceu.”