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Resenha: U2 fala de mortalidade e esperança em Songs of Experience

Novo disco é a esperada sequência de Songs of Innocence (2014)

David Fricke Publicado em 01/12/2017, às 19h07 - Atualizado às 19h26

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Capa do disco <i>Songs of Experience</i> (2017), do U2 - Reprodução
Capa do disco <i>Songs of Experience</i> (2017), do U2 - Reprodução

“Nada pode evitar que este seja o melhor dia de todos”, Bono declara em “Love Is All We Have Left”, logo no começo de Songs of Experience, que dá sequência ao elogiado Songs of Innocence (2014). Mas a interpretação do cantor nos intriga por se mostrar “com o pé no freio”: parece uma prece cautelosa ou um desejo frágil, suspenso sob um toque da guitarra de The Edge e pela grave tensão do baixo de Adam Clayton.

O cantor usa a bravata em “Lights of Home”: “Mais um empurrão eu nasço novamente”, ele canta, com o verso reforçado pela guitarra de blues executada por The Edge e pela batida rock/hip-hop de Larry Mullen Jr. Na canção, o cantor também reconhece a mortalidade: “Eu não deveria estar aqui. Deveria estar morto”, ele admite logo na primeira frase. Trata-se de uma alusão a um acontecimento recente, que não foi divulgado em detalhes, mas que o guitarrista The Edge falou ter sido “muito sério”.

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Se em Songs of Innocence a banda mais esperançosa do rock olhava vigorosamente para o passado, especificamente para a época em que eles eram sonhadores vivendo sob as raízes punk na Dublin dos anos 1980, Songs of Experience retrata outra realidade destes músicos que já chegaram a meia-idade. Eles já não têm mais todo o tempo do mundo.

Esta urgência amarra e propulsiona o mosaico de Songs of Experience; o começo sinistro e hesitante em “Love Is All We Have Left”; o nascer do sol em “You’re the Best Thing About Me” e a súplica psicodélica em “Summer of Love”, com alusões a uma Síria devastada. Da mesma forma que aconteceu em Songs of Innocence, a banda usa diversos produtores para dar mais cor ao trabalho. Dentre eles está o sempre confiável Steve Lillywhite. Assim, o álbum também tem reflexos de coisas do passado. “The Blackout” abriga as contradições de Pop (1997), com noites de embalo trombando com o apocalipse; “The Little Things That Give You Away” resgata ecos de The Joshua Tree (1987).

As mudanças de dinâmicas sonoras e de atmosferas emocionais causam um efeito cumulativo em “Get Out of Your Own Way” e “Red Flag Day”. São faixas que detalham ganhos, perdas e também falam de coisas que ficaram para trás sem serem realizadas. Repleta de guitarras metálicas, “American Soul” é uma carta de gratidão às raízes musicais norte-americanas que impulsionaram o U2 a seguir em frente. A gravação ainda traz a participação de Kendrick Lamar, em uma espécie de sermão cauteloso. Outras canções também falam de lar e da dívida que a banda tem com suas famílias e da fidelidade que todos devotam a banda.

Songs of Experience termina como começa: com um sussurro. “13 (There Is a Light)” também marca uma volta à inocência, repetindo o refrão já apresentado em “Song for Someone”, do álbum anterior. Mas se esta última era uma carta aberta de amor a Ali, esposa do cantor, “13”, na verdade, é uma renovação dos propósitos que Bono ainda tem na música, na arte de escrever canções e de depois tocá-las no palco. A experiência do U2 nos ensinou que cada nova canção da banda irlandesa ainda pode soar como o primeiro dia do resto de nossas vidas. Songs of Experience é o som deste tipo de inocência renovada.